São Francisco de Sales e a Bíblia - Espiritualidade Salesiana

Setembro é o mês da Bíblia. Este livro é uma carta de amor à humanidade que Deus inspirou para que em todos os tempos não perdêssemos o precioso tesouro que é a Sua Palavra.  Junto com a Tradição e o Magistério da Igreja, ela constitui-se como fonte da nossa fé que transmite a verdade da salvação (Dei Verbum, n.10-11). A Bíblia é um livro de verdades da fé (teológicas), não se preocupa tanto com verdades históricas ou científicas, mas como Deus se revelou a seu povo e como o seu povo pode entender esta revelação. Vamos ver, agora, como nosso querido São Francisco de Sales a entendeu.
A Bíblia foi traduzida ao francês (país de nosso santo) somente em 1566, portanto, um ano antes do nascimento dele. Mas não ficou acessível a todos. A Reforma Protestante foi quem promoveu sua impressão em língua vernácula. Assim ela ia se tornando conhecida, mas poucas vezes entendida. Francisco de Sales a estudará e fará dela o tecido espiritual de sua espiritualidade[1]. Como bispo promoverá a formação do clero instruindo-os na Sagrada Escritura, a fim de que o povo seja alimentado com a mais genuína interpretação.
Ela estava entre os livros que levou para a missão no Chabblais. Parece óbvio, mas não era para o século XVII. Isto revela que, ainda jovem, Francisco a usava como fonte de sua missão. Além do mais, seu método de oração é o Bíblico[2], sem mencionar que suas obras e pregações trazem o mesmo estilo das parábolas do Evangelho.
O que Francisco encontra de tão atraente na Bíblia? Encontra a história do amor divino. Os livros que mais cita "são aqueles nos quais se revela este amor: Gênesis, Salmos, Cântico dos Cânticos; do Novo Testamento, São Mateus e São Paulo são seus preferidos”[3]. Seus contemporâneos deixaram-nos o testemunho de que ele lia a Bíblia “como um contemplativo, um enamorado de Deus e da Igreja” querendo descobrir nela “a história da santa caridade, seu nascimento, suas manifestações, suas formas, seus fatos e aprofundar-se em sua natureza, suas forças, em seu dinamismo”[4].
Certa vez, escreveu: "A fé cristã está fundada sobre a Palavra de Deus, ela a coloca no máximo grau de certeza, pois tem como avalista a eterna e infalível Verdade. A fé que se apoia fora dela, não é cristã; portanto, a Palavra de Deus é a verdadeira regra da fé autêntica, poi ser o fundamento e a regra neste campo, é a mesma coisa" (As Controvérsias. OEA,t. II. p. 143-144).
Francisco não pretendia ser um erudito em Bíblia e afirmava: “Quando emprego palavras da Escritura nem sempre é para explicá-las, mas para que eu possa explicar-me...” (III, 2)[5]Francisco não escreveu muito sobre a Bíblia em si, mas tudo que escreveu foi com a Bíblia. Suas obras estão repletas de citações, sempre apresentando os personagens sagrados como modelo aos cristãos.  Esse modo de escrever e de pregar com a Bíblia foi também o modo de torná-la conhecida a quem não a tinha em mãos. Ele mesmo adaptava a linguagem para que o povo a entendesse.  Na Introdução do Tratado ele diz: “Cito algumas vezes a Escritura sagrada noutros termos que não os usados pela edição ordinária. (...) Eu não emprego outras versões senão para o serviço desta (a oficial), quando elas lhe explicam e confirmam o verdadeiro sentido”. A ideia de pertença a Deus e de união a ela tão essenciais a Francisco, é profundamente Bíblica (TAD I, XV) e remete à Aliança que tanto fala a Sagrada Escritura. Como escreveu o Padre André Ravier, "a doutrina de Francisco de Sales é só uma explicação da espiritualidade da Bíblia".
Mais do que sabermos sobre a Bíblia, é preciso saber com a Bíblia. Mais do que falar sobre a Bíblia é preciso viver como a Bíblia ensina. Sem ela o cristão fica sem fonte, sem lume, sem identidade. Nela está a doutrina do amor, a experiência das primeiras comunidades cristãs, os nossos pais e mães na fé do Antigo Testamento, a Pessoa de Jesus que revela Deus Pai e Deus Espírito Santo e nos anuncia o Reino. Quem ler Francisco de Sales lerá também a Bíblia: primeiro, porque ele a cita inúmeras vezes; segundo, porque ele nos faz apaixonar-nos por ela, pela mensagem que ela traz. E assim, resta-nos, para concluir esta nossa conversa, trazer presente algumas citações do Doutor da Perfeição em que ele honra, enaltece e privilegia o Livro Sagrado. Não nos esqueçamos: é preciso ler a Bíblia buscando “a história do amor divino”, amor que é eterno, exigente e fecundo.

 “Diz a Santa Escritura (que) nós somos feitos como as coisas que amamos” (IVD, III, XV).
 “O amor é forte como a morte (Ct 8,16)” (TAD, VII, IX).
“A vida, diz o salmista, está na vontade de Deus (Sl 39,6)” (TAD, VIII, VII).
“Todos foram iluminados como que de uma luz que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1,9)” (TAD, II, VII).




[1] LAJEUNIE, E. J. São Francisco de Sales. O Homem, o Pensamento, a Ação. Trad. P. Tarcízio Paulo Odelli, SDB. Vol I. Paris, 1966, p. 132.
[2] O Beato Luís Brisson, fundador dos OSFS, diz que “o método de SFS é o Evangelho, a Sagrada Escritura”. Mais, “é a realização fácil e prática do Evangelho nos afazeres de cada dia” (BRISSON, VII, p. 226).
[3] LAJEUNIE, E. J. op. cit, p. 220.
[4] Idem.
[5] Idem, p. 221.

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