Nossas relações - Espiritualidade Salesiana

Bem, para ele a relação com Deus
é saudável quando alegria, humildade, comprometimento, liberdade, confiança,
oração e Sacramentos são unidos ao cumprimento dos deveres cotidianos e enlaçados
num afeto que permite acolher a Vontade do Senhor e, assim, viver um apaixonamento
sempre crescente e fervoroso[1] por quem
Deus é.
A relação com o próximo é bela
quando se é sempre caridoso, manso, humilde[2] e
respeitoso, quando se cultiva boas amizades, quando se imita Jesus no trato
para com todos e se ama o próximo em Deus e por Deus.[3]
A relação consigo mesmo é sã
quando a pessoa se conhece, tem paciência perante seus erros, tem mansidão no
corrigir-se (IVD, III, IX)
e amor à vida que o Senhor deu, quando se vive dignamente a vocação e profissão
a qual se comprometeu.
A relação com a natureza e o
planeta é boa quando vemos nela a beleza e bondade de Deus e, por isso, a
respeitamos de forma a não ferir a mensagem que diariamente o Senhor nos envia
nem roubar a parte que cabe ao outro.
Vocês, meus amigos, a esta altura já devem ter concluído que o santo bispo colocava a caridade sempre em primeiro
lugar. E ela podia ser reconhecida pela doçura que é a sua flor (IVD III, 8).[4] Vocês
também hão de concordar que, com facilidade, encontramos atitudes rudes e
grotescas por onde andamos. Quanta gritaria ofensiva em nossas famílias,
escolas, estádios e programas televisivos!? O trânsito e as redes sociais não
poucas vezes são lugares de hostilidade. Francisco atinge estas ocasiões e nos
diz: “não percais nenhuma ocasião, por pequena que seja, para praticar a doçura
de coração para com todos” (Carta 455). Ele sabia que é fácil ser seduzido
pelos maus exemplos e que é difícil resistir aos estímulos da cólera. E bem
sabia, também, que as relações se tecem pelas pequenas coisas e simples
atitudes.
Caros amigos, somos fruto daquilo
que são nossas relações, pois “tudo na vida gira em torno dos relacionamentos”[5], como já
intuíra Francisco de Sales. Somos um pouco (ou um tanto) dos nossos pais, dos
nossos amigos, vizinhos, colegas, um pouco do lugar onde nascemos e onde
vivemos, um tanto conforme a ideia que cultivamos de Deus. Medos e sonhos,
virtudes e limites são confeccionadas entre a relação que temos com estas
pessoas, lugares e situações.[6] Sendo
assim, cabe-nos apegarmo-nos a Jesus e fazer como ele fazia: priorizar o
relacionamento com o Pai. Isso consiste em amar e fazer o bem, por Deus (Cf.
Santa Joana de Chantal). De fato, como uma pessoa pode viver bem se maltrata a
natureza? Como alguém pode viver em paz quando inferniza a vida dos outros?
Como é possível ser cristão se o Reino de Deus está sempre em segundo lugar? E
se tem ódio para com este e aquele, como alcançar a verdadeira liberdade? Se é
dado à fofocas, intrigas, enraivecimentos e mesquinharias, poderá ser o amor o
sol que o ilumina? Pois é, nossa forma de relacionar-se condiciona nossa
maneira de viver. Para Francisco de Sales esta maneira de viver deve ser uma
só: a de Jesus – VIVER JESUS! Precisamos nos conformar com a Vontade Divina
(TAD X, VIII) e esta vontade nos manda relacionar-se no amor.
Sim, o Mestre em Relações, São
Francisco de Sales, nos ensina a cultivar todas as nossas relações (na família,
no trabalho, na escola ou faculdade, com os amigos, com os membros da pastoral,
com aquele grupo,... com Deus e com a Criação) a partir do amor de Deus! Por
Deus, só por Deus e em Deus é que as relações de um cristão são bem sucedidas e
trazem felicidade. O caminho é o da caridade e da bondade, características de
Jesus, nosso Senhor, que passou fazendo o bem. Se me relaciono com algo ou
alguém sem a pureza e força do amor divino e do amor fraterno, estou no caminho
errado. Mas se minhas relações estão me aproximando do verdadeiro amor de Deus,
que só quer o bem e detesta o mal, então estou no caminho certo. Nele devo me
manter e ajudar meus irmãos a nele entrarem.
[1] “... seu amor
a Deus tinha uma soberana autoridade e domínio sobre todas suas paixões e
afetos. (...) Tenho por uma verdade pública e notória que todas as ações de sua
vida foram efeitos e provas deste santo amor divino que dominava tão
poderosamente sua alma. (...) Um dia antes do seu falecimento me escreveu: Agora
não posso dizer nada de minha alma senão que sente cada vez mais o ardente
desejo de não estimar nada mais do que a dileção de Nosso Senhor crucificado”
(Santa Joana de Chantal. Apud
ALBUQUERQUE, 2007, p. 110).
[2] “A humildade faz-nos perfeitos
para com Deus, e a mansidão para com o próximo” (IVD, III, VIII).
[3] “Sempre teve
uma perfeita, excelente e completa caridade com o próximo. (...) Durante uns
dezenove anos que tive a alegria de tratar com ele muito particularmente, tanto
antes como depois de ser religiosa, nunca ouvi nem tive conhecimento que tenha
deixado de fazer todo o bem e os serviços que poderia prestar ao próximo. Em
nada media esforços neste sentido...” (Santa
Joana de Chantal. Apud ALBUQUERQUE, 2007, p. 110).
[4]
Contrário à doçura é a ira. A ira já revela um distanciamento da caridade e
nunca ajuda a ninguém.
[6]
H. S. SULLIVAN. Apud POWELL, J. Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?
BH: Crescer, 2000, p.39.
Comentários
Postar um comentário