Sempre fazer o que Deus quer - Espiritualidade Salesiana


Francisco de Sales foi um bispo simples, alegre e de grande coração. Quando ia pregar e ensinar tomava as imagens do cotidiano de seus amados filhos, valorizando as coisas comuns do povo. Toda Espiritualidade Salesiana é plasmada por esta proximidade. Francisco acostumou-se a tomar exemplos utilizando elementos das montanhas e lagos da região de sua diocese, dos fatos triviais que aconteciam com as pessoas e com seus animais de estimação, de coisas que, muitas vezes, passavam desapercebidas pela maioria. Assim, ele chegava mais rápido e direto ao coração das pessoas, pois falava a partir daquilo que fazia realmente parte de suas vidas.
Há uma comparação que ele usou no Tratado do Amor de Deus (IX, II) muito interessante: “os cães se extraviam a cada passo na primavera, e quase não têm nenhum faro, porque as ervas e flores exalam tão fortemente o seu cheiro, que este ultrapassa o do veado ou da lebre”. Nessa pequena imagem está um ensinamento muito rico e compreensível tanto ao magistrado quanto ao trabalhador doméstico. As flores significam as consolações que Deus nos dá, as coisas boas que surgem na vida. O veado ou a lebre representa o objetivo da vida de toda pessoa de fé que é fazer a vontade de Deus. Os cães representam cada um de nós que corremos atrás de nossos objetivos no jardim da vida, podendo contar com os perfumes das coisas boas que Deus nos presenteia.
Francisco quer nos conduzir a amar o “Deus das consolações” e não as “consolações de Deus”. Que significa isto? Que não podemos dar-nos por satisfeitos com os perfumes das coisas boas que nos aconteceram; que é preciso correr atrás de nosso objetivo sem se desviar em outros prazeres; que o perfume das flores das consolações, por ele mesmo, nos faz parar, enquanto cabe seguir em frente. São Francisco de Sales deixa claro que a realização da vontade de Deus é nossa grande meta. Ela nos alimentará, nos saciará. Não podemos deixar outras coisas, ainda que boas, fazer-nos perder essa meta. Nas épocas de primaveras em nossa vida, portanto, não nos fixemos nas consolações de Deus, mas em Deus, para que quando as consolações passarem e os espinhos se mostram mais presentes, não nos esqueçamos de Deus nem o culpemos.
Ainda, podemos pensar em muitas pessoas que dispensam Deus pelo fato de terem tudo o que julgam necessário. Bom, Deus não as força a crerem nele e a realizarem sua vontade. Mas também não deixa de passar várias vezes neste jardim a fim de lhes despertar o olfato para o Amor Maior. Nós que cremos, não podemos permitir que as facilidades da vida nos acomodem, mas fazer com que elas nos instiguem a fazer o bem. Toda conquista, toda graça, toda barreira vencida deve ser um degrau para Deus, um degrau de caridade. A caridade é exigente e, às vezes, por causa daqueles que amamos, passamos por aflições. Francisco diz que isto pode até nos ajudar, porque “o amor que faz o caminho para a vontade de Deus na aflição, anda sempre com segurança” (TAD, IX, II). Quem ama não teme sofrer e quem ama não se contenta com o perfume das flores quando há algo mais importante a ser buscado, quando há uma meta a ser atingida. Bem vindos os perfumes das consolações, mas em primeiro lugar, a vontade de Deus! Dessa não vamos nos perder. Se Ele nos dá consolações é porque sua bondade não conhece limites, e não para que creiamos somente nelas.
Bem, amigos, é deste modo que a Nossa Espiritualidade nos ensina a viver a fé. Caminhar entre flores, espinhos e perfumes sem desviar do objetivo maior: fazer o que Deus quer. E por quê? Porque isto é a fonte da eterna alegria, da verdadeira liberdade e do sentido da vida. E, se Francisco fala que se une a Deus com mais facilidade no sofrimento do que entre os perfumes das consolações, é porque reconhece que Deus sofre muito por causa de um mundo que ainda mata, despreza e abandona. A nossa dor, de certa forma, nos irmana com a dor de Deus. E o mais bonito: a dor nos ensina amar de modo puro, porque não está recebendo nada em troca, a não ser aquela certeza da companhia irredutível do Senhor. Fazer a vontade de Deus é a fonte da eterna alegria, da verdadeira liberdade e do sentido da vida. Nas primaveras ou nos invernos de nossa vida, não nos desviemos desta busca, pois “aquele que está seguro do seu caminho vai alegre, ousada e rapidamente” com ou sem consolações (TAD, IX, II).

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