O amor ao próximo segundo São Francisco de Sales - Espiritualidade Salesiana


O cristianismo nasce como religião do amor. Deus nos ama, nós o podemos amar e este amor não é só afetivo, mas prático e vivo. Neste amor nos amamos por graça, por dever, na liberdade. De fato, não se deve reconhecer um cristão apenas pela igreja que ele vai ou pelos ritos que segue, mas pelo amor que possui e pela caridade que demonstra. Jesus deixou-nos um mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 15, 9). E várias vezes repetiu o pedido permanecei no meu amor (Jo 15, 9). É por isso que não há nada mais forte que o amor, nem mesmo a morte, pois a morte pode destruir tudo, menos o amor. Quem ama nunca perderá esta chama, e será esta chama que jamais deixará que se perca. O amor é, e sempre será, o farol na noite escura e o sol no dia claro. Sem amor não tem gosto viver. Sem amor a vida fica pequena demais, é triste e sem essência. Morre. Só o amor eterniza, pois Deus é amor (1 Jo 4, 8), e Aquele que é amor nos disse: queres ser feliz? Amai-vos uns aos outros (Jo 15, 11).
São Francisco de Sales conduziu sua vida pelo amor. Foi um verdadeiro cristão. Dizia: é preciso fazer tudo por amor e nada à força! Ou amar ou morrer; morrer e amar! O amor é mais forte do que a morte! Não estava falando de um sentimento, apenas, mas de verdadeiro e mais sublime amor que pode ser dito CARIDADE. Portanto, atitude. Segundo ele, amamos o próximo enquanto é a imagem e a semelhança de Deus. Amar o próximo, por caridade (isto é, sem outros interesses), é amar a Deus no homem, ou o homem em Deus. É estimar a Deus, pelo amor de si mesmo, e à criatura por amor Dele (TAD, X, XI). Assim pensava o bispo de Genebra referente ao mandamento do Senhor. É por Deus, pelo amor a Deus que amamos o próximo. O mais excelente lugar para se amar a Deus é no irmão. E o jeito mais certo de amar é irmão é em Deus.
De modo poético continuava sua explicação: quando contemplamos o nosso próximo, criado à imagem e semelhança de Deus, devíamos dizer uns aos outros: Reparai para esta criatura, como ela se parece com o nosso Criador! E devíamos abraça-la com carinho, rodeá-la das nossas atenções e chorar de amor por ela; devíamos rogar a Deus que lhe concedesse mil bênçãos (TAD, X, XI). Mas por quê? Pelo amor de Deus, que a formou a sua imagem e semelhança, e a tornou, por consequência, capaz de participar pela sua bondade na graça e na glória; pelo amor de Deus, a quem essa criatura pertence, para quem é, por quem existe, em quem vive e com quem se assemelha dum modo particular (TAD, X, XI). E quase suspirando, concluía: o amor divino não só recomenda com insistência o amor ao próximo, mas o difunde e inspira no coração humano, como imagem e semelhança do seu próprio amor. Assim como o homem é a imagem de Deus, assim o santo amor do homem pelo homem é a verdadeira imagem do celeste amor do homem para com Deus (TAD, X, XI). Quem quer amar a Deus perfeitamente deve amar seu irmão, pois “a perfeição do amor da divina bondade do Pai celeste consiste na perfeição do amor aos nossos semelhantes, que são nossos irmãos (TAD, X, XI).
São João disse o mesmo: nós o amamos a ele (Deus) porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão (1 João 4, 19-21).
São Paulo não fica atrás e se expressa de modo enfático: Não fiquem devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo. Pois, quem ama o próximo cumpriu plenamente a Lei. De fato, os mandamentos (...) se resumem nesta sentença: “Ame o seu próximo como a si mesmo”. O amor não pratica o mal contra o próximo (Rm 13, 7-10a).
Ao lermos tão belas palavras fica-nos a impressão de que é tão belo amar. Só que pondo os pés no chão acordamos: amar é árduo, difícil, exigente. É preciso mais que vontade, mais que clareza, mais que convicção: é preciso o exercício, a prática, a experiência carnal, inteira do nosso ser, completa. O mestre da Sabóia nos instrui a irmos vivendo o mandamento do amor com firmeza e paz, sem dar passos para trás, sem parar no meio do caminho, sem hesitar. E nos esclarece que o amor de Deus e do próximo são dois amores que não vão um sem o outro, e à medida que amamos mais a Deus, também amamos mais o próximo (EA IX, 110. Sermão de 29 de setembro de 1917). Se amamos a Deus com um simples sinal da Cruz, amamos o próximo com um sorriso, com a paciência, com um gesto cordial. Se podemos amar a Deus morrendo por ele, morrendo para nossas vontades amamos o próximo; engolindo nosso orgulho, perdoando, sendo-lhe amigo ainda que ele não inspire docilidade ou consolações; amar o próximo por Deus e em Deus é enfrentar as próprias fragilidades e repugnâncias. Amar é ser irmão, estar do lado, fazer o bem. E o afeto? Bem, se amarmos a Deus, Ele nos dará o gosto de amar o próximo, mesmo que esteja sujo, seja amargo e nos decepcione.
Amai-vos uns aos outros, disse Jesus. Quereis outro caminho? Desculpa, Jesus não tem. Mas se aceitais este caminho, conte sempre com Ele. Ame a Deus e ame o próximo: serás feliz! Não temas sofrer, apenas faça a sua parte. Lembre-se do que disse São Francisco de Sales: o amor divino não só recomenda com insistência o amor ao próximo, mas o difunde e inspira no coração humano, como imagem e semelhança do seu próprio amor (TAD, X, XI). Deus é bom e não nos deixa sozinhos nesta empreitada. Ele vai a nossa frente, pois todo amor tem sua fonte Nele. Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele (Jo 15, 21).

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