A Imaculada Conceição de Nossa Senhora


“Tu és toda formosa, meu amor, não há mancha em ti" (Ct 4, 7)

Quando Deus criou a mulher, a criou toda em graça. Eva, nome que significa "mãe dos viventes", é figura da humanidade feminina que surge por vontade divina. Junto com Adão (a humanidade masculina), ela perdeu a graça. Nem por isso, Deus desistiu de fazer-se um de nós e viver nossa humana condição. 
Aquele que sempre quis ser como sua criatura, preservou do pecado a mulher que seria sua mãe, de forma que fosse gerado por uma nova Eva, sem presença do pecado e fiel, com Ele, até o fim (Cf. Santo Anselmo). Encarnando-se, o Filho trazia do Pai a divindade e, da mãe, herdava a mais bela humanidade (Cf. Santo Tomás de Aquino, GM, p. 215). Em Maria também se vê que Deus pode salvar a todos, de todas as formas: A Maria salvou por preservação, em virtude de seu Filho, e a todos nós, por Redenção (Cf. Duns Escoto). Em Maria se faz plena a multiforme graça de Deus.
No paralelo de Gênesis 3, 9-15,20 com Lucas 1, 26-38 vê-se o contraste entre a humanidade na queda pelo pecado e a humanidade na Encarnação do Salvador. Vejamos.

1) No Gênesis Deus procura o homem e o chama: “Onde estás?” (Gn 3, 9). Em Lucas, quando o Anjo vai à Maria, afirma “o Senhor está contigo” (Lc 1, 28c). O anjo reconhece que o Senhor está com Maria e ela com o Senhor, enquanto a humanidade, em Adão e Eva, se escondeu de Deus. 
2) Adão responde ao Senhor “Ouvi sua voz no jardim e fiquei com medo” (Gn 3, 10). Mas o Anjo diz à Maria “Não tenhas medo!” (Lc 1, 30). O pecado semeou o medo, mas a partir de Maria ninguém mais precisará ter medo de Deus, se permanece no amor Dele. 
3) Eva e Adão perdem a graça e manifestam isso na linguagem figurada da nudez (Gn 3, 10b). À Maria o Anjo afirma: “O Senhor encontrou graça diante de ti” (Lc 1, 30b). Se Eva e Adão tem vergonha de se mostrar nus a Deus, Maria é elogiada porque o Senhor se agradou diante dela como de ninguém mais havia se agradado. 
4) Diante dos questionamentos do Senhor, Adão culpa Eva, Eva culpa a serpente, a serpente nada pode falar (Gn 3, 1-15). Maria, ao contrário, assume o diálogo. É ela quem questiona o Anjo, não para satisfazer curiosidades, mas para entender os desígnios de Deus (Lc 1, 34-37). 
5) Adão e Eva romperam com a Palavra do Senhor desejando ser senhores de tudo (Gn 3, 11c). Maria lhe diz: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1, 38). 
6) Com Eva permanece a promessa de que o filho de uma mulher superará a queda que a serpente induziu (Gn 3, 15). Em Maria, cumpre-se essa promessa (Lc 1, 31-33).

Adão e Eva, criados sem mácula, não preservaram a plena comunhão com Deus e com tudo o que há, ultrapassando os limites da palavra Dele e de tudo o que existia. Pecaram. Jesus, feito igual a nós em tudo, exceto no pecado (CCE 470), reinaugurou a humanidade do Jardim do Éden nascendo de uma mulher “cheia de graça”, imaculada desde sua concepção e fiel à palavra Dele. Jesus restabeleceu a plena comunhão da humanidade com o Criador a ponto de nos ensinar a chamá-lo de Pai, um pai Abbá, cheio de ternura e bondade, apaixonado por nós. Maria, a Imaculada, foi a nova humanidade, a nova Eva na Nova Criação realizada no mistério da encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus. Por isso, celebramos com carinho e solenidade sua concepção: imaculada por causa do Santo que haveria de habitar seu ventre e seu coração; imaculada por causa do amor infinito que Deus tem por cada um de nós; imaculada por que nunca concebeu em si nada que não fosse da vontade de Deus. 

“Chamamos Maria de bela, bela como a lua que recebe a luz do sol, porque ela recebe sua honra da honra que seu filho possui: primeiro, através da graça da sua Imaculada Conceição; depois, pela encarnação, quando ele se tornou totalmente filho dela e se aconchegou em seu seio. Assim, ela se tornou perfume tão forte que nenhuma outra planta, em tempo nenhum, tem um cheiro que é tão agradável a Deus quanto às orações daquela que o acolheu. E suas orações nunca serão rejeitadas ou perdidas. Mas a honra de tudo isso é sempre do filho, de quem ela recebeu o aroma“. (São Francisco de Sales, Pregação para o Domingo da Paixão, Chambery, 12 de março de 1606).

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