Padre Luís Brisson, homem de fé e ação
Quando uma criança é concebida os sonhos de Deus
ganham traços humanos. Vamos apresentar a vocês a história de um homem que
alcançou o mundo a partir da fé e do seu trabalho. Seu nome é Luís Brisson,
padre e fundador da Congregação dos Oblatos de São Francisco de Sales. Brisson
nasceu em Plancy, França, no dia 23 de junho de 1817, sendo filho único de um
casal de comerciantes ambulantes. Foi ordenado sacerdote no dia 19 de dezembro
de 1840 na diocese de Troyes, França. Trabalhou inicialmente como professor de
matemática e ciências no seminário. Depois assumiu como capelão[1] no
mosteiro[2] da
Visitação de Troyes, permanecendo nesta função de outubro de 1843 a julho de
1884. A Visitação é uma ordem Religiosa contemplativa
feminina fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal em 1910,
em Annecy, na França.
Foi neste mosteiro de Troyes que algo incomum lhe
ocorreu. Vinha através da superiora, a Madre Maria de Sales Chappuis, uma
religiosa com fama de santidade e de grande sabedoria, conhecida como Boa Madre.
Ela apresenta-lhe o projeto de fundar uma Congregação de sacerdotes no espírito
de São Francisco de Sales. Essa proposta que não agradou padre Brisson, homem dado
sempre a coisas muito práticas. Ele recusou veementemente, e por trinta anos. Nem
imaginava que a referida Madre sabia bem insistir e persistir, ainda mais
quando ela via a vontade de Deus naquilo que pedia.
Era uma época difícil. A França estava passando pela Revolução
Industrial. Centenas de jovens vinham do interior para as grandes cidades em
busca de trabalho nas fábricas. Uma vez nas cidades, ficavam à mercê de situações
nocivas, às vezes eram explorados, sem família, sem lugar adequado para ficar,
sem alguém que defenda seus direitos, sem uma instrução educacional e
religiosa.
Padre Brisson é sensível a esta situação e faz algo
para ajudar. Ele tinha sido, em 1858, nomeado diretor diocesano da Associação
de São Francisco de Sales para a defesa da fé num país cristão. Faz uso dessa
função para ajudar, primeiramente, as jovens operárias, abrindo patronatos[3] e
lares para acolhê-las, ampará-las e instruí-las. O trabalho cresceu e Deus
mostrou a ele o momento certo de iniciar uma congregação de Irmãs: nasce as
Oblatas de São Francisco de Sales, com a ajuda de duas ex-alunas da Visitação,
a senhorita Leonie Aviat e a senhorita Lucie Canuet (1868). As Oblatas abrem oficinas
de costura em Troyes e outras cidades. Depois fundam escolas primárias e
secundárias e lares para moças. As religiosas estendem-se, pouco a pouco, para
a Áustria, Itália, Suíça, Inglaterra e, depois, para as missões do Rio Orange
(África), do Equador e do México. Leonie Aviat, a primeira superiora, foi
canonizada pelo papa João Paulo II em 2001. Seu dia no calendário litúrgico é
10 de janeiro.
Tudo ia bem, mas a congregação masculina ainda não
havia surgido. A Boa Madre insistia com o Padre Brisson. Ele sempre recusava.
Pediu a Deus várias provas para saber se o que a Madre pedia era realmente
vontade divina. Até que um dia,
conta-nos ele, o próprio Jesus apareceu-lhe. Ele estava no locutório das Irmãs
(parte em que as religiosas conversam com as pessoas, separadas por uma grade)
e havia negado novamente ao pedido da Boa Madre. Sussurrou para ela: “nem que
um morto ressuscite, eu realizarei o que a senhora me pede”. A madre
levantou-se e saiu, enquanto o padre ficou ali, parado, refletindo suas
próprias palavras: “Depois de uns sete minutos, levantei os olhos e vi o Senhor
parado do outro lado da grade, a uma distância de uns dois metros de mim. A
minha primeira reação foi uma sensação de resistência. ‘Agora acabou. Agora tenho
que ceder.’ A minha resistência aumentou: ‘Talvez seja uma ilusão’. E comecei a
observar a figura detalhadamente. Comecei debaixo, com os pés e as sandálias.
De início, não me animei mirar diretamente os olhos. Estudei-o com precisão,
como um pintor observa seu modelo minuciosamente. Eu não queria ser enganado.
Queria constatar que o que vi com os olhos era uma realidade. Devagarzinho meu
olhar subia. Finalmente fitei o Senhor no rosto. Ele não disse nada, mas me
olhou com o aspecto um pouco severo e descontente; e eu não pude duvidar de que
Ele me pediu que eu fizesse o que a Boa Madre me dizia. Atirei-me de joelhos e
consenti, sem dizer uma palavra ou fazer um gesto. Experimentei uma profunda
paz e uma grande calma. Todo o tempo me senti bem tranquilo. A aparição se
esvaeceu.”.
A partir daí não havia mais como resistir. Encarregado,
em dezembro de 1868, de reabilitar o colégio eclesiástico de Troyes, o Padre
Brisson reconheceu, nesse fato, o sinal aguardado para a criação da comunidade
de sacerdotes e fundou os Oblatos de São Francisco de Sales (1875). Ele fez
nascer os Oblatos num contexto operário deixando-lhes claro: “Nossa condição é
a de pobres operários. Andamos vestidos, nos alimentamos como pobres obreiros”.
Entregou a eles o espírito de São Francisco de Sales como característica
principal e genuína. Esta doutrina está baseada na íntima união com Deus em
todos os lugares e momentos, praticando sempre a humildade para com Deus e
mansidão para com o próximo, fazendo TUDO POR AMOR e reimprimindo o Evangelho
onde Deus os plantar, no mundo tal qual é.
Padre Brisson quis fortalecer as associações de
trabalhadores e promover a educação, indo além do patronado onde fora sempre
atuante. No que diz respeito à educação dos jovens operários, Brisson aplicou o
método salesiano: “educação baseada no respeito pela pessoa, o sentido da sua
liberdade e formação de sua responsabilidade”. É a libertação e dignidade do
ser humano que o Bom Padre está promovendo e defendendo como profeta de seu
tempo para a Igreja e para a sociedade (o mundo).
Depois de ter fundado diversos colégios e patronatos
na França, os Oblatos estenderam-se para a Áustria, Alemanha, Inglaterra,
Grécia; abraçaram missões na África do Sul, como também em ambas as Américas.
No Brasil chegaram em 1885, no Pará, ficando apenas dois anos, pois as
autoridades brasileiras, num desentendimento com a Santa Sé, exigiram a
retirada das Congregações. Em 1906 os Oblatos voltaram ao Brasil, em Dom
Pedrito – RS. Depois se estenderam para várias cidades da região. Em Palmeira
das Missões chegaram em 1935 onde atuam até hoje levando o Evangelho da Alegria
a todas as pessoas.
Padre Luís Brisson enfrentou muitas dificuldades,
inclusive a da dispersão das Ordens Religiosas na França, em 1903. Nesta época,
impedido pela idade avançada, retirou-se para Plancy onde faleceu de maneira
edificante, no dia 2 de fevereiro de 1908, com 90 anos de idade. A Igreja
reconheceu suas virtudes beatificando-o em 22 de setembro de 2012. Sua festa
litúrgica como beato é celebrada no dia 12 de outubro, dia da fundação dos
Oblatos de São Francisco de Sales. Padre Brisson foi um homem de fé e ação. Deu
ao sonho de Deus traços humanos ao cuidar das pessoas em dificuldades. Deus
sonha com a felicidade de todo ser humano, de toda a Criação. Este padre de
quem falamos esforçou-se para que esta felicidade fosse concreta na vida do
povo de seu tempo, em especial do operários e operárias. Foi homem de fé, esperança
e caridade, e continua a inspirar muitas pessoas pelo mundo a viverem o bem
acima de tudo. Os Oblatos o seguem como seu fundador e inspirador. Onde estão
os padres e irmãos Oblatos de São Francisco de Sales está também padre Brisson
que ousou sonhar e concretizar o sonho de Deus como lhe era possível.
Linha do tempo da vida do Beato Padre Luís Brisson
1817 Nascimento em Plancy, França
1840 Ordenação Sacerdotal
1841 Primeiro encontro com a Irmã da Visitação,
Marie de Sales Chappuis
1842 Nomeação como Espiritual da Visitação de Troyes
1857 Nomeação como dirigente da Associação
de São Francisco de Sales na diocese de Troyes
1858 Começo do trabalho com as jovens trabalhadoras e da construção de lares
1868 Fundação das Oblatas de São Francisco de Sales
1869 Abertura da Escola São Bernardo
1875 Fundação dos Oblatos de São Francisco de Sales
1877 Nomeação para Vigário Geral da diocese de Troyes
1908 Morte em Plancy
2012 Beatificação em Troyes
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