A Catequese e a Família

         Quando me encontro com os catequizandos de nossa paróquia, sempre lhes pergunto: e a família, como está? Geralmente as respostas são semelhantes: “Está bem!” “Está tudo bem sim!” “Tudo tranquilo!”.  Às vezes ela muda um pouco: “Está tudo bem, só fulano que tá um pouco doente...” “Ah, você já sabe...” “Está bem, mas, sabe né, fulano vive pegando no meu pé...”. A pergunta parece simples e corriqueira, mas não é, nem tem a pretensão de ser. Ao perguntar, desejo ir mais longe, ressaltar que a família deste catequizando é importante para nós, Igreja, e que não existe uma pessoa feliz, sem a felicidade e o bem das pessoas que fazem parte de suas relações mais intimas e profundas, em outras palavras, estou interessado no bem de sua família, pois é o bem dele também. No entanto, cada dia tenho percebido um distanciamento crescente das famílias em relação à Igreja e à Catequese. Então surge uma pergunta: por que a catequese, sendo essencialmente boa, visando a formação religiosa, moral e ética do ser humano, não atrai as famílias? O que se perdeu?
Primeiramente sou levado a concordar que a vigente inversão de valores na sociedade afastou as pessoas das propostas cristãs, uma vez que seguir Cristo exige comprometimento e renúncia, palavras não tão bem vistas pela pós-modernidade. Os ideais atuais tirou dos altares da vida familiar o referencial religioso e ao substituiu por ideais de consumo, prazer e fama. A cultura deste sistema capitalista distanciou as pessoas de Deus ao afastá-las da instituição Igreja e do relacionamento comunitário gratuito, responsável e recíproco. Como consequência, fragilizou a família, sem conscientizá-la disso e muito menos oferecer-lhe ajuda consistente para que não se desestabilize.
Penso também, que a catequese não tem cativado a família pelo fato de estarmos fazendo pouca distinção entre a família que vem até nós e a família que desejaríamos que viesse até nós. Parece que temos o ideal do bom relacionamento com ela em nossa cabeça e até mesmo em nossas orações, mas não temos a força de fazer este ideal tornar-se real. Infelizmente a catequese não está em harmonia com a família, como tanto deseja. A brutalidade do sistema em que vivemos, parece vencer a força da nossa fé e da nossa Igreja. Não conseguimos alcançar o ritmo das mudanças. E a gente se cansa... Sim, pessoal, tá todo mundo cansado. Cansados de trabalhar, às vezes, porque usamos ferramentas e métodos inadequados...
Nós catequistas, se quisermos conhecer as famílias e ter capacidade para ajudá-la precisamos nos tornar mais sinceros e humildes, pedir ajuda de quem sabe, recorrer a métodos que ainda não experimentamos (claro, desde que não fira nossa fé). Como está tua família, por exemplo, é uma pergunta que, dependendo da resposta, mexe com todas nossas concepções e revira nossas experiências, por isso precisamos estar preparados, com uma visão que vá mais de um palmo além do nosso nariz. Do contrário, oferecemos respostas vazias e sem sentido aos catequizandos e isto só atrapalha. Temos uma missão: com fé, ousadia, sem medo, firmados nos ensinamentos do Evangelho vamos propor um jeito de viver! Mas, nós sabemos que jeito é esse? O que se perdeu na catequese, penso que é isso: uma proposta de vida mais clara, mais palpável, mais verdadeira. O Evangelho possui esta proposta, mas nem sempre conseguimos transmiti-la, traduzi-la e valorizá-la. Precisamos aprender! Aprender a chegar ao coração das famílias. O coração das famílias são os filhos, melhor dizendo, se manifesta nos filhos. Para chegar até ele é preciso meios, por isso vou ousar propor alguns que acredito, podem nos ajudar a restabelecer o laço de amizade mútua entre família e catequese e reconquistar a relação perdida.
O primeiro deles é: Encontrar-se com os pais. Se você fosse a um encontro de catequese, o que gostaria que fosse transmitido a você e sua família? Então é sobre isso que você vai se preparar para dizer...
Segundo: Oferecer horários e datas alternativas para esses encontros. De preferência mais de um horário e data para cada encontro. Avisar com antecedência e não alterar horário e local.
Terceiro: Buscar ajuda na Pastoral Familiar, no ECC, nas escolas e Grupos de Jovens. Há outros grupos e pastorais que estão muito próximos da catequese e que podem contribuir, então podemos convidá-los, e em outras ocasiões contribuir no trabalho deles também.
Quarto: As famílias têm muito medo que seus filhos sejam agredidos pela violência, às vezes, presente até mesmo na Igreja. Temos que fazer alguma coisa para que a família confie em nós, em nosso espaço, em nossa companhia. Sugiro que pensemos na possibilidade de cada grupo ser acompanhado por duas ou mais catequistas. Em dupla, por exemplo, uma ajuda a outra e as crianças sentem-se mais esperadas e cuidadas. Se uma não puder vir ao encontro, a outra virá. As duas cuidarão para que, pelo menos, uma chegue meia hora antes para preparar o ambiente e acolhê-los e a outra saia só quando todos tiverem ido embora. São duas presenças que qualificam os encontros.
Quinto: Os pais precisam conhecer a rotina e o conteúdo da catequese. É importante mostrar a eles: o material usado, o espaço, a didática, o cronograma, as datas, os objetivos atingidos e aqueles que estão a desejar, a meta que se deseja alcançar e também o que se espera da família.
Sexto: É preciso cobrar responsabilidade, mas não impor peso às famílias. Catequizandos que dificultam os encontros, geralmente apresentam problemas na escola, em casa em outros lugares. A correção na catequese tem que ser diferente. Os pais não devem receber todo o peso, precisam sim, se comprometer, por isso a catequista irá apresentar propostas em toda cobrança e nunca somente o problema.
Sétimo: A obediência é um desafio na atualidade. Gente com dificuldade de obedecer e gente com dificuldade para orientar. Como resolver isso? Estabelecendo diálogo sincero e coerente, delimitando espaço para cada momento e atitude, não prendendo demais, nem soltando muito, sempre mantendo o equilíbrio. Catequizando adolescente fica com raiva da gente às vezes, mas isso passa e depois ele reconhece seu erro e amor de quem o corrige. Por isso temos que ser firmes, mas ao mesmo tempo dóceis e acolhedores.
Oitavo: Fazer bom uso das tecnologias. Não tê-las como inimigas. O celular, o computador que as crianças e jovens trazem à catequese devem ser integrados dentro das dinâmicas do grupo. Vez ou outra fazer pesquisas, leituras bíblicas nestes aparelhos que a maioria dispõe. Também, aprender e utilizar Data Show, projeções em slides, filmes, brincadeiras e outros. Permitir a interatividade. Ser conscientes que os catequizandos têm agilidade para jogar com as tecnologias e os meios tradicionais sem acarretar perda substancial a um ou ambos destes meios. Mandar e-mail, links, participar de grupos nas redes sociais. Estar nas redes sociais. Ser para eles, uma possibilidade de diálogo e de referência no âmbito virtual.
E por último: É preciso rezar pelas famílias na catequese, nas celebrações, no silêncio da oração pessoal. Confiar só em nossas forças é enganar-se. A família com a catequese é graça de Deus. É bom que ela veja e ouça que estamos rezando por ela e seja convidada a rezar junto. Por exemplo, quando um familiar de um catequizando está doente, rezar pela família e até mesmo convidar a família para rezar por esta situação junto com o grupo de catequese.
Então catequistas, vamos refletir sobre este tema. O texto não está terminado, nem o assunto esgotado. Obrigado pela atenção.

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