História da Manjedoura


Eu não imaginava que seria escolhida,
Jamais em minha vida eu pensaria isso:
Que o Cristo se aninharia em mim
Quando viesse no tempo previsto.
Mas foi o que aconteceu, meus amigos:
Ele ficou comigo, recém-nascido,
Sobre mim foi deitado, em panos enfaixado,
Adormecido, com os pais a seu lado.

Confesso que, a meu ver, a noite estava diferente
Não sei explicar, mas havia algo contente,
Um feliz segredo a se revelar por todo o sempre.
Eu estava ali, como sempre estive
Sem sair, mas livre, com nada a esperar
Só mesmo o feno, o pasto de cada dia
Um animal ou outro que talvez chegaria.

Um cochilo me tomava, quando vi que adentrava
Aquele jovem casal em nosso pobre curral.
Eu não entendia, afinal, o que vinham fazer ali, 
Se todos nas casas estavam abrigados e tal.
Puseram-se a arrumar as coisas, pro meu lado vieram,
Panos em mim dispuseram, sem nada reclamar,
Se entreolhando, amparando, adornando este hostil lugar.

E, derrepente, meus amigos, minha gente
Ouvi, no silêncio daquela noite clara, 
Forte, singelo, humano, vibrante, vivente
Um choro inocente que então desatara. 
Havia nascido o filho da profecia e da esperança
Era um menino, pequenino, uma doce criança
Que os braços de homem e mulher ninaria.

Sim, sou talvez aquilo que nem sei de mim
Mas sou feliz, enfim, como jamais pedir saberia.
Depois dos braços do pais, sobre mim deitado seria
O Autor da paz, aquele que o mundo salvaria.
Dormiu tranquilo e sereno, o lindo pequeno,
Deitado no feno, em pano enfaixado, amado
Deus do céu, Emanuel, o menino que nos foi dado.

Silenciei o quanto pude para ele se aconchegar
Queria ser seu palácio, seu regaço, seu sonhar.
Senti seu respirar e as batidas de seu coração
Vi se mexer, seu tenro sorriso pude contemplar.
Meu Deus, quanta alegria, quanta emoção! 
Deus vivia em mim, respirava do mesmo ar que eu, 
E era tão frágil, tão lindo e tão... meu.

Quando tudo se deu, o jovem casal adormeceu
E ficamos nós, num silêncio profundo, com Deus.
Até hoje eu não consigo dizer tudo o que aconteceu
Sim, é sério, pois é tão grande o mistério
Que mesmo quem o recebeu, não o pode traduzir
Tão feliz foi o reluzir daquela paz, daquele amor
Deste Senhor que, entre todos os berços do mundo, me escolheu.

Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS

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