A humildade - Espiritualidade Salesiana
Muito se fala em
humildade, porém, poucas vezes se compreende esta virtude capital na vida do
cristão. E quando não se se sabe a fonte, a razão e a perspectiva de alguma
coisa, por mais que se queira e se admire, é difícil levá-la a cabo.
Humildade é não querer
tomar o lugar de Deus. Simples assim. Nós somos pessoas falíveis, não somos
Deus. E tudo o que temos e somos vem Dele. Por isso, só a Ele cabe a glória, só
a Ele cabe o julgamento, só a Ele cabe as grandes decisões. Por isso é humilde
quem não se vangloria[1], quem não julga ou condena
os outros, quem sabe não ser agressivo nem desanima quando alguma coisa toma
rumos diferente do desejado.
Nós temos muitos exemplos
de humildade. O maior é de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Não bastasse toda
sua vida, ao apresentar-se como nosso
mestre,
disse: “aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Não
disse “aprendei de mim porque sou o Filho de Deus”, “aprendei de mim porque
faço milagres”, “aprendei de mim porque sou o Prometido, o Messias”. Não!
Aprendei de mim “porque sou manso e humilde de coração”. E “de coração”
significa: verdadeiramente. Por isso lavou os pés da humanidade.
Depois de Jesus, temos Maria
Santíssima que, em seu canto Magnificat, diz “A
minh’alma engrandece o Senhor, exulta
meu espírito em Deus, meu Salvador! Porque olhou para a HUMILDADE de sua serva, doravante as gerações hão de chamar-me de bendita!”
(Lc 1, 46-48). Segundo ela, Deus levou em consideração sua
humildade ao escolhê-la como mãe do Salvador. E com humildade, ela reconhece e
confessa publicamente “que Deus tinha operado nela grandes coisas e fez isso ao
mesmo tempo para se humilhar e para dar glória a Deus” (Filoteia
III, V). E é por causa desta humildade
que a chamaremos sempre de bem-aventurada.
O verdadeiro humilde “não quer
parecer que o é. E nunca fala de si mesmo. A humildade, pois, não só procura
esconder as outras virtudes, mas ainda mais a si mesma”, diz São Francisco de
Sales (Filoteia
III, V). Ela é um tesouro escondido que a gente não quer revelar ou, mesmo, nem
sabe que porta. É como uma palavra que existe no pensamento, mas se a quisermos
revelar, já não a temos mais em nós.
Qual é a fonte da humildade? O conhecimento da
grandeza de Deus e das coisas que Ele faz, “porque o conhecimento
dum benefício produz naturalmente o seu reconhecimento” (Filoteia III, V). O humilde reconhece que
tudo o que tem e o que é vem de Deus. O humilde reconhece que todas as coisas
têm a sua razão de existir em Deus. Que a perspectiva de nossa vida é este
encontro com Nosso Senhor, a cada dia, em cada situação, em cada momento, mas
também, um dia, definitivamente.
Ser humilde é fazer de tudo para não tomar o lugar
de Deus. Não vangloriar-se, não sentir-se melhor do que alguém para julgá-lo,
não desanimar nem agredir quando algo dá errado. Confiando, sendo bom e sempre bendizendo a
Deus – assim se é realmente humilde!
[1] “O profeta Eliseu mandou uma pobre
viúva pedir emprestados aos vizinhos todos os vasos que pudesse e lhe disse que
o pouco azeite ainda restante havia de correr tanto até enchê-los todos. Isto
nos mostra que Deus quer corações que estejam bem vazios, para os encher de sua
graça pela unção do seu espírito; e é de nossa própria glória, Filotéia, que os
devemos esvaziar” (São Francisco de Sales, Filoteia III, IV).
Comentários
Postar um comentário