Lenda do Pinheirinho de Natal
Conta uma antiga lenda que, há mais de dois mil anos atrás, na noite do
Primeiro Natal, todas a criaturas sentiram algo de diferente em seus corações.
E todas elas se puseram, de alguma forma, a adorar o Deus menino que nascia
para nossa salvação. A humanidade foi visitá-lo por meios dos pastores e dos
reis magos. Os animais foram representados pelo boi e a vaca, pelo jumentinho,
pelos passarinhos e tantos outros. As plantas foram representadas pelas
árvores, que se puseram a caminho de Belém para presentear Jesus na manjedoura.
A laranjeira, a macieira, o cinamomo, o ipê e também o pinheirinho. Ah, o Pinheirinho!
A história dele chama a atenção.
Diz a lenda que ele se ajeitou e pôs-se à beira da estrada, bem cedo, esperando
entusiasmado as demais árvores que por ali passariam e às quais ele se
juntaria. Tomou banho, penteou os espinhos, passou perfume, se arrumou.
Estava iniciando a noite quando chegou a laranjeira, a primeira de todas.
Ela estava muito feliz e muito linda, como sempre.
“- Estou indo adorar o Deus Menino, Pinheirinho”, disse ela.
“- Eu também, vou”, falou ele super empolgado.
Espantada, ela respondeu: “ - Você não vai, não! Você não pode ir”.
“ - Mas eu quero ir adorar Jesus, dar um beijo nele, um abraço”,
respondeu o Pinheirinho.
“ - Nem se eu estivesse maluca permitiria uma coisa dessas. Você não
pode, Pinheirinho. Você é feio, você é cheio de espinhos e desengonçado, vai
machucar o menino. Imagina: dar um beijo nele, abraçá-lo? E você nem tem
frutos, não tem folhas, nem flores. O que você vai levar para ele? Já, eu, vou
levar laranjas doces e suculentas. O pai e mãe dele vão gostar muito. Uma
laranja será mais do que bem-vinda, tenho certeza”, concluiu a laranjeira.
O Pinheirinho ficou triste, mas fez de conta que ela não tinha passado
por ali. Logo se animou novamente.
Minutos depois chegou a macieira: “ - Oi, Pinheirinho. Tudo bem? Sabe
aonde estou indo? Visitar o Deus Menino. Jesus! E vou levar maçãs para ele”,
“ - Eu também vou, Macieira”, respondeu o Pinheirinho, bem empolgado.
“ - Não”, retrucou ela. “Você não pode ir. Vai machucar o Menino. Vai
assustá-lo com seus espinhos. Não queremos que você vá estragar nossa homenagem
de árvores. Fique aqui e sossegue!”.
O Pinheirinho ficou triste de novo. Por que estavam dizendo aquelas
coisas a ele? Ele tinha todo o direito de ir.
Passado um tempo, o Pinheirinho enxergou um casal de ipês. Vinham
pulando e cantando: “ - Flores pra Jesus, flores para a Luz. Roxas e amarelas,
tão lindas tão belas: flores pra Jesus”. Passaram sem cumprimentar o
Pinheirinho, ignorando a presença dele, ainda que ele os chamasse.
Tomado de grande tristeza, com as lágrimas rolando em seu tronco, o
Pinheirinho olhou para o céu e rezou: “ - Deus Pai todo-poderoso, por que o Senhor
me fez assim como sou: cheio de espinhos, sem folhas, sem flores e sem frutos?
Eu queria tanto ir adorar Jesus. Mas, porque sou desse jeito, ninguém me deixa
ir. Eu não queria ser como sou. Não consigo entender porque sou tão diferente”.
E continuou a chorar copiosamente.
Nesse mesmo momento, aconteceu algo maravilhoso: um Anjo do Senhor
apareceu no céu. Com a mão direita, pegou uma estrela, bem carinhosamente. E todas as outras estrelas se enfileiraram,
como se estivessem ligadas por um fio. Incrível mesmo! O Pinheirinho olhava boquiaberto. Então, o Anjo começou a girar seu braço, e a girar..., e as
estrelas tomaram forma espiral, dançando no céu. O Pinheirinho estava
encantado, maravilhado. Derrepente, o Anjo foi abaixando seu braço, abaixando seu
braço..., e descendo em direção ao Pinheirinho..., e chegando bem pertinho...,
e começou a contornar o pinheirinho com as estrelas..., e a contornar..., envolvendo-o
por inteiro num delicado espiral de luz. O Pinheirinho ficou paralisado, não
acreditando no que estava acontecendo.
Então, o Anjo lhe disse: “ - Vai, Pinheirinho! Vai, meu amigo! Seja a
luz das outras árvores! Vai à frente, ilumina o caminho!”.
O Pinheirinho saiu apressado, todo iluminado, no caminho para Belém.
Passou à frente das árvores e, lindo como estava, conduziu-as todas.
Quando chegou em Belém, cheio de luz, reclinou-se diante do Menino Jesus.
Adorou de todo coração, dizendo-lhe palavras bonitas, absorvido pela beleza
daquela criancinha. Então, pôs-se à entrada da gruta, como se fosse um guarda
muito elegante, de modo que a gruta ficou iluminada e todos podiam, de longe, ver
o presépio. A Estrela Guia, princesa da noite, pousou em sua copa, fazendo cosquinhas
em seus ramos. Que alegria! Não havia lugar mais iluminado na terra do que a
gruta de Belém.
Logo chegaram as demais árvores, emocionadas por encontrar o Criador do
Universo reclinado na manjedoura. Ajoelharam-se, uma por uma, e o adoraram.
Deram suas flores e frutas a Ele. O Pinheirinho, à porta da gruta, dava incessantemente
sua luz.
Nossa Senhora não tinha onde guardar as frutas, nem as flores, nem os
laços dos presentes que as outras árvores trouxeram, pois estava num estábulo.
Então, daquele jeito tão amoroso dela, olhou para o Pinheiro e sorriu. O Pinheiro entendeu o pedido dela – “ - Posso colocar os
presentes em seus galhos?” e piscou vagarosamente os olhos, acompanhado de um
sorriso, dizendo “sim”. Então, ela se aproximou e pendurou todas as frutas, as
flores, os presentes e os laços no Pinheirinho, para que não ficassem sujos nem
se estragassem. O Pinheirinho ficou tão feliz. Por graça de Deus, tornara-se a
árvore mais linda do mundo, cheia de frutos, flores, presentes, laços e
estrelas de luz.
É por isso que, até hoje, vemos um Pinheirinho próximo ao presépio,
iluminado pelas estrelas que o envolvem. Tem os frutos, as flores, os presentes
e os laços, e está coroado pela Estrela Guia. Ele é a árvore da luz que nos
lembra: nasceu Jesus!
Na noite de Natal, o Pinheirinho foi rejeitado por ser quem ele era. Mas
Deus o escolheu para ser luz. Era de sua diferença que o Senhor precisava. Das
outras árvores não se ouve comentar, mas o Pinheirinho é lembrado por todos até
hoje, quando se monta o Presépio.
Deus ama a todos e para todos tem uma missão especial. Não devemos nos
comparar nem nos rebaixar diante dos dons de alguém. Há sempre uma razão para
ser como somos. E há sempre uma beleza para revelarmos ao mundo. Nunca
discrimine ninguém, nunca rejeite uma pessoa e nunca se sinta inferior a alguém.
A lenda do Pinheirinho de Natal nos lembra que ele não tinha lindos frutos,
nem folhas ou flores. Seus espinhos não permitiam carícia, nem abraços, mas
podiam abrigar as estrelas e os presentes, porque havia amor. Assim, ele se tornou
a árvore mais carinhosa da história. Até hoje, ele acaricia nossas almas,
enchendo-as de ternura e alegria e nos levando a Jesus, luz do mundo.
Tenha um pinheirinho em sua casa. E lembre-se que todos somos especiais
para Deus, que todos temos uma missão e que Deus só precisa do nosso amor e do
nosso querer para iluminar o mundo. Feliz preparação ao Natal!
Recolhida da Cultura Popular
Por Carmem Lúcia da Silva Soares e Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS
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