Predadores da Inocência
Desde
o último dia 06, o Brasil tem conhecimento do vídeo elaborado pelo youtuber
Felca demonstrando como é fácil pessoas de má intenção encontrarem, produzirem
e compartilharem material abusivo sobre nossas crianças e adolescentes na
internet. Ele mostrou a rede sórdida que se forma em torno disso, mostrou pais
que adultizam e super expõe menores, inclusive de forma sensual, em nome da monetização,
criando um universo de horrores e exploração, capaz de roubar a inocência e a
dignidade dessas crianças. Algo horroroso, sujo, nojento e intragável.
As
crianças são o nosso maior patrimônio, a nossa maior riqueza. Não se negocia
sua dignidade, não se monetiza sua inocência, não se as expõe sob nenhuma
condição. É nosso dever cuidar delas. Precisamos ser guardiões de sua
inocência, promotores de seu desenvolvimento, protetores de sua dignidade. E
inimigos eficazes dos predadores de plantão.
Jesus
sempre defendeu as crianças e com elas se identificou: "Quem acolhe ainda
que seja apenas uma dessas crianças em meu nome, a mim acolhe" (Mateus 18,
5). No seu tempo a criança era desprezada, a ponto do Talmude (coletânea de
livros sagrados dos judeus) ensinar que "a unha dos pais é mais importante
que o estômago dos filhos" (Berakot r. 45.8). Até chegar aos treze anos,
os filhos não tinham nenhum valor, eram considerados ainda sem razão (Sabedoria
12,24), tolos (Sabedoria 15,14) com quem era inútil conversar (Pirquê Abôth
3,10). Jesus, ao contrário, repetia: "Deixem vir a mim as criancinhas e
não as impeçam" (Mateus 19, 14). Certa vez, Jesus fez uma severa
advertência: “Não desprezeis as crianças, pois eu vos digo que os seus anjos
nos céus vêem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus” (Mateus 18, 10). De acordo com a tradição judaica, havia uma
hierarquia na corte divina, e apenas sete anjos estavam perto de Deus para
servi-lo (1 Enoch 40.1-10). Assim sendo, Jesus afirma que as crianças são íntimas
de Deus: quem as despreza, despreza Deus. E quem as violenta não ficará impune
diante do Pai do céu. Pagará caro, prestará constas de tudo, será punido sem
defesa, tendo os anjos como seus acusadores.
Se
não ficarão impunes diante de Deus, também não devem ficar impune diante de
nós. Precisamos vigiar, proteger e denunciar toda ação suspeita contra nossas
crianças. Qualquer ameaça deve ser contida imediatamente, denunciada e afastada
para bem longe.
Precisamos
evitar toda superexposição nas redes sociais, toda adultização de nossas
crianças e adolescentes e todo exagero de tempo nas redes sociais. Entendamos
de uma vez por todas que, sim, a internet pode ser um beco sem saída, um antro
de predadores da infância, uma droga viciante e uma atividade entorpecente. Não
deixemos nossas crianças expostas às telas demasiadamente e, sobretudo,
sozinhas. Cuidemos das roupinhas, das maquiagens e fotografias. Cuidemos das músicas,
das danças e brincadeiras e do vocabulário sensual e monetário, como tão bem o
vídeo do Felca demonstra. Senão, nós mesmos seremos acusados pelos anjos desses
inocentes.
O
mandamento do Senhor é que acolhamos e ofereçamos toda dignidade e guarida às
crianças; que as nutramos com o carinho, com o respeito, com a fé e com tudo o
que precisam; que, se alguém se levantar contra uma criança, seja expondo-as
demais ou de qualquer outra forma, temos de defendê-las como Jesus as defendeu.
Onde houver uma criança em perigo, todos nós somos responsáveis. Precisamos ser
uma comunidade alerta para protegê-las, uma comunidade unida e atenta. Os
predadores da inocência estão em todo lugar.
Pe. Nildo Moura de Melo OSFS
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