Copa do Mundo e Espiritualidade Salesiana. Entrando em campo para vencer as imperfeições.

Bem, a Copa chegou. E, com ela, algumas
perguntas soam oportunas: o que de fato é vencer? Em que vale a pena investir a
vida? Onde precisamos ser realmente campeões? Para estas questões a Espiritualidade
Salesiana tem algo a dizer.
São Francisco de Sales era advogado. As
disputas que participou foram nos tribunais, não nos estádios. Não poucas
vezes, precisou defender os ensinamentos da Igreja em embates públicos.
Mas “estava convencido de que elas não levavam à verdade. Gostava de
propor simples e claramente as verdades da fé, deixar o Espírito atuar, e ter cuidado
para não apropriar-se da glória que somente pertence a Deus”[1]. Sabia
que não adiantava vencer na argumentação, pura e simplesmente, pois somente
pela fé se torna credível e conhecida toda verdade (TAD II, XIV). Queria que
não houvessem brigas e rivalidades. Nem mesmo que a verdade fosse imposta. Para
ele, vencer é oferecer o bem a todos. Não há alegria na lágrima do outro, não
há paz na injustiça, não há vitória se a verdade perde.
Uma vez, quando estudante em Pádua,
seus companheiros o desafiaram numa brincadeira injustificada, atacando-lhe à
espada. Ele acreditou que aquilo era sério. E os fez fugir. Venceu pela
destreza na arte da esgrima, mas jamais desejou usar novamente de força.[2] Já conhecemos seu espírito: se é
preciso vencer, então que seja pelo amor e não pela força. No amor é que vale à
pena investir a vida.
Esse amor se traduzia em levar os
outros a Deus. Para ele não existia alegria maior do que ganhar alguém para
Deus. E era nisso que investia todos os seus esforços. Escreveu a um
sacerdote: “Não temais importunar‐me. Dediquei a minha
vida e a minha alma a Deus e a sua Igreja. Que importa que me incomodem,
contanto que possa fazer algo pela salvação das almas? Para a caridade não
existe sofrimento que não seja amado”[3].
Francisco esforçou-se também para
vencer suas imperfeições. E para isto entrou de cheio no “estádio” de sua vida
dirigindo seus afetos e convicções, superando suas fragilidades e orientando
seu potencial. Logo entrou também na vida de seus amigos, ajudando a serem vencedores
pela competência, pela coragem e pela bravura na prática da caridade e das demais
virtudes.
Nos jogos cada time deve esforçar-se
durante os noventa minutos e seus acréscimos. Também na vida cristã nunca se
pode baixar a vigilância nem recuar no combate às imperfeições. Em campo, cada
momento pode ser uma oportunidade para fazer gols, mas também de sofrer. Na
vida de fé todas as ocasiões são oportunidade de unir-se a Deus e fazer algo
com Ele. Entretanto, pode aparecer o cansaço, a desatenção e o adversário
aproveitar-se disso.
O jogo se ganha jogando, enfrentando os
adversários. O mesmo se dá na busca da perfeição: “a nossa perfeição se
alcança combatendo as imperfeições; não podemos combater e vencer, sem que as
sintamos e as conheçamos” (IVD, I, V). Não é isso que acontece com as
Seleções? Se não conhecem seus adversários, não os estudam, quando entrarem
campo, os vencerá? Não. E podem fugir, então? Também não, pois isso daria a
vitória à Seleção adversária. No caso da vida cristã, vale a mesma
prerrogativa: encarar. Sim, pois “a própria vitória que esperamos
conseguir sobre as imperfeições, de modo algum consiste em não as sentir, mas
exclusivamente em não consentir nelas” (IVD, I, V). Se uma Seleção
sente a força da outra e consente que ela a domine, perde o jogo.
Os times que jogam sem consentir aos
seus temores e cansaços, à habilidade e velocidade dos adversários, ganharão,
uma vez que no jogo e na vida “sentir as impressões não é dar o próprio
consentimento” (IVD, I, V). Favoritismo existe fora de campo, mas no
jogo existem PROTAGONISTAS que “só serão vencidos se perderem a vida ou
a coragem. Portanto, o que temos que temer aí é a perda da coragem” e
não o jogo (IVD, I, V). “É, pois, sumamente consoladora e feliz a nossa
condição nesta luta: poderemos vencer sempre, uma vez que queiramos combater” (IVD,
I, V). Se nos jogos da Copa não basta combater, pois há outros fatores que
influenciam, no jogo da vida que aspira à santidade, sim. Há algum exemplo
concreto? O próprio Francisco de Sales e uma gama de outros santos e exemplares
cristãos que se colocaram sob sua orientação.
Vencer nos jogos é sinônimo de ser
feliz. Na vida cristã, ser feliz é viver em comunhão com Deus e com quem dele
veio – VIVER JESUS. Nisto vale a pena investir toda a vida! É no cumprimento da
vontade de Deus que precisamos ser realmente campeões, combatendo as
imperfeições, jogando pela vida e vivendo o mandamento do Amor.
Amigos, a Copa está aí. Vencerá quem
puder. A santidade é dom de Deus e está ao nosso alcance. Vencerá quem combater
suas imperfeições e jamais desistir. Deus nos ajudará. Ele é justo juiz e hábil
treinador (II Timóteo 4, 8). Boa Copa do Mundo a todos nós! Boa Copa da
Perfeição Cristã, principalmente! Abraços.
[1] ALBURQUERQUE,
Eugênio. Uma espiritualidade do amor: São Francisco de Sales. Trad.
P. Tarcízio Paulo Odelli, SDB. Madrid: Editorial CCS, Alcalá, 2007, p.65.
[2] LAJEUNIE, E.
J. São Francisco de Sales. O Homem, o Pensamento, a
Ação. Trad. P. Tarcízio Paulo Odelli, SDB. Vol. I. Paris,
1966, p. 126.
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