Padre Nildo Moura de Melo, OSFS

“Eu vos anuncio uma grande alegria: Nasceu para nós um menino, foi nos dado um filho, envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Is 9,1-6; Lc 2,1-14). Fico pensando nas pessoas que caminham para as igrejas na noite de Natal. Muitas com risos fáceis, vibrando a alegria dessa Luz que nos alcança; outras, com sorrisos sinceros, mas não fáceis, fruto de um esforço do coração, porque trazem tristeza, que melhor a face vem quando fecham os olhos. E choram em silêncio cuidando para que suas lágrimas não molhem a pequenina imagem do Menino no feno. Todos, ao chegarmos na igreja, nesta noite, ouviremos do mensageiro de Deus: “Eu vos anuncio uma grande alegria”. Uma grande alegria! O mensageiro de Deus repete nesta noite o anúncio feito a milhares de anos atrás: “nasceu para nós um menino, foi nos dado um filho; e vós o encontrareis envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Is 9,1-6; Lc 2,1-14). Como entender que esta noite é noite de alegria? Como viver este mistério? Como cant

Havia um espelho no céu.  A terra nele se via, sendo reflexo do amor eterno.  Toda vez que alguém olhava para o céu via que a terra não é diferente do aconchego de Deus. Certa vez o homem escolheu o fruto que não devia: matou seu irmão -  atirou uma pedra no espelho de Deus.  Nunca mais a terra foi perfeito reflexo do céu.  Isso fez doer. Deus quis concertar o espelho.  Tentou muitas vezes e de muitos modos.  Enquanto, por não mais ver-se ali, por não mais olhar para o céu, muita gente continuava atingindo o espelho. É preciso recomeçar de baixo, é preciso que o céu desça à terra, do espelho o mundo já se esqueceu! E, Deus de uma mulher nasceu, pequenina criança reclinada no feno de Belém. Agora, quem olha para ela vê o céu e vê o homem: não há diferença, não há distância, não há ausência.  Deus apequenou-se para elevar-nos à altura do seu amor, infinito amor divino. O céu está na terra.  Deus se fez nossa imagem e semelhança, despojou-se de si mesmo para vestir-se

Tudo começou no céu, Com Deus que é um só, Mas sozinho  não é . Ele quis ser um de nós, Ouviu do povo a voz, Atendeu à esperança de nossa fé. Num dia ineditável Uma moça de Nazaré Disse "sim" ao seu Yahweh. E Ele desceu do céu, Aninhou-se em seu ventre E fez-se carne como a gente. O tempo se fez completo, A mãe sentiu que hora era, A profecia terminara a espera. Em Belém brilhou a luz de Deus Feito pequenina criança, Iluminando esperança. Hoje, Belém é aqui, E o nosso coração é agora Como a manjedoura de outrora.  Por isso, vem, v amos a Belém! O céu, novo endereço tem: Deus conosco mora.

Era uma jovem linda, De lindo sonhos. Visitada pela beleza do céu, Numa linda manhã de primavera. Gabriel, por que chegaste? Por que antes não me avisaste? Alegra-te, Maria, menina mulher. Vim dizer-te o que Deus quer. Eu não te entendo, anjo amigo, Por que falas desse jeito? O que trazes em segredo detido Se com ninguém fui ao leito? Maria, cheia de g raça e esperança, Em ti se dará a profecia do Senhor. Serás Mãe de uma linda criança, O Emanuel, e de todos Salvador. Se o meu amado, isso me pede, Volta feliz, leva meu SIM. Diga que sua serva concede: Que a Palavra se faça carne em mim!”

O Amor tem pressa, Pressa de amar. E agora que vive em Maria Se apressa em ajudar. Para onde vai esta menina, Subindo a montanha sem cansar? Vai ver Isabel, sua parenta anciã: O Amor tem pressa em se comunicar. Isabel sou eu, deixa-me entrar.” Ave Maria! Entre a mulheres Bendita! O fruto do teu ventre vem me encontrar: A criança em mim salta e crepita. Ah! Eu te digo com alegria: Bem-aventurada aquela que acreditou! Porque em ti serão realizadas As maravilhas que Deus tanto sonhou. (Lc 1, 39-45)

Ser feliz com Maria: Só isso ele queria. Mas um boato estranho Tudo estragaria. Era justo esse jovem trabalhador, Quis fugir para deixá-la inocente. E tomando a decisão do amor, O sono lhe chegou como presente. Deus que nunca dorme, então lhe visitou, Acordando-o do medo que o fez chorar; “Não temas receber Maria em sua casa, É o céu quem a veio desposar!” “Que assim se faça, então. Diga ao Senhor que Ele pode comigo contar. Dou a Seu Filho minha vida, meu coração, Não deixarei que nada lhe venha faltar. Eu, que amo Maria e amo o meu Deus, Terei alegria em ser pai do Filho Seu. Sou carpinteiro de um lugar pequenino Disposto a viver este sonho Divino.”

Certo casal havia brigado e esta discussão deixou o marido muito triste. Então ele pensou numa forma de reatar o diálogo com a esposa. Mas ela era duro na queda e havia prometido não mais lhe dirigir a palavra. Era hora do almoço. Ela estava na cozinha preparando a refeição. Ele entrou e começou a abrir todas as portas dos móveis que haviam na cozinha. Irritada, a esposa esbravejou:  - O que está procurando, criatura? - Achei! - respondeu ele - Era sua voz. Sua voz que me acalenta, que me dá força, que me anima, que dá gosto à minha vida. Sua voz que me tira da solidão e faz os meus dias mais bonitos. Sua voz que um dia me roubou de mim mesmo para fazer-se viver na sintonia do seu amor.  Este é o jeito criativo de reatar a relação, um jeito que borrifa alegria e cumplicidade atrativa. Não insista em orgulho ferido. Insista, com criatividade, no primeiro amor. Ele muda sua face no decorrer do tempo, mas sua essência é a mesma. Grosseria, gelo e distanciamento poucas vezes curam

Nem sempre entendemos o que é ter fé. Há quem pense que é adquirir um bilhete que garanta bom êxito em tudo, que é uma clarividência de todas as coisas, que é um contrato que nos concede direitos divinos, que é uma forma de sempre se dar bem nesse mundo. Não. A fé não é isso. Também não é magia e nem uma habilidade para negociar com Deus ou uma credencial de méritos. A fé é uma adesão pessoal do ser humano a Deus, um modo de viver unido a Ele, acreditando na sua Palavra, na sua constante presença e servindo-o. Ter fé é escolher Deus. Ter fé é preferir Deus. Ter fé é querer Deus - querer ser de Deus, para Deus, por Deus e em Deus. As pessoas que tem fé também passam por tempestades. Quando as coisas ruins acontecem não é porque Deus quis ou porque esqueceu-se da gente. Coisas ruins acontecem porque a nossa vida é frágil. Nem sempre entendemos o motivo. Não foi nossa falta de fé que as motivou. Nas dificuldades, a fé nos ajuda a encontrar o bondoso rosto de Deus e nos ilumina para sai

  Dizei às pessoas deprimidas: “ Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus!” (Is 35, 4). Mesmo diante das preocupações e dificuldades de nosso caminho, “ Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus!”.   “Ficai firmes!” (Tg 5,7),  Porque é preciso ficar firme em nossas santas convicções, Firmes na fé, na esperança e firmes no amor.   João Batista preparou a vinda do Senhor. Ele não era um caniço agitado pelo vento? (Mt 11,2-11) Era firme. Gastou a sua vida inteira preparando a vinda do Messias, Embora não soubesse quem o era. João acreditou na palavra do Senhor, Acertou! Deus não é de mentiras.   João gastou a sua vida firme numa esperança. Não se deixava agitar pelo vento da dúvida, do medo, das dores e alegrias da vida.   Quantas vezes nós somos agitados pelos ventos da vida! Sopra-nos o vento da tristeza e pendemos de um lado; Sopra o vento de uma euforia e vamos para outro lado; Se não gostamos do que alguém falou ou fez, o deleta

“Tu és toda formosa, meu amor, não há mancha em ti " (Ct 4, 7) Quando Deus criou a mulher, a criou toda em graça. Eva , nome que significa "mãe dos viventes", é figura da humanidade feminina que surge por vontade divina. Junto com Adão (a humanidade masculina), ela perdeu a graça. Nem por isso, Deus desistiu de fazer-se um de nós e viver nossa humana condição.  Aquele que sempre quis ser como sua criatura, preservou  do pecado  a mulher que seria sua mãe, de forma que fosse gerado por uma nova Eva, sem presença do pecado e fiel, com Ele, até o fim (Cf. Santo Anselmo). Encarnando-se, o Filho trazia do Pai a divindade e, da mãe, herdava a mais bela humanidade (Cf. Santo Tomás de Aquino, GM, p. 215). Em Maria também se vê que Deus pode salvar a todos, de todas as formas: A Maria salvou por preservação, em virtude de seu Filho, e a todos nós, por Redenção (Cf. Duns Escoto). Em Maria se faz plena a multiforme graça de Deus. No paralelo de Gênesis 3, 9-15,20 com

Lucas 5,17-26  “Os teus pecados estão perdoados!” Diante de uma sociedade que condena os outros, apoiados numa moral que lhes favorece, Jesus começa perdoando. O segundo milagre, “levanta-te, pega o leito e vai para a casa”, só é maior para quem prefere espetáculos. Na verdade, é consequência de um amor valente e real que Jesus concedeu a este filho de Deus. O maior milagre é o perdão que livra dos pecados aquele homem e também livra dos seus juízes impostores. Este homem tinha grandes amigos de fé que o levaram para Jesus. Nossos amigos nos levam para Deus? E nós, levamos nossos amigos para quem ou para quê? Prestemos atenção! A multidão às vezes aumenta a paralisia: a multidão dos problemas, das ilusões, dos sofrimentos, das aparências; a multidão dos que querem ver Jesus satisfazendo seus desejos. Mas se você tem alguns amigos que te ajudam e se você não se deter na multidão, o grande amigo Jesus pode romper com qualquer paralisia. A maior de todas as paralisi

Como um trovão, rasgando o véu das nuvens Do ambão das igrejas volta a ressoar A voz daquele jovem semita do deserto Pedindo pra gente se preparar. Catedrais e matrizes, capelas de barro e sapê Neste domingo terceiro de um tempo lilás Fazem-se margens do Jordão Para o austero jovem de dois mil anos atrás. Pedindo pra gente se preparar Que dias de julgamento virão, O jovem das margens do Jordão não aceita Que falsos amigos de Deus venham se mostrar. E ainda que digam, “somos filhos de Abraão Não precisamos de conversão ou coisa qualquer” A voz de João continua a rasgar o véu da hipocrisia Numa humildade valente de quem faz o que Deus quer. Preparai o caminho! Preparai o caminho do Senhor! Abri seu coração, deixai de lado as picuinhas da vida Esqueçais esse vício, tratai desse ciúme, inveja ou prepotência Sejais justos, que o Senhor já vem vindo, já está na lida. Ele não vem como um tsunami ou violenta tempestade. Ele vem cheio de bond

  A vida é um mistério – e como existem coisas boas para a qual a gente não se contenta com as explicações, também diante das tragédias ficam sempre interrogações. Não basta saber quem é o culpado, não basta saber se houve ou não dor, não satisfaz alguém que diz “era a hora deles”. A tragédia os levou. Por quê? O silêncio é, de todas, a mais sábia resposta. E a solidariedade é a mais digna postura. Nada de inventar possibilidades para anestesiar a dor! Nada de explicações que mostram mais orgulho diante da nossa fragilidade do que respeito para com os que sofrem. Quando à questão técnica do porquê aconteceu, isso sim, para evitar que se repita tal tragédia e corrigir quem errou. Não era a hora deles. Todo ser humano nasceu para viver plenamente e morrer só quando a vida realizou nele o seu ciclo completo. Mas este mundo todo está posto sob as leis naturais. E nós, neste mundo, também. Por isso somos humanos, por isso importa o cuidado e o bem querer, por isso cada um é único e i