Sempre fazer o que Deus quer - Espiritualidade Salesiana

Há uma comparação que ele usou no
Tratado do Amor de Deus (IX, II) muito interessante: “os cães se extraviam a
cada passo na primavera, e quase não têm nenhum faro, porque as ervas e flores
exalam tão fortemente o seu cheiro, que este ultrapassa o do veado ou da
lebre”. Nessa pequena imagem está um ensinamento muito rico e compreensível
tanto ao magistrado quanto ao trabalhador doméstico. As flores significam as
consolações que Deus nos dá, as coisas boas que surgem na vida. O veado ou a
lebre representa o objetivo da vida de toda pessoa de fé que é fazer a vontade
de Deus. Os cães representam cada um de nós que corremos atrás de nossos
objetivos no jardim da vida, podendo contar com os perfumes das coisas boas que
Deus nos presenteia.
Francisco quer nos conduzir a
amar o “Deus das consolações” e não as “consolações de Deus”. Que significa
isto? Que não podemos dar-nos por satisfeitos com os perfumes das coisas boas
que nos aconteceram; que é preciso correr atrás de nosso objetivo sem se
desviar em outros prazeres; que o perfume das flores das consolações, por ele
mesmo, nos faz parar, enquanto cabe seguir em frente. São Francisco de Sales deixa
claro que a realização da vontade de Deus é nossa grande meta. Ela nos
alimentará, nos saciará. Não podemos deixar outras coisas, ainda que boas,
fazer-nos perder essa meta. Nas épocas de primaveras em nossa vida, portanto,
não nos fixemos nas consolações de Deus, mas em Deus, para que quando as
consolações passarem e os espinhos se mostram mais presentes, não nos
esqueçamos de Deus nem o culpemos.

Bem,
amigos, é deste modo que a Nossa Espiritualidade nos ensina a viver a fé.
Caminhar entre flores, espinhos e perfumes sem desviar do objetivo maior: fazer
o que Deus quer. E por quê? Porque isto é a fonte da eterna alegria, da
verdadeira liberdade e do sentido da vida. E, se Francisco fala que se une a
Deus com mais facilidade no sofrimento do que entre os perfumes das consolações,
é porque reconhece que Deus sofre muito por causa de um mundo que ainda mata,
despreza e abandona. A nossa dor, de certa forma, nos irmana com a dor de Deus.
E o mais bonito: a dor nos ensina amar de modo puro, porque não está recebendo
nada em troca, a não ser aquela certeza da companhia irredutível do Senhor.
Fazer a vontade de Deus é a fonte da eterna alegria, da verdadeira liberdade e
do sentido da vida. Nas primaveras ou nos invernos de nossa vida, não nos
desviemos desta busca, pois “aquele que está seguro do seu caminho vai alegre,
ousada e rapidamente” com ou sem consolações (TAD, IX, II).
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