O jovem poeta e poetisa anciã

O jovem poeta enamorado escreve sobre o futuro,

Do outro lado do muro, a poetisa anciã, recorda o passado;

O jovem poeta ilumina o amanhã acendendo sonhos;

A anciã poetisa alimenta as lâmpadas com os passos dados.

Derrepente tudo se inverte, e a palavra diverte os dois
Ele põe-se a descrever os passos idos com olhar de sábio ancião.
E ela abre fendas nos futuro embebida de um auguro jovial
Ambos tão certeiros e tão aveludados que seduzem qualquer atento coração.

Os dois falam da verdade como se fala de uma dama

Esplendor de todo palácio e do mais simples casebre.
Plena de sentido, repleta de beleza, em nobre linguagem

Fala sim de dor, de desamor, mas com célebre roupagem.

O jovem poeta se robustece nas palavras

Para prosseguir sua longeva jornada.
Para ele não são só versos simplesmente rimados,
É a vida traduzida na cadência bonita da alma pronunciada.

A anciã poetisa descobre, recorda e nos diz
Que a beleza de hoje com a de ontem dívida tem.

O que fora belo, maior beleza hoje ainda possui 

Porque a distância permite contemplar o todo de alguém.

E isto é a proeza de almas que se libertaram do simples acontecer dos fatos,
E se encontram onde encontra-se a dama beleza e o séquito de seus atos;

Que vê ali os rabiscos ou a assinatura de um belo Deus,

Que não conhece do ser humano só as tristezas, mas também os risos seus.

O jovem poeta e poetisa anciã tocam sem saber a alma de Altíssimo
E ali se encontram, se conhecem, se dão e satisfeitos estão.

Na alma divina ninguém se desespera, só espera o fecundo alento
Do esplendor de sua beleza, da ternura de seu olhar, da força de sua paixão.