Copa do Mundo e Espiritualidade Salesiana. Entrando em campo para vencer as imperfeições.


O mundo vive o entusiasmo da Copa. Tem gente vibrando, tem gente protestando. E quase todos (senão todos) estamos por dentro deste evento. Torcemos, vibramos, protestamos, nos decepcionamos, comemoramos. Muitos desejam que a Seleção Brasileira seja campeã e alcance o HEXA. Talvez seria uma vitória de todos os brasileiros, ainda que simbolicamente.
Bem, a Copa chegou. E, com ela, algumas perguntas soam oportunas: o que de fato é vencer? Em que vale a pena investir a vida? Onde precisamos ser realmente campeões? Para estas questões a Espiritualidade Salesiana tem algo a dizer.
São Francisco de Sales era advogado. As disputas que participou foram nos tribunais, não nos estádios. Não poucas vezes, precisou defender os ensinamentos da Igreja em embates públicos. Mas “estava convencido de que elas não levavam à verdade. Gostava de propor simples e claramente as verdades da fé, deixar o Espírito atuar, e ter cuidado para não apropriar-se da glória que somente pertence a Deus”[1].  Sabia que não adiantava vencer na argumentação, pura e simplesmente, pois somente pela fé se torna credível e conhecida toda verdade (TAD II, XIV). Queria que não houvessem brigas e rivalidades. Nem mesmo que a verdade fosse imposta. Para ele, vencer é oferecer o bem a todos. Não há alegria na lágrima do outro, não há paz na injustiça, não há vitória se a verdade perde.
Uma vez, quando estudante em Pádua, seus companheiros o desafiaram numa brincadeira injustificada, atacando-lhe à espada. Ele acreditou que aquilo era sério. E os fez fugir. Venceu pela destreza na arte da esgrima, mas jamais desejou usar novamente de força.[2] Já conhecemos seu espírito: se é preciso vencer, então que seja pelo amor e não pela força. No amor é que vale à pena investir a vida.
Esse amor se traduzia em levar os outros a Deus. Para ele não existia alegria maior do que ganhar alguém para Deus. E era nisso que investia todos os seus esforços. Escreveu a um sacerdote: “Não temais importunarme. Dediquei a minha vida e a minha alma a Deus e a sua Igreja. Que importa que me incomodem, contanto que possa fazer algo pela salvação das almas? Para a caridade não existe sofrimento que não seja amado”[3]
Francisco esforçou-se também para vencer suas imperfeições. E para isto entrou de cheio no “estádio” de sua vida dirigindo seus afetos e convicções, superando suas fragilidades e orientando seu potencial. Logo entrou também na vida de seus amigos, ajudando a serem vencedores pela competência, pela coragem e pela bravura na prática da caridade e das demais virtudes.
Nos jogos cada time deve esforçar-se durante os noventa minutos e seus acréscimos. Também na vida cristã nunca se pode baixar a vigilância nem recuar no combate às imperfeições. Em campo, cada momento pode ser uma oportunidade para fazer gols, mas também de sofrer. Na vida de fé todas as ocasiões são oportunidade de unir-se a Deus e fazer algo com Ele. Entretanto, pode aparecer o cansaço, a desatenção e o adversário aproveitar-se disso.
O jogo se ganha jogando, enfrentando os adversários. O mesmo se dá na busca da perfeição: “a nossa perfeição se alcança combatendo as imperfeições; não podemos combater e vencer, sem que as sintamos e as conheçamos” (IVD, I, V). Não é isso que acontece com as Seleções? Se não conhecem seus adversários, não os estudam, quando entrarem campo, os vencerá? Não. E podem fugir, então? Também não, pois isso daria a vitória à Seleção adversária. No caso da vida cristã, vale a mesma prerrogativa: encarar. Sim, pois “a própria vitória que esperamos conseguir sobre as imperfeições, de modo algum consiste em não as sentir, mas exclusivamente em não consentir nelas” (IVD, I, V). Se uma Seleção sente a força da outra e consente que ela a domine, perde o jogo.
Os times que jogam sem consentir aos seus temores e cansaços, à habilidade e velocidade dos adversários, ganharão, uma vez que no jogo e na vida “sentir as impressões não é dar o próprio consentimento” (IVD, I, V). Favoritismo existe fora de campo, mas no jogo existem PROTAGONISTAS que “só serão vencidos se perderem a vida ou a coragem. Portanto, o que temos que temer aí é a perda da coragem” e não o jogo (IVD, I, V). “É, pois, sumamente consoladora e feliz a nossa condição nesta luta: poderemos vencer sempre, uma vez que queiramos combater” (IVD, I, V). Se nos jogos da Copa não basta combater, pois há outros fatores que influenciam, no jogo da vida que aspira à santidade, sim. Há algum exemplo concreto? O próprio Francisco de Sales e uma gama de outros santos e exemplares cristãos que se colocaram sob sua orientação.
Vencer nos jogos é sinônimo de ser feliz. Na vida cristã, ser feliz é viver em comunhão com Deus e com quem dele veio – VIVER JESUS. Nisto vale a pena investir toda a vida! É no cumprimento da vontade de Deus que precisamos ser realmente campeões, combatendo as imperfeições, jogando pela vida e vivendo o mandamento do Amor.
Amigos, a Copa está aí. Vencerá quem puder. A santidade é dom de Deus e está ao nosso alcance. Vencerá quem combater suas imperfeições e jamais desistir. Deus nos ajudará. Ele é justo juiz e hábil treinador (II Timóteo 4, 8). Boa Copa do Mundo a todos nós! Boa Copa da Perfeição Cristã, principalmente! Abraços.


[1] ALBURQUERQUE, Eugênio. Uma espiritualidade do amor: São Francisco de Sales. Trad. P. Tarcízio Paulo Odelli, SDB. Madrid: Editorial CCS, Alcalá, 2007, p.65.
[2] LAJEUNIE, E. J. São Francisco de Sales. O Homem, o Pensamento, a Ação. Trad. P. Tarcízio Paulo Odelli, SDB. Vol. I. Paris, 1966, p. 126.
[3] Cit. Em HAMON, A. Vida de São Francisco de Sales II. Buenos Aires: Difusão, 1948, p. 343.

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