Árvore da esquina
Sou a árvore da esquina,
Esquina da grande cidade,
metrópole.
Sou sozinha,
Vejo todo mundo,
Mas não faço a diferença para
quase ninguém.
Os pássaros de quando em quando
pousam em meus galhos
Numa passagem rápida e por vezes
ríspida.
O vento me sacode, me
impressiona,
E me marca de acordo com as
estações.
As luzes dos carros a brilhar e
suas buzinas a sonar:
Tem gente esperando um sinal para
atravessar.
Histórias, as mais variadas, são orquestradas
pelos corações
Que nem me notam na multidão.
Mas eu noto e anoto tudo na pauta
dos vasos que em mim existem:
Me sinto fotógrafa desta cidade.
Por vezes gosto de lembrar-me da
mãe cuidadosa
E dos jovens enamorados de
primeira viagem.
Há imagens lindas que só eu vejo
e revejo.
Ah, isso é bem legal!
Pena que não tenho com quem compartilhar:
Beleza compartilhada multiplica!
Tem também aqueles cachorros
deselegantes que nada me agradam
E os desumanos humanos sem um
pingo de respeito.
Queria chutá-los com força. Que
pena!
Minhas raízes não se movem deste
chão cimentado.
Bem, aqui estou eu com minhas
confissões.
O que estará pensando o meu amigo
aí do outro lado?
Já que lhe confidencio, quero
dizer que, na verdade, ando meio triste.
Por quê? Porque me sinto
esquecida.
Busco o ar fresco em meio às
fumaças que deixam os automóveis,
Sinto-me sufocada e enegrecida de
uma cor que não é minha.
Por causa delas nem sempre os
raios do sol me inebriam.
Ninguém vê, ninguém ouve o meu
grito. Espero a madrugada.
Gosto da madrugada!
Há silêncio e calmaria
E posso sentir a seiva que me
alimenta.
Mas a madrugada que me acalenta
com a solidão
É a que me faz entender também de
que sou mesmo sozinha.
É, a vida me pôs aqui.
E esse vai vem que por vezes me
chateia
Está aquém dos meus desejos.
Mesmo assim, eu sou a árvore,
Eu sigo sendo eu e faço esforço
para não me confundir.
O dia que me tirarem daqui?
Bem, não vale a pena pensar nisso.
Eu sou a árvore da esquina.
Se algum dia não o for mais...
Acho que simplesmente não serei.
O que vale mesmo é o que sou
sendo aqui!
É isso aí!
Grato por me deixar falar e por
me perceber onde ninguém ainda o havia feito.
Coragem, amigo! Todos precisam
desta virtude.
Não se esqueça de mim: sou
a ÁRVORE DA ESQUINA,
Árvore já não tão menina,
Árvore que te fez interprete de
sua sina.
(Absorvido pela mensagem, não fotografei a árvore inspiradora, nem guardei o nome da rua de Porto Alegre onde eu a vi. Por isso, fica sem imagem para que cada um a veja em seus sentimentos.)
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