Porque as nuvens são como são

Um velhinho passeava com seu neto, quando o pequenino lhe perguntou:
- Vovô, por que as nuvens são como são?
Houve silêncio e os passos diminuíram seu ritmo. O ancião buscava uma resposta bonita.
- É porque elas morrem de saudades do mar, respondeu o amoroso avô.
- Filho, todas as nuvens vieram do mar, todas viviam no mar. Mas os raios do sol e o calor, os fortes ventos e o próprio aquecimento da terra, expulsaram elas para o céu. E elas sentem muita saudade do mar. Então, por isso, elas se encontram pra conversar sobre o mar, falam sobre como é belo, como é grande... e trovejam, brigam, pingam e chovem querendo voltar[1]. Assim, se derramam, esvaziam-se de si mesmas e caem sobre a terra, escorrendo pelos sulcos e veias do solo, nos riachos e rios até chegar ao mar. E quando chegam, ele as acolhe com aquela ternura que afoga a saudade e faz nascer a doce alegria. Quem as vê desfazer-se e derramarem-se diz: elas perderam, elas morreram. Mas, não. Elas voltaram para casa, encontraram de novo a sua vida, agora são uma com o mar. O mar nelas vive e elas vivem no mar.
- Que lindo, vovô!, exclamou o menino. Não sabia que essa era a história das nuvens. E eu, se o senhor permite, ainda lhe pergunto outra coisa: existe ou existiu algum ser humano parecido com as nuvens, porque eu achei tão bonita essa história que gostaria que entre nós também fosse assim?
- Sim, filho, existiu alguém que se derramou por inteiro por causa de uma grande saudade. Foi Jesus de Nazaré. Ele derramou toda sua vida, até mesmo o seu sangue, para que o mundo voltasse a viver em Deus. Jesus disse que iria sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei (os grandes de sua época), que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia (Lc 9, 22). E assim aconteceu. Muitos pensavam que ele havia perdido, “morreu na cruz”, diziam. Mas, não. Ele ganhou a vida, ele trouxe de novo a reconciliação de tudo o que há com o Pai do Céu, ele voltou para a casa do Pai e nele vive. Ele matou a saudade de Deus. Ele instaurou a verdadeira esperança no coração humano, para nunca mais se esquecer do Pai.
- Vovô, e nós podemos ser iguais as nuvens e iguais a Jesus?
- Sim, podemos. Jesus mesmo disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Com efeito, de que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro, se se perde e se destrói a si mesmo?” (Lc 9, 23-25). Em outras palavras, quem se derramar, quem esvaziar-se de si mesmo em gestos de humildade, bondade, carinho, justiça e paz, este encontrará a vida, encontrará aquele por quem sua alma, mesmo sem saber, tanto anseia. Nós podemos ser como as nuvens e como Jesus, mas é preciso chover, chover muito, dar-se no bem, derramar-se em bondade, tomar a nossa cruz cada dia, amar pra valer.
- Filho, as nuvens são como são porque têm saudades do mar. E nós somos como somos porque há uma saudade de Deus em nós. As nuvens encontram-se com o mar quando voltam para ele. Nós encontramos Deus quando voltamos a cada pessoa e lhe fazemos o bem, com ternura e profundo respeito, apostando até mesmo em quem todos já desistiram. Quem volta-se ao próximo e chove derramando-se a ponto de dar a vida encontra-se, sem nenhuma dúvida, com o nosso bom e amoroso Deus.
Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS



[1] Padre Zezinho. Música: Dizem que é saudade. CD Não deixes que eu me canse. São Paulo: Paulinas-COMEP, 1978.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dinâmica sobre Vocações

Dinâmica da Flor de Papel (recolhida pelo autor)

Dinâmica de Semana Santa para Grupos de Jovens