Adolescência
A
adolescência é uma graça na vida do ser humano, uma graça que alcança cada
pessoa em particular e atinge as demais que a circundam. Assim como a maioria
das graças, muitos só vão reconhecê-la depois de muito tempo. Talvez porque não
compreenda sua importância dentro da construção da personalidade e da identidade
do sujeito. Ou porque não tem boas lembranças de sua própria adolescência. Ou
ainda por estar fechado a tantas outras coisas importantes da vida, que esta é
só mais uma. Vamos agora discorrer sobre essa fase da vida, compreendendo-a
como graça e identificando alguns fatores e possíveis atitudes a serem tomadas.
1)
A
adolescência é um momento de transição muito forte, que desconforta, mas também
gera muita esperança, que desafia e projeta sonhos. Transição, passagem,
mudança, são palavras que remetem à movimento, à ação de mexer com as coisas,
tirá-las do lugar. Dito isto, podemos passar a refletir sobre o que é
necessário para que aconteça essa transição, e então lembrar que só se passa de
um lugar ao outro, de uma posição à outra, se tivermos firmados em algo. Sim,
como momento de transição do ser criança para ser adulto, a adolescência tem
coisas bastante firmes e que merecem o nosso cuidado e nosso respeito. Por
isso, embora reconhecendo-a como momento de transição, não se deve encará-la
como inconsistente, perturbável, nem querer retardá-la ou apressá-la. É
importante valorizá-la, respeitar seus aspectos próprios e cuidar para que nada
seja ignorado ou discriminado. É humano o que acontece por isso com humanidade
deve ser tratado.
2)
A
adolescência precisa ser vivida pelo adolescente e o seu meio. Não que seus
pais e educadores tenham que ser adolescentes também, não se trata disso, mas
de alteridade e empatia: ser adolescente um pouco, colocar-se como eles/outro,
sentir o que possivelmente eles estejam sentindo, pensar com as informações que
eles têm e com os retalhos que eles conseguem ficar de tudo o que velozmente
acontece na atualidade, para então formar e forjar no adolescente o caráter, as
virtudes, a moral que se crê ser a melhor. Quando assim acontece, a educação
nunca será exercício de impor um destino, mas de deixar traços para o futuro,
porque pais e educadores que forjam valores testemunhando com a vida o que
transmitem, permitem que o pensamento se faça na dialética da informação/formação
- realidade.
3)
A
constante variação num adolescente é um fato e também um mito. A maioria deles
conhecem essa ideia da inconstância dos adolescentes e usam disso na hora de
encarar nossas determinações. Mas acredito que não é bem assim. A maioria dos
adolescentes que conheço tem sim, uma filosofia de vida e um modo de ver as
coisas. Nem sempre tem a capacidade para mostrar isso e por vezes muda de
opinião. Isso é bom. O adolescente não tem o compromisso de ter que se fixar
muito em algo, é um tempo de conhecer as oportunidades para depois fazer certas
opções, no entanto, isso não quer dizer que não está fixo. Já possui sim,
muitos ideais, conceitos se formando e que para ele tem um peso bastante
considerável, medos na maioria das vezes não respeitados, dúvidas e
questionamentos que ainda não foram ouvidos. É preciso estar atento a isto.
4)
O
jovem deseja conhecer o mundo e muitas vezes faz isso pelos nossos olhos. São
os adultos que não percebem e acabam provocando conflitos. Aliás, conflito é
uma palavra que muitos julgam rimar com adolescência. Na verdade é um equivoco
olhar por esse prisma. O conflito faz parte de toda nossa vida, pois existe
para purificar umas coisas e firmar outras. O que de fato muda é a intensidade.
Na adolescência estes conflitos são mais visados devido à questão de
autoridade, subordinado e responsável. Os adolescentes questionam, batem o pé,
fazem diferente do que foi pedido. Os pais tem medo de perder a autoridade e por
vezes agem com autoritarismo. Os filhos reagem. Se não há discernimento e
ponderância nessas horas, o diálogo se extingue e a relação fica mais
complicada. Relação complicada não quer dizer impossível. Às vezes acontece e
passa. O que não se pode é deixar passar muito tempo. Conflitos são saudáveis. Se
brigam conosco, é porque somos significativos em sua vida e para a formação de
sua ideias. Quando ignoram o que seus responsáveis falam, ai sim pode ser um
motivo de atenção maior, pois outra voz está tendo a primazia em sua conduta,
mas quando travam brigas com os responsáveis é sinal de um diálogo que pode
existir, de purificação das ideias, de lapidação em busca da preciosidade.
5)
O
adolescente é um ser com muitos projetos, mas com muito medo também. Medo de
repetir o que não deu certo, de não ser tão bom como as figuras idealizadas por
eles. Muitos afirmam que a figura de pai e mãe como super-heróis da infância se
desfaz nessa idade, mas ouso dizer que não é totalmente. Por mais que o pai, a
mãe ou aquele que tem a tutela não seja mais tão idealizado, ele é alguém que
está na frente. Se acertou ou errou, pelo menos continua aí. Se eles tem visão
de futuro como os adultos, creio que não. Mas o futuro não lhe é tão abstrato,
a ponto de até os assustar. Os adolescentes tem medo da realidade violenta e de
não serem fortes para enfrenta-la, tem medo da herança que os adultos deixarão
a eles, tem medo do próprio medo, por isso muito pouco expressam sua
temeridade. Vejo que cada dia mais o paternalismo, por exemplo, faz crescer a
insegurança que está há um passo do medo doentio. O medo é bom, se tiver um
equilíbrio. Este equilíbrio quem dá são os educadores e responsáveis. Mas se
ninguém ouve o adolescente, seu medo cresce, mesmo debaixo de uma carapuça de
valentão.
6)
O
adolescente gosta muito de curtir! Sim, gosta, mas ele gosta de ser curtido
também. Então a curtição é uma forma de mostra-se aí. O adulto entra como
aquele que dá limites e aponta horizontes. Ou seja, põe regras em algumas
coisas para mostra que a vida não é sempre “lua de mel”, mas que ela tem
horizontes e que estes horizontes não se dão gratuitamente, e sim com esforço e
contínuo crescimento. É bom lembrar que aí se apresentam os gostos e os gostos
são um apontamento para uma profissão de uma vocação, um desempenho social.
7)
Ao
falar em adolescente, me faço a pergunta: que tipo de pessoa a sociedade quer?
Compreendo que nem mesmo a sociedade sabe, ou pelo menos aquilo que poderíamos
chamar de a maioria das pessoas. Encontramos ideologias, segmentos, filosofias,
religiões, mas uma visão geral não há. Para isto seria necessário uma moral
comum, um estereótipo ideal, mas isso está longe de acontecer. Talvez se
tivesse seria mais fácil para os educadores e pais e para o próprio
adolescente, pois ele teria claramente dois caminhos: poderia se opor
plenamente a isso ou então embarcar nessa construção com toda sua energia. Como
não há imagem consensual de um tipo de pessoa que a sociedade como um todo
deseja, o adolescente que feito uma lagoa, recebe água de vários rios, nem
sempre tem fixo um objeto claro que o satisfaça e satisfaça às demais pessoas.
Sem querer me estender no conceito de comunidade, quero mencionar que este
fator uma vez era mais uniforme, mas hoje uma comunidade está se caracterizando
bem mais pela diversidade do que unidade, o que uma vez possuía força por causa
das ideias comuns e por isso caracterizava mais os seus membros, hoje desafia
bem mais quem quer se afirmar como personalidade influente aceita, reconhecida
como sujeito deste grupo.
8)
O
adolescente é fruto da experiência enquanto criança. Todas suas atitudes, por
mais novas que sejam não são invenções dessa fase. Mas uma melhor elaboração de
tudo o que ele já viveu, uma pequena explosão que ao ter mais potencialidade,
também se potencializam. Portanto pais que não cuidaram de pequenas atitudes
dos filhos pequenos, agora na adolescência vem ser dar conta de que isso apena
evoluiu, cresceu com eles e não foi inventado nesta nova fase da vida.
9)
As
experiências dos filhos de hoje é diferente da dos pais e de muitos educadores.
Os adultos não viveram o que eles vivem hoje e não viverão, sua adolescência
passou, pois passa para todos. Como então, dialogar se as experiências são
diferentes? Como já mencionei, pelo caminho da empatia e da alteridade.
Deslocando-se de si para pôr-se no lugar e na situação do outro. Pais e
educadores que procuram ver as coisas com as condições e experiências dos
filhos e educandos e adolescentes que são incentivados e desafiados a mesma
atitude, acertam mais no diálogo e sintonizam mais a frequência de suas ideias,
dos seus sentimentos. Não adiante tentar estigmatizar um lado ou outro, isso só
distância. É necessário aproximação. Educação que não envolve não é educação, é
brincar de educar e de ser educado e no fim frustra. Precisamos ser
construtores da felicidade e para isto necessário faz-se curar as feridas,
corrigir os erros, fortalecer as qualidades, apontar horizontes, privilegiar a
verdade e dar supremacia ao amor, razão pela qual é feliz o ser humano.
10)
A experiência que creio, ser a mais
importante na fase da adolescência é a do amor. O adolescente precisa aprender
amar, a distinguir o que e o que não é amor. Precisa ser amado e amar. Bonito,
né? Mas, o que é amor? Ou, de que tipo de amor falas? O amor é a atitude que
contem sentimentos, na busca do bem do outro e sua felicidade. Falo do amor ágape
que dá de si para que o outro esteja bem. Um amor que engloba outros aspectos,
como a satisfação de que se dispõe a amar, mas principalmente um amor que quer
ver o outro bem. O adolescente precisa sentir que alguém o ama desse modo para
também amar assim. Quem ama é paciente, é prestativo. Quem sabe amar não é
invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho e nada faz de inconveniente.
Uma pessoa que ama não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda
rancor, não se alegra com a injustiça e tem grande alegria quando vive a
verdade. Quem ama tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta por que o
amor é a maior de todas a virtudes. O amor é uma experiência, é uma opção, é
uma tendência, é um dom, é uma necessidade e uma marca do e no ser humano. O
adolescente precisa amar e ser amado para compreender e ser compreendido, para
ser alguém que quando adulto proporcionará também a outros a mesma experiência.
O amor impede que o "homem seja lobo do homem", que a sociedade se perca em torno
de si mesma, que a ideia do nada sufoque o homem. Ele dá sentido a existência e
projeta para a transcendência. Ele liga o homem à vida e a vida ao homem. Ele
restaura o que instaura sempre de novo.
Por
fim, é preciso dizer: aproveite a adolescência. É um tempo fecundo, é um presente
no presente da vida da gente, adultos e adolescentes. Embora seja uma fase da
vida que passa, viva-a como tempo presente. Viva o presente da vida do adolescente,
seja ele teu filho, aluno ou você mesmo. Viva a graça da adolescência e terá
sempre um motivo gracioso, engraçado, de graça e gratificante em tua vida.
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