Questionamento acerca do Batismo
Vamos conversar sobre alguns questionamentos que católicos e
irmãos de outras igrejas fazem acerca do batismo.
Pe, Nildo Moura de Melo, OSFS
VIDA NOVA
O batismo significa um novo nascimento, nos traz vida nova, a
vida de filhos de Deus (Jo 3,5; Rm 6,4). Não podemos negar, principalmente quando
somos pessoas de fé, que ao recebermos o batismo nos tornamos filhos de Deus. Se
eu não vivo como filho seu, se não me comporto de acordo com sua Palavra, não
quer dizer que Ele não é meu Pai. Não é porque eu não conheço ou conhecia a Palavra
que está anulada a graça de Deus. Uma vez batizado, batizado para sempre. A
parábola do filho pródigo diz que o filho emporcalhado continuou a ser filho (Lc
15, 11-32). O pai apenas o revestiu com aquilo que ele havia perdido e com o
amor que ainda não tinha compreendido. Voltar para casa, voltar para o abraço
do Pai, pedir perdão: isso é a conversão do batizado, isso é ser encontrado,
isso é tornar a viver.
PERDÃO DOS PECADOS
O batismo significa o perdão dos pecados. A criança, embora não
tendo pecado, participa da sorte dos pecadores, como todos os seres humanos
participam da sorte de Adão e Eva (Gn 3, Rm 3,23; 5,12.19; Sl 51,5). A Igreja
chama isso de pecado original. Pelo batismo recebemos o perdão dos pecados que
herdamos desde Adão e Eva e somos novas criaturas em Jesus Cristo. Depois do
batismo, sendo crianças ou adultos, continuamos nossa batalha e, por vezes,
pecamos novamente (Rm 7,19). Como o pecado não é vontade de Deus, Ele nos lava de
novo, não pela água do batismo, mas pela água de nossas lágrimas, pelo
arrependimento e por Sua misericórdia, no Sacramento da Confissão (Santo
Ambrósio, século IV). As Escrituras não nos mostram alguém que recebeu o Batismo
pela segunda vez, mas nos fala de pessoas que se arrependeram e começaram novamente
(Tg 5,16).
BATIZAR CRIANÇAS
Quanto ao argumento de que crianças não devem ser batizadas,
uma vez que ainda não fizeram sua opção de fé, lembramos que, Abraão, por
exemplo, recebeu do Senhor o mandato da circuncisão, símbolo da aliança e do
selo da justiça da fé (Gn 17,12). E isso devia ser administrado aos meninos de
oito dias, mesmo que meninos de oito dias não cressem. Os pais, pela fé,
ofereciam a criança a Deus. Não eram as crianças que escolhiam a circuncisão,
mas os pais. Como judeus, eles concediam aos filhos a graça de fazerem parte do
povo de Deus, de trazer em si a aliança com o Senhor. Jesus recebeu, ao oitavo
dia, a circuncisão. Era uma criança, sem uso da razão, mas passou pelo rito de
justificação pela fé do Antigo Testamento. No Novo Testamento (Mt 28,19-20), o
batismo substituiu, como ensina Paulo, a circuncisão (Cl 2,11-12).
JESUS FOI BATIZADO ADULTO
Jesus foi batizado adulto porque João começou a batizar
adulto. João não batizava antes, uma vez que era apenas seis meses mais velho
do que Jesus. Assim que João começou a batizar, Jesus foi receber o batismo
feito por ele. Explicitamente, o Novo Testamento não fala do batismo de
crianças. É bom lembrar que também não fala do batismo de jovens. Fala, sim, de
famílias inteiras sendo batizadas, o que leva a crer que haviam crianças e
jovens. É o exemplo do Centurião Cornélio (“com toda a sua casa” At
10,1s.24.44.47s), a negociante Lídia de Filipos (At 16,15s), o carcereiro de
Filipos (16, 31-33), Crispo de Corinto (At 18,8) e a família de Estéfanas (1Cor
1, 16).
PAPA FRANCISCO
No dia 11 de abril de 2019, o Santo Padre deu início a um
ciclo de catequeses sobre o Batismo, e nos deu uma explicação muito bonita
sobre o batismo de crianças. Disse ele:
“Deixar de batizar uma criança por ser criança significa não
ter confiança no Espírito Santo. Porque quando nós batizamos uma criança, entra
naquela criança o Espírito Santo. E o Espírito Santo faz crescer, naquela
criança, as virtudes cristãs que depois florescerão. Sempre é preciso dar esta
oportunidade a todos, a todas as crianças, de ter dentro delas o Espírito Santo
que as guie por toda a vida” (Papa Francisco).
NÃO ESTÁ ESCRITO NA BÍBLIA
A Igreja tem três fontes para seus ensinamentos: a Bíblia, a
Tradição e o Magistério (o Papa e os bispos). A Bíblia é a nossa principal e
inquestionável fonte das verdades para nossa salvação. A Tradição nos faz
compreender fatos e costumes que não estão escritos na Bíblia, mas são
igualmente verdadeiros. O Magistério, de forma especial o Papa, sucessor de São
Pedro e vigário de Cristo, interpreta a Bíblia e a Tradição para cada momento
específico da história, de forma que os cristãos possam ser fieis ao que Deus pede.
Muitos questionam o valor doutrinal da Tradição e a confundem
com invenção. Não. Ela não é invenção. A Tradição é boa, correta e nos comunica
aquilo que não está escrito, mas é verdadeiro. O Apóstolo João deixou claro que
nem tudo está na Bíblia, quando diz: “Jesus fez ainda muitas coisas. Se fossem
escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos”
(Jo 21, 25).
Cito, agora, alguns exemplos da autoridade da Tradição: 1) sabemos
que a Bíblia é o Livro Sagrado porque a Tradição nos ensinou isso. Se não fosse
a Tradição, por meio de quem Deus nos garantiria que este livro foi inspirado
por Ele mesmo?; 2) foi a tradição oral dos judeus que possibilitou que o Antigo
Testamento fosse escrito. Depois de muito tempo passando de geração em geração
é que foi escrito a travessia do Mar Vermelho, por exemplo.; 3) também é a
Tradição que nos conta por onde eles andaram depois que Jesus ascendeu ao céu e
como foi a morte dos Apóstolos; 4) é a Tradição que nos aponta a localização
exata dos lugares Sagrados como o santo sepulcro, a gruta do nascimento de
Jesus, os montes em que Jesus esteve.
Depois que a Tradição aponta, a ciência comprova, como tem
comprovado. Então, se desvalorizarmos tanto a Tradição, desvalorizaremos o
testemunho não escrito de tantos crentes que seguiram fielmente Nosso Senhor. A
Tradição é, portanto, fonte inequívoca para conhecermos verdades que não foram
registradas nas Sagradas Escrituras.
Que Deus abençoe a nós todos e possamos viver bem o nosso
batismo.
Abraços.
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