Cuidando dos adultos! Cuidando das Famílias!


No primeiro texto sobre o tema Catequese e Família, abordei o movimento que pode ser feito pela catequese em busca das famílias e do conhecimento dela, e procurei esclarecer qual a missão da catequese neste âmbito. Agora, no presente texto, quero ir mais profundo e refletir o tema “família” no contexto atual, tratando de aspectos mais amplos que no texto anterior, mas igualmente necessários. Creio que nossa outra conversa abriu espaço para o que apresento na sequencia. Boa leitura. Anotem aspectos que gostariam de apresentar ao grupo e que consideram mais importante salientar. Vamos lá então? Legal!... Que Deus nos conduza com seu Santo Espírito!
Tenho ouvido falar que nos dias de hoje as pessoas estão mais frágeis, que não estão preparadas para encarar os desafios da vida, que nossos avós pareciam pessoas muito mais fortes, cheias de fé, convictas de tudo o que ensinavam e preparadas para dar cumprimento ao que nos transmitiam. Será que é assim mesmo? Eis uma questão bastante complexa.
Meus amigos e amigas, penso que não são as pessoas que estão mais frágeis ou menos preparadas para encarar os desafios da vida. Não é esta geração de pais que perdeu o jeito de educar a criança, cuidar do jovem, manter a família estável. Não! A verdade está no fato de que o contexto em que vivemos mudou. Não são as pessoas que estão mais vulneráveis, mas as questões que estão mais “amplas”. Este horizonte acaba confundindo e desestabilizando todos nós, pois se mostra, ao mesmo tempo, sedutor, cheio de oportunidades como também, de perigos. Outrora os pais transmitiam seus valores aos filhos dentro de uma comunidade e estes valores eram sustentados e encarados com naturalidade, sem muitos questionamentos. O destino das pessoas era ‘formatado’ desde muito cedo, não havia muitos caminhos a optar, senão um mais ou menos parecido com aqueles em que iam os pais.
Na atualidade, o contexto educacional se ampliou e as coisas se dão em muito mais velocidade e quantidade, desde as informações, até as oportunidades. O bem e o mal batem muito mais a porta e estão muito mais disfarçados do que em outros tempos. Então os adultos, responsáveis pela educação das novas gerações, se veem confundidos. Não sabem se vivem o encantamento do novo ou se o repudiam, pois ninguém realmente o conhece. Vejo filhos reclamando dos pais e pais com medo de assumirem sua responsabilidade, bem como, pais que decretam a falência da educação de seus filhos. A novidade deste tempo em que vivemos desestabiliza os adultos e eles se sentem atrasados, incapazes, menos aptos a viver neste universo cheio de novidades que seus filhos dominam com tanta facilidade. Os adultos, por vezes, têm se demonstrado como estrangeiros nesta era, como alguém que chega num lugar e não o conhece direito. Assim, consequentemente, perdem o controle na educação, se rendendo aos argumentos dos filhos ou apelando para o autoritarismo: nenhuma dessas posições ajuda. Os jovens tem se mostrado imaturos, descontentes, insatisfeitos, mesmo podendo fazer e ter tanta coisa. Sim, podem fazer muita coisa, mas não tem o chão firme na família para fixar-se com suas emoções, sentimentos, ideais e para assumir seu papel responsável e inovador perante sua realidade.
Essa primeira grande característica nos remete à outra consideração: estamos vivendo uma mudança de época, com características próprias deste acontecimento. Uma mudança de época se apresenta por uma insatisfação e renúncia ao antigo, bem como uma incerteza quanto ao futuro. Numa mudança de época vive-se um desconforto, igual ao que se tem numa mudança de casa, por exemplo: de um lado se mostra a saudade da morada antiga (quantas pessoas não dizem: há que saudade daquele tempo?...) e do outro o desafio de acostumar-se na nova moradia (outras dizem: não vejo a hora de todo mundo encarar as coisas com mais naturalidade...). Numa mudança de época as coisas são incertas, pois estão procurando um terreno para se mostrarem estáveis novamente. O que pesa com tudo isto é simples para dizer e difícil para cumprir: coube aos adultos de hoje conduzirem as gerações mais novas para o futuro, de modo a não perdê-la, nem deixar que se perca - que missão desafiadora! É ai que surgem os vários conflitos que conhecemos muito bem.
A partir das incertezas vêm os julgamentos e assim muitos adultos reclamam da juventude e adolescência atual, dizendo em tom negativo: “os jovens de hoje não são como os de nosso tempo”. Esquecem assim de um fator fundamental para a verdadeira compreensão da realidade: os jovens de hoje são filhos dos jovens de ontem, ou seja, de alguma forma, nossos jovens estão reproduzindo algo da geração precedente (embora isso também já soa como julgamento). Não é questão de quem tem a culpa, mas da desvinculação do preconceito e estigmatização de gerações.
Diante deste quadro, tenho percebido que o caminho a ser feito pela catequese, pela Igreja e por todas as instituições que queiram cuidar da família não é tanto diretamente com os jovens, mas com os adultos. Se realmente cremos que um mundo melhor se constrói com base nos valores que só ela pode cultivar, precisamos urgentemente começar a cuidar dos adultos. Os adultos estão clamando por cuidados, aquele cuidado cheio de afeto, de seriedade e confiança, um cuidado ‘acolhedor-aconchegante’. Quero dizer que cuidar da família é cuidar também dos adultos, corresponder às suas necessidades, ampará-los na missão. Talvez esses adultos sejamos nós mesmos! Não importa. É hora de cuidar e de reeducar - de reorientar.
Mas como? Salta-nos essa pergunta ao coração. Creio que para isto, são imprescindíveis alguns aspectos: Primeiro: a acolhida – um espaço e um tempo para receber gente da família. Mais do que tempo cronológico e espaço material, é preciso criar essas dimensões no coração - no coração de cada catequista e no da comunidade. E aqui surge o desafio maior, o segundo aspecto: despertar a comunidade para essa acolhida. Não venceremos esse “terremoto” apoiado numa perna só. Não conseguiremos viver a mudança, com algumas “rodas” do nosso “caminhão” furadas. Não será aconchegante a “casa nova” para a qual se encaminha a sociedade se algumas partes estiverem “descobertas”. Quanto esforço que desmaia por falta de apoio, não é?! Chega de reclamar! A catequese quer cuidar das famílias e resolveu mexer de verdade com a comunidade: “Vamos cuidar também dos adultos!” Como nossas comunidades são constituídas 90% de adultos, isso se torna um movimento imenso que só unidos podemos conseguir. Ai então vem outra sugestão: as paróquias podem se juntar, formar uma equipe, para trabalhar nas comunidades a missão do cuidado dos adultos, sem o qual, segundo nossa compreensão, não se consegue efetivar nenhum trabalho frutuoso com as famílias. Uma equipe que passe nas comunidades num dia em que as lideranças estejam reunidas e lhes lance esse desafio – acolher as pessoas na integralidade, cuidar de seus filhos e cuidar dos adultos. Ou seja, semear esta ideia.

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