Quem sou eu e minhas relações

Quem sou eu? Pergunte-se. Quanto tempo demorará
para responder? Talvez mais do que pensava! Nessa resposta está implícito
nossos sonhos, medos, pensamentos, preconceitos, virtudes, ideias, mitos e verdades,
um pouco de nossa opinião e um tanto do modo que percebemos os outros nos
vendo. É impossível falar de nós sem ter como referência tantas pessoas que
vivem conosco, mais ou menos próximas, porque o ser de cada pessoa implica o
ser do outro. Somos seres de relações. Nessas relações nos conhecemos e damo-nos a conhecer.
O
que você sentiu hoje? Com que você falou? Quais foram suas atitudes, seus
pensamentos, estando só ou com demais pessoas? Estas perguntas ajudam no
conhecimento de nossa própria identidade,
porém a vida não se dá numa fração de minutos onde tudo acontece, nem mesmo num
único acontecimento. Realidades diferentes fazem-nos agir diferente e
perceber-nos diferentes. Aqui gostaria de introduzir um dado muito
interessante que refere-se à Bíblia. Ela diz que próprio Deus, ao ser interrogado
sobre sua identidade, manifestou-se dizendo: “Eu sou o que sou”. Deus é. Eu sou. Você é. O outro é. Todos somos. Abraçando
e respeitando o meu ser e o ser do outro, se pode caminhar para um mundo de relações mais humanas, incluindo respeito,
fraternidade e gratidão, permitindo que as pessoas sejam tais como são e
mostrando luz para quem, às vezes, parece estar em caminhos difíceis.

Um ponto importantíssimo para se
pensar é a relação que cada pessoa tem
consigo mesma. No âmbito da fé, nossa vida não surgiu do nada, mas da
vontade de Deus: “Eu
já te conhecia bem antes da tua concepção.” (Je 1, 4-5) Fomos
sonhados por Deus, gerados em seu amor e, por mais que enfrentemos dificuldades, há um companheiro inseparável que nos conhece e nos ama, por isso, tudo o que
somos deve ser respeitado e querido com carinho, protegido como bem precioso.
Outra coisa
importante: é preciso amar-se para se tornar amado. Tudo o que somos merece ser
valorizado por nós mesmos para que, então, inspire respeito e seja recinto de
paz. Nosso corpo, por exemplo, é lugar de comunicação com o próximo e de
expressão única de quem somos. De maneira especial, Deus tem um carinho para o
corpo de cada pessoa. “O vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em
vós, o qual recebestes de Deus.”(I Cor 6, 22). Ele revela (nosso corpo) um sinal exclusivo da Graça
de Deus Criador, de Deus que nos salvou também com seu próprio corpo, pois
encarnou-se como um de nós em Jesus Cristo, e do Espírito Santo que age
incessantemente conduzindo-nos ao bem.
O
relacionamento com o outro exige ao ser humano ser mais perfeito em busca da
harmonia. Posso ser amigo, namorado, familiar, vizinho, colega de trabalho, de
estudo, de festas e, por fim, posso não ter relação
próxima com algumas pessoas, porém, sendo gente, estando compartilhando
tantas coisas em comum com o resto do mundo, sou implicado de alguma forma na relação com os outros. Simplesmente o cuidado que
tenho (ou não) com a natureza repercute em diversas pessoas que talvez nem
imagine que existam.
No
relacionamento com outro enfrentamos dificuldades. Claro! Todos estamos
num processo de lapidação e os excessos se chocam quais pedras que ao rolarem e
se chocarem juntas nas águas de um rio, vão perdendo sua aspereza e tornando-se
lisas e brilhantes. Paciência, perdão, confiança, diálogo, compreensão,
franqueza, verdade, carinho e gentileza são itens que não podem faltar para os
que são próximos de nós, assim como respeito, cuidado e
responsabilidade são itens que não podem faltar a nenhum ser humano.
Quando me relaciono bem comigo, com
as pessoas, logo tenho um bom relacionamento com Deus. Relacionar-se
com Deus faz parte do mais próprio do ser humano. “A minha alma tem
sede de vós, como terra sedenta e sem água. Para mim fostes sempre um socorro,
de vossas asas à sombra eu exulto. Minha alma se agarra em vós” (Sl 62 (63). O mistério da existência de Deus que permitiu nossa
vida existir nesse mundo leva-nos a uma contemplação infinita para sentir-nos quem de fato somos relacionando-nos
com o Nosso Criador que é Pai de cada um e de todos ao mesmo tempo: “Pai nosso, que estás nos céus,...” (Mt 6, 7-15).

Ser é a maravilha que todos
experimentamos. O ser próprio, o ser do outro, o ser de Deus e (por que não?) o ser das coisas, do universo. Não
somos sozinhos, somos com todo o universo criado, com toda a vida pensada e
inspirada pelo Divino Artista e somos, enfim, com Ele. Relacionamo-nos e nos
conhecemos, dando-nos a conhecer e experimentando a doce fagulha do amor
Divino.
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