Por que construímos igrejas?
Construir
uma igreja ou reformá-la é mais do que erguer ou embelezar um edifício. É
celebrar os mistérios da fé por meio das obras humanas. É certo dizer que Deus
não precisa de casa, de edifício ou de Templo (Is 66, 1-2). Mas também é certo
dizer que Ele inspira aos homens modos humanos de estarem em plena comunhão com
Ele e em plena comunhão entre si (Ag 1,8).
A
Bíblia nos conta que foi construído um Templo para Deus no Antigo Testamento
(1Rs 6). Nele se abrigava as tábuas da Lei, que eram a Aliança de Deus com o
povo (1Rs 8,6). Enquanto o povo era peregrino, as Tábuas Sagradas peregrinavam
com ele (Nm 10,33-36). Quando o povo chegou à Terra Prometida e construiu casas
para si, construíram também um Templo para elas e entenderam que Deus o aceitou
e veio morar ali para que o povo nunca esquecesse: Deus está no meio de nós,
Ele habita essa cidade (Sl 47,9).
Na
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho Jesus Cristo (Gl 4,4). Ele mesmo é
o verdadeiro e perfeito templo da Nova Aliança (Jo 2,19). Seu corpo, Templo
Sagrado, foi destruído na cruz. Mas ressuscitando, Ele edificou um outro Templo
onde misticamente está seu corpo. Esse Templo é a Igreja (Ef 1,22-23). Sim, Ele
deixou a Igreja na história humana como sendo seu corpo, formado pelos membros
que são os batizados (1Cor 12,27). Assim, a Igreja é o Templo de Deus edificado
de pedras vivas, os fiéis (1Pe 2,5). Isso mesmo: Deus mora em nós. Não porque Ele
precise ou porque estejamos à sua altura, mas porque Ele quer. A Igreja,
comunidade universal dos fiéis, é o Corpo de Cristo, Templo de Deus (1Co 3,16;
Ef 2,22).
‘Desde
os tempos antigos, se chamou também “igreja” ao edifício onde a comunidade
cristã se reúne para aí ouvir a palavra de Deus, orar em conjunto, receber os sacramentos,
celebrar a Eucaristia’ (Pontifical Romano II, I). Por isso, sempre se investiu
muito nelas, como uma forma de honrar o Corpo do próprio Cristo. Construí-la é
como edificar um lugar para Deus. Melhor: é como fazer visível o corpo de
Cristo, Templo de Deus, que somos todos nós, batizados.
Sendo
assim, como edifício visível, essa casa, constitui um sinal peculiar da Igreja que
peregrina na terra. Ao entrarmos numa igreja, contemplamos a Igreja no mundo
inteiro. Ali experimentamos a fé a esperança e a caridade de todos os membros
do corpo místico de Cristo. O templo materializa o que não pode ser materializado
senão por sinais. A igreja construção é sinal completo da Igreja peregrina em
missão nessa terra.
É
também uma imagem da Igreja que habita no Céu com os santos, os anjos, a Virgem
Maria e a Santíssima Trindade (até tem as imagens deles). E assim, se faz
igualmente imagem singular da vida eterna. Por isso, entrando numa igreja,
temos a sensação de adentrarmos num pedaço do céu. A igreja edifício representa
e antecipa a morada que teremos junto de Deus: “Na casa de meu Pai” disse
Jesus, “há muitas moradas. Vou preparar um lugar para vocês” (Jo 14, 2).
Num
templo da Igreja vemos duas realidades: os peregrinos na terra e os cidadãos no
céu, adorando o Senhor em profunda comunhão. Por isso, ela não é qualquer
construção. E por isso investimos tanto nelas. Deus também habita um barraco de
lona, uma casinha de sapê, à sombra de uma árvore, embaixo da marquise, num lar
igual ao nosso. No entanto, seria mesquinho da nossa parte oferecer uma casa a
Ele que seja o mais barato possível, sem nenhum aspecto especial. No livro do
profeta Ageu, assim Deus questiona: “Porque o meu Templo está em ruínas,
enquanto cada um de vocês se preocupa com a sua própria casa?” (Ag 1,9).
Toda
igreja edificada é um louvor contínuo a Deus. Ali se abriga a Santíssima
Eucaristia, o Altar e ali se ministra os Sacramentos. Por meio de sua igreja
edifício, todos os batizados permanecem em oração contínua. Essa oração não
substitui a individual e comunitária, mas se une a elas como sinal concreto de
uma fé confirmada pelas obras. E, em momentos que não podemos rezar, a igreja edifício
continua erguida como nossa oração bela e incessante.
É
ela também uma perene profissão de fé. Todo domingo rezamos a oração do Creio e
renovamos nossa fé, professando-a com palavras. Mas a igreja templo é essa
profissão de fé repetida sem voz, com beleza, incessantemente diante dos olhos
de Deus e dos outros.
É
um modo de apostolado. Quando se ergue a cruz ao centro, se toda o sino, se
reproduz as imagens sagradas, se proclama o Evangelho e se administra os
sacramentos, por meio da igreja templo, se evangeliza. Há o apostolado
itinerante de quem sai anunciando as maravilhas de Cristo. E há o apostolado
fixo. É aquele que sempre está no mesmo lugar, com a mesma força, unção e
autoridade. Toda igreja edifício é um apostolado fixo, um sinal de que o
Evangelho foi e continua sendo anunciado no meio do povo.
Por
fim, e não menos importante, a casa de Deus é casa para o povo. Casa para
rezar, para se encontrar, para se alimentar da palavra e do pão do céu, para
receber os sacramentos e para abrigar os necessitados. Em vários momentos da
história, as igrejas foram os lugares onde o povo se abrigou e refugiou. Mesmo
nessa pandemia, a Igreja tem oferecido suas dependências para as necessidades
da população. Primeiro os salões comunitários e outros espaços. Se preciso, a
própria casa sagrada.
Por
isso e por muitos mais é que construímos igrejas, as reformamos, trabalhamos e
fazemos sacrifícios para tê-las - “Eu vou gostar dele [o Templo] e nele manifestarei
a minha glória - diz o Senhor” (Ag 1, 8b).
Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS
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