Quem sou eu e minhas relações

A sabedoria humana concedeu no decorrer dos tempos, capacidade para o homem evoluir e proporcionar a si mesmo comodidades, conhecimento e certo poder. Somos capazes de ir a outros planetas, viajar com uma rapidez impressionante de um continente a outro, conhecer dados do passado e prever acontecimentos para o futuro, coisas que nossos antepassados se quer sonharam. No entanto temos dificuldade, às vezes, de conhecer coisas simples, como por exemplo, quem somos?
                        Quem sou eu? Pergunte-se. Quanto tempo demorará para responder? Talvez mais do que pensava! Nessa resposta está implícito nossos sonhos, medos, pensamentos, preconceitos, virtudes, ideias, mitos e verdades, um pouco de nossa opinião e um tanto do modo que percebemos os outros nos vendo. É impossível falar de nós sem ter como referência tantas pessoas que vivem conosco, mais ou menos próximas, porque o ser de cada pessoa implica o ser do outro. Somos seres de relações. Nessas relações nos conhecemos e damo-nos a conhecer.
            O que você sentiu hoje? Com que você falou? Quais foram suas atitudes, seus pensamentos, estando só ou com demais pessoas? Estas perguntas ajudam no conhecimento de nossa própria identidade, porém a vida não se dá numa fração de minutos onde tudo acontece, nem mesmo num único acontecimento. Realidades diferentes fazem-nos agir diferente e perceber-nos diferentes. Aqui gostaria de introduzir um dado muito interessante que refere-se à Bíblia. Ela diz que próprio Deus, ao ser interrogado sobre sua identidade, manifestou-se dizendo: “Eu sou o que sou”. Deus é. Eu sou. Você é. O outro é. Todos somos. Abraçando e respeitando o meu ser e o ser do outro, se pode caminhar para um mundo de relações mais humanas, incluindo respeito, fraternidade e gratidão, permitindo que as pessoas sejam tais como são e mostrando luz para quem, às vezes, parece estar em caminhos difíceis.
            Para os cristãos, judeus e islamitas todo ser humano é criado a imagem e  semelhança de Deus: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” (Gn 1, 26) Segundo a fé das pessoas que pertence a estas religiões, ao relacionar-me como pessoa com o outro, estou revelando e ao mesmo tempo contemplando a imagem de Deus. O que isso significa? Simplesmente que o respeito para com o outro deve ser na medida de Deus, ou seja, não há maior valor do que a vida do meu próximo, seja ele quem for, pois o Deus a quem amo, amou todo ser humano a ponto de entregar a vida pela sua salvação.
            Um ponto importantíssimo para se pensar é a relação que cada pessoa tem consigo mesma. No âmbito da fé, nossa vida não surgiu do nada, mas da vontade de Deus: “Eu já te conhecia bem antes da tua concepção.” (Je 1, 4-5) Fomos sonhados por Deus, gerados em seu amor e, por mais que enfrentemos dificuldades, há um companheiro inseparável que nos conhece e nos ama, por isso, tudo o que somos deve ser respeitado e querido com carinho, protegido como bem precioso.
Outra coisa importante: é preciso amar-se para se tornar amado. Tudo o que somos merece ser valorizado por nós mesmos para que, então, inspire respeito e seja recinto de paz. Nosso corpo, por exemplo, é lugar de comunicação com o próximo e de expressão única de quem somos. De maneira especial, Deus tem um carinho para o corpo de cada pessoa. “O vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus.”(I Cor 6, 22). Ele revela (nosso corpo) um sinal exclusivo da Graça de Deus Criador, de Deus que nos salvou também com seu próprio corpo, pois encarnou-se como um de nós em Jesus Cristo, e do Espírito Santo que age incessantemente conduzindo-nos ao bem.
            O relacionamento com o outro exige ao ser humano ser mais perfeito em busca da harmonia. Posso ser amigo, namorado, familiar, vizinho, colega de trabalho, de estudo, de festas e, por fim, posso não ter relação próxima com algumas pessoas, porém, sendo gente, estando compartilhando tantas coisas em comum com o resto do mundo, sou implicado de alguma forma na relação com os outros. Simplesmente o cuidado que tenho (ou não) com a natureza repercute em diversas pessoas que talvez nem imagine que existam.
            No relacionamento com outro enfrentamos dificuldades. Claro! Todos estamos num processo de lapidação e os excessos se chocam quais pedras que ao rolarem e se chocarem juntas nas águas de um rio, vão perdendo sua aspereza e tornando-se lisas e brilhantes. Paciência, perdão, confiança, diálogo, compreensão, franqueza, verdade, carinho e gentileza são itens que não podem faltar para os que são próximos de nós, assim como respeito, cuidado  e  responsabilidade são itens que não podem faltar a nenhum ser humano.
            Quando me relaciono bem comigo, com as pessoas, logo tenho um bom relacionamento com Deus. Relacionar-se com Deus faz parte do mais próprio do ser humano. “A minha alma tem sede de vós, como terra sedenta e sem água. Para mim fostes sempre um socorro, de vossas asas à sombra eu exulto. Minha alma se agarra em vós” (Sl 62 (63). O mistério da existência de Deus que permitiu nossa vida existir nesse mundo leva-nos a uma contemplação infinita para sentir-nos quem de fato somos relacionando-nos com o Nosso Criador que é Pai de cada um e de todos ao mesmo tempo: Pai nosso, que estás nos céus,...” (Mt 6, 7-15).
            Quem sou eu? "Quando digo o que sou, de alguma forma eu o faço para também dizer o que não sou. O ‘não ser está no avesso do ser’, assim como o tecido só é tecido porque há um avesso que o nega, não sendo outro, mas complementando-o. O que não sou também é uma forma de ser. Eu sou eu e meus avessos." (Pe. Fábio de Melo). Quem é o outro? "O outro é o eu que não sou eu". (Sartre) “O outro é quem devo amar como a mim mesmo.” (Jesus – Mt 22, 39). Quem é Deus?  Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16). Ele é o princípio e o fim, e no meio do Caminho a mão que nos sustenta.
            Ser é a maravilha que todos experimentamos. O ser próprio, o ser do outro, o ser de Deus e (por que não?) o ser das coisas, do universo. Não somos sozinhos, somos com todo o universo criado, com toda a vida pensada e inspirada pelo Divino Artista e somos, enfim, com Ele. Relacionamo-nos e nos conhecemos, dando-nos a conhecer e experimentando a doce fagulha do amor Divino.

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