Parábola do Coroinha Adílio
“ - São João, me empresta seus olhos", disse a ele,
"porque eu quero ver o que aconteceu com o Coroinha Adílio, que foi
martirizado com o padre Manoel. No Apocalipse, você descreve coisas lindas que
viu no céu: aquela imensa multidão que ninguém podia contar, diante do Trono e
do Cordeiro, com vestes brancas e palmas na mão; e o Cordeiro, que é Jesus,
enxugando suas lágrimas que caiam ao chão e conduzindo-os às fontes da água da
vida - então, permita-me ver, com seus olhos, o nosso amado Coroinha
Adílio (Cf. Ap 7, 9-17)”.
Sem nada me dizer, São João me emprestou os olhos seus. E
eu pude ver o Coroinha Adílio e o que com ele aconteceu. Foi assim:
Adílio chegou no céu junto com o padre Manoel. Os dois
estavam machucados, com tiros no corpo, com marcas das cordas nos pulsos e nas
mãos. Sofreram por terem praticado o bem (Cf. 1Pe 3, 17). O Coroinha chorava
muito. Mas apareceu Jesus, bem bonito. Ele tocou no rosto do Adílio, falou com
ele, enxugou suas lágrimas e curou suas feridas. Acalmou o seu susto e pegou-o
no colo. Adílio adormeceu. Quando acordou, estava limpinho, sem dor nem
tristeza e vestido de coroinha. Jesus quem o paramentou. O vermelho
da túnica era brilhante e bem gostoso de se olhar. O branco da sobrepeliz era
como a neve e cheio de paz. Seu corpo estava perfeito, os machucados já não
mais sangravam, e parecia cheio de luz como o corpo de Jesus.
O padre Manoel também estava lindo, parecia um anjo adulto,
e muito feliz.
Então Jesus, deu um beijo demorado no Adílio e disse a ele:
“- Coroinha querido, você cuidou de mim na Eucaristia, você
deixou as missas bonitas para mim, você ajudou o padre a rezar a missa com
muito amor. Eu nunca me esqueci nem vou me esquecer do que você fez por mim.
Você fez na terra o que os anjos fazem no céu. E teve a coragem de perder a sua
vida por mim. Eu não queria que te fizessem o mal. Eu até tentei impedir
aqueles homens de matarem vocês, mas eles não me ouviram. Eu chorei ao ver o seu
sofrimento.
- Como você nunca me abandonou, eu também não te abandonei.
Como você cuidou do meu corpo e do meu sangue, agora eu cuido de você. Porque
você deixou as missas bonitas para mim - e para o meu povo -, eu preparei um
lugar bem bonito para você, aqui, no céu. Porque você, com muito amor, ajudou o
padre a celebrar as missas, agora você ficará com os santos do céu, e nunca
mais sentirá dor, nem tristeza, nem medo ou qualquer coisa ruim. Sim, de todos
os temores eu o livro (Sl 33, 5b). E, como você deu a sua vida por
mim, agora eu dou, novamente, a minha vida a você”.
Jesus abraçou, demoradamente, o Coroinha Adílio. Depois, abaixando-se,
disse com muita doçura:
“Vai, agora, meu amigo, junto com o padre Manoel, para
fazer parte do coro de todos os que venceram o mal e entraram para o céu.
Deixa-me enxugar essa última lágrima aqui no seu rostinho... pronto. Pode ir.”
O Coroinha deu sua mão ao padre Manoel e com a outra ia
tocando a sinetinha... Trim-trim... trim-trim ... trim-trim... E os dois se
juntaram à multidão imensa de gente de todas as nações, tribos e línguas, e que
ninguém podia contar (Cf. Ap 7, 9-17). Experimentaram a felicidade infinita.
Deus os honrou, porque eles o serviram. Eles não perderam sua vida, mas a conservaram
para sempre (Cf. Jo 12, 24-26).
Quando eu acordei, estava muito emocionado e feliz por
aquilo que vi. Era o dia 21 de maio... Trim-trim... trim-trim ... trim-trim...
Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS
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