HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA IGREJA.


Estimados, o texto que segue é um resumo da Obra "HISTÓRIA DA IGREJA. De Lutero a nossos dias. Vol IV – A era contemporânea" de Giácomo Martina.
A Igreja sempre esteve, de diversos modos, envolvida nas questões sociais. No decurso do século XIX e primórdios do século XX vemo-la tendo posições variadas e, às vezes, pouco conhecidas. Neste período temos dois fenômenos complementares que caracterizam a vida técno-econômico-social: “de uma parte assistimos a um imenso progresso técnico, industrial, comercial, primeiro nos países europeus, mais tarde em todos os continentes, com inumeráveis repercussões psicológicas e sociais” (p.25); e, de outra a realidade de que “esse tão grande incremento somente depois de vários decênios é que levou a um aumento do bem-estar geral a uma elevação de vida de todas as classes” (p. 26).
A gênese da questão social pode ser identificada no liberalismo econômico e na revolução industrial. As grandes descobertas científicas e a aplicação na indústria têxtil criaram a grande indústria moderna (p.28). Disso tudo, fomentado pelo capitalismo, resultou naquilo que a escola de Manchester delineou como “amoralismo econômico, livre concorrência, absenteísmo estatal e individualismo” (p. 29). Contra esta avassaladora e desumana posição das indústrias e do sistema capitalista se posicionaram algumas tentativas laicas como o socialismo utopista, o sindicalismo e o socialismo científico. Os católicos tiveram um lento despertar diante dos problemas sociais. O magistério se mostrou ainda mais inerte, no entanto, com desenvolvimento crescente. Assim, a posição social da Igreja pode ser vista como possuindo três fases em sua evolução: “até 1870 (se quisermos: até a morte de Pio IX, 1878); os primeiros anos de Leão XIII, até a publicação de Rerum Novarum, em 1891; da Rerum Novarum aos nossos dias” (p. 42). Podemos dizer que “na primeira fase, as doutrinas e as iniciativas se desenvolvem, sobretudo, na periferia: Roma não oferece obstáculos, mas não encoraja e não dá diretrizes, limita-se apenas à condenação negativa” (p. 46). Na segunda fase os problemas sociais se acentuam e várias posições vão surgindo por parte de clérigos e católicos em vários lugares do mundo e de Roma. É o convencimento de parte dos católicos de que o sistema caritativo-assistencial era insuficiente, embora tivesse seus méritos frente à crueldade dos empresários. O que faltava, entretanto, era encontrar “o caminho oportuno com referência ao associacionismo operário, à intervenção estatal e à determinação do justo salário: os três problemas mais discutidos nos anos que precedem a Rerum Novarum” (p. 48). Com esta encíclica de Leão XIII, a Igreja reunia “os frutos de quase cinquenta anos de estudos e discussões” (p. 54). Foi forte para a época e uma posição corajosa em defesa dos operários espoliados. Leão XIII, embora se limitando a por os sindicatos no mesmo plano das corporações, sem reservas específicas, “indicou efetivamente o início da vitória do sindicalismo sobre o corporativismo no seio do catolicismo social” (p. 55). Isso significou “a adequação corajosa da Igreja às novas exigências, a encarnação dos valores cristãos nas novas estruturas exigidas pela época, a aceitação por parte da verdade contida no marxismo”, em outras palavras, “a distinção entre a luta de classes permanente e a legítima ação de resistência em defesa dos próprios direitos” (p. 55). Na terceira fase vemos lugares em que a Rerum Novarum foi recebida com entusiasmo e outros nos quais ficava quase desconhecida. Mas ela foi um instrumento eficiente da Igreja no âmbito social e uma força para os sindicatos cristãos. Três anos depois, Pio XI lançou a Quadragesimo Anno que “constituiu um passo adiante em relação à Rerum Novarum, afirmando o autêntico direito do operário a um salário não só individual, mas familiar” (possibilidade de superação do contrato salarial substituído pela co-gestão) “sublinhando o perigo dos monopólios”, “confirmando a necessidade de substituir o estímulo incontrolado da livre concorrência pela do bem comum, admoestando, enfim, (...) a frear a ingerência do Estado na economia” (p. 64).
Muitos aspiravam a uma reforma da Igreja e “um programa de uma ação social mais nítida que superasse os estreitos limites aos quais Leão XIII havia restringido a democracia cristã, designada na encíclica Graves de communi (1901) como ‘benéfica ação cristã a favor do povo’” (p. 77). Entrando no Modernismo do século XX a Igreja se chocava com um sentimento de mal-estar e com uma ânsia de atualização no sentido positivo. Criticada e descartada várias vezes por sua lenta atividade social, perde para a razão e o sentimento interior, a posição balizadora da vida das pessoas e da sociedade. Os modernistas tendiam a, “no mínimo, relativizar o momento intelectual das fórmulas da fé e do dogma” (p. 80). Separa-se razão e fé, e faz da última, algo não histórico. Os modernistas radicais propõem uma renovação, a volta ao jansenismo e a desobediência à hierarquia. São principais representantes: Alfred Loisy (1857, França), exegeta e historiador; George Tyrrel (1861-1909, Inglaterra), filósofo e teólogo; Friedrich von Hügel (1852-1925, Aústria); Tommaso Gallarati Scotti, Stefano Jacini, Alessandro Casati (Itália); Ernesto Buonaiuti (1881-1946, Itália), professor; Romolo Murri (1870-1944, Itália), sacerdote; Umberto Benigni (1909, Itália), professor; e vários outros. Não se deve esquecer que junto às tendências extremistas de tais personagens, “junto aos diversos sacerdotes que, na Itália e em outros lugares, deixaram a Igreja naqueles anos, havia toda a ala moderada do movimento, na qual uma segura fidelidade a Roma se unia à ansiedade por responder às novas exigências dos tempos” (p. 90-91). A hierarquia reagia a alguns destes autores e seus movimentos antieclesiais ou, mesmo, apenas sociais. A Congregação do Index advertiu e desautorizou muitas das obras publicadas. Em setembro de 1907 é publicada a encíclica Pascendi Dominici gregis em que no modernismo é condenado e definido como síntese de todas as heresias (p. 94). Em novembro do mesmo ano é publicado o Moto Proprio Praestantia Scripturae que “comunicava a excomunhão a todos aquele que se opusesse à encíclica” (p. 96). Em 1909 o Moto Proprio Sacrorum Antistitum “impunha a várias categorias de pessoas um especial juramento antimodernista” (p. 96). “Ao lado dessa obra de repressão indiscriminada e de fechamento hermético às correntes intelectuais não estritamente confessionais e tradicionalistas, desenvolvia-se uma outra dupla ação, um encorajamento positivo aos estudos e uma consolidação de toda a disciplina da Igreja, que truncava qualquer pretensão de movimentos autônomos entre o laicato” (p. 100). Isso mudou com Bento XV, que “desde sua primeira encíclica tomou posição tanto contra os modernistas quanto contra os integristas”.
Quando Pio X foi eleito demonstrou ser “favorável a uma radical reorganização tanto da legislação eclesiástica como do sistema do governo pontifício” (p. 109). A reforma na Cúria começou pela reorganização e supressão de várias congregações anacrônicas e confusas. Depois de trezentos anos ela é organizada a fim de ser mais racional e eficiente. Quando ao direito, seguindo toda a influência napoleônica e liderados pelo cardeal Gasparri, uma comissão de juristas e 25 consultores trabalharam incessantemente. A maioria dos bispos pôde ter acesso aos livros e opinar. Assim, em 27 de maio de 1917, o novo código foi promulgado e entrou em vigor no ano seguinte. Ele favorecia a centralização e a uniformidade, mostrava-se prático e ideal, mesmo que ficasse devendo muita coisa como, por exemplo, a definição de quem são os leigos e dos seus direitos e deveres na Igreja.
A Igreja diante do nacionalismo e do totalitarismo viu-se num cenário difícil e escuro. O “nacionalismo assumiu diferentes formas nos diversos países, mas por quase toda parte transformou o amor da pátria no culto idolátrico da pátria, que fecha o Estado numa autarquia espiritual e material e regula a política internacional na base da violência” (p. 122). O Totalitarismo é um sistema político no qual o Estado não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível. Foi “sobre o nacionalismo dos primórdios do século XX, que constituiu um dos fatores principais do primeiro conflito mundial, é que se inseriu o totalitarismo dos vinte anos seguintes” (p. 122). Diante do nacionalismo nos primórdios, muitos na Igreja, se viram por ele atraídos. Mas com os horrores que no decurso foi causando, foram se dando conta do sua incompatibilidade com a fé católica. Em relação ao totalitarismo pode se distinguir entre o de esquerda e o fascismo. Quanto ao primeiro, “a oposição da hierarquia e da grande maioria dos fieis foi sempre nítida e constante; já em relação ao fascismo, em suas diversas formas, a Igreja seguiu uma linha ondulante” (p. 125).  Referente à primeira guerra mundial viu-se um grande jogo de interesses e confusão na compreensão do drástico evento, dentro e fora da Igreja. “Nesse contexto geral emerge a grandeza de Bento XV, disposto a desafiar qualquer impopularidade para realizar sua missão de paz” (p. 133), envolvendo-se diretamente no pedido da interrupção da guerra. Em 1922 é eleito Pio XI. Ele se destacará por sua “condenação ao laicismo, a sua luta pela liberdade da Igreja, mas também do homem” (p. 141) e a convicção de que a salvação do homem se dá apenas pela Igreja. L’Action Française, “um movimento que, por seu caráter complexo e aparentemente cristão, tinha gozado por muito tempo de grande tolerância e até de uma aberta aprovação por parte de muito eclesiásticos” (p. 142), desafia a Igreja por seu nacionalismo e ateísmo. No México, entre 1917 e 1929, assiste-se ao “esforço de uma minoria (composta de altos militares e de advogados ou juristas) em erradicar do país, em sua grande maioria profundamente católico, se não a própria fé cristã, ao menos toda a influência social da Igreja, bem como a vigorosa resistência da maioria” (p. 147).
No que diz respeito à Igreja e o fascismo o Tratado de Latrão é o grande espinho que ficou na história. Pio XI na Itália assumiu “uma atitude de prudente otimismo” (p. 153), pois o fascismo “multiplicava naqueles anos os seus protestos teóricos e práticos de respeito pelo catolicismo e se apresentava como a salvaguarda da ordem constituída, a qual tinha, contudo, escondido sempre profundas injustiças” (p. 153).  O Tratado de Latrão, assinado em 11 de fevereiro de 1929, às 12 horas, no palácio de Latrão por Gasparri e Mussolini compreende um tratado e uma concordata (p. 157). Reconhecia-se o novo Estado da Cidade do Vaticano, encerrava a Questão Romana, declarava a religião católica como a única do estado italiano, garantia à Santa Sé o direito de legação ativa e passiva, a liberdade nos conclaves e nos concílios, dava privilégios aos eclesiásticos, entre outros. Tudo isto foi bem visto inicialmente, mas depois passou a ser encarado como uma aliança entre a Igreja e o fascismo. Bom, “em síntese, 1929 não merece nem a exaltação triunfal que a opinião pública em sua maioria então lhe atribuiu, nem o ataque impiedoso que desde então se desenvolveu cada vez mais” (p. 164). E o que se pode dizer, então? Que este ato “constitui, sim, uma etapa de uma evolução, não desprovido de vantagens nem isento de perigos, e, naquele momento, foi, no conjunto, substancialmente positivo, ainda que alguns de seus elementos tenham logo se revelados caducos” (p. 164). No que diz respeito à relação com o nazismo, tais relações “tiveram dois momentos fortes de tensão: em 1931, com as ameaças contra a ação católica, e em 1938-39, com as primeiras aplicações raciais que, prescindindo-se de outros aspectos, violam um dos pontos da concordata” (p. 165). Referente ao nazismo, a Igreja procurava meios de sobreviver dentro deste sistema. Para isto assinou uma concordata com o Reich, alguns dias depois do nazismo ter instituído a lei de esterilização. Os conflitos se acentuaram. A Igreja condenava o caráter totalitário do regime, as suas pretensões monopolistas sobre a educação, a sua doutrina e a sua concepção geral da vida. Depois veio a questão do anti-semitismo. Pio XI se posicionou dizendo que para o cristão isto era inadmissível, pois “espiritualmente somos todos semitas” (p. 180). Os bispos na Alemanha se dividiram entre os que simplesmente protestavam e os que defendiam uma ofensiva. Isso não teve muito impacto de nenhuma parte. A Espanha no início do século XX passou da monarquia à república e nesta teve uma guerra civil. Em tal guerra a Igreja foi prejudicada com um anticlericalismo radical. Quando ocorre o advento da vitória franquista (1938) as relações começam a se reestabelecer.
A Igreja, sob condução de Pio XII, entre os anos de 1939-45, enfrentou a segunda guerra mundial. O papa “apresentou a proposta de resolver pacificamente os problemas mais graves; a ideia, aceita de bom grado por Mussolini, logo se esvaneceu pela frieza e oposição dos outros Estados” (p. 208). Ele defendeu Roma e buscou socorrer os atingidos. Preferiu calar e defender os judeus silenciosamente. Assim fez a Igreja neste período, fato que lhe remete muitas críticas e ataques. Mas, “o motivo que levou Pio XII a se limitar a condenações normalmente genéricas foi, como se disse, o temor de represálias dos alemães sobre os católicos e sobre os próprios judeus” (p. 212). É preciso ainda recordar os mártires católicos que mostraram sua posição profética em meio à guerra. Em países como Itália, França, Croácia e Alemanha muitos religiosos e sacerdotes foram assassinados. Também é verdade que alguns, por inocência ou não, coadunaram com muitas crueldades.
No pós-guerra (1945-1958) “a Igreja saia da tempestade com renovado prestígio” (p. 233) devido à sua atuação em defesa do povo. Ansiava-se por renovação em seu seio. Com o fim das colonizações a Igreja centrou-se nas dioceses. Muitas vezes eclesiásticos se mostraram contra a descolonização, parte triste desta história. Referente a Israel Pio XII manifestou-se enfaticamente pedindo a internacionalização de Jerusalém, o livre acesso aos lugares santos e garantias sobre a liberdade de culto público. Mas o papa viria a falecer sem ver isto concretizado. Na Europa oriental o comunismo perseguiu a Igreja por cerca de quarenta anos. As concordatas com alguns países foram desfeitas e a Igreja passou a ser sempre perseguida. Na Itália o comunismo marxista assustou na Igreja que promulgou excomunhão para quem votasse no Partido Comunista. Enfrentando algumas candidaturas deste partido a Igreja viu sua influência enfraquecer e a laicização da Itália crescer. Em 27 de agosto de 1953, a Igreja assinou uma concordata com a Espanha alimentando o velho sonho de retorno à cristandade. Conseguia, principalmente, a influência na educação onde a hierarquia controlava o ensino, salvaguardava o matrimônio, a pastoral no exército, nos hospitais, na propaganda através dos meios de comunicação (p. 258).
Todos estes processos influenciaram na Igreja. Percebe-se que “o pensamento católico no período bélico e pós-guerra apresenta uma orientação mais aberta em certos setores da periferia e uma linha mais cautelosa no centro (Vaticano e grandes instituições romanas)” (p. 260). De alguma forma, em toda Europa, voltavam à tona “motivos já emersos na controvérsia modernista: a oportunidade de uma renovação teológica, de uma aproximação do mundo contemporâneo, a exigência da superação não do tomismo, mas do escolasticismo, a preocupação de um retorno aos Padres” (p. 263). Pio XII não gostava muito de colaboração, geralmente as mudanças partiam dele mesmo e do seu pensamento. Muitos queriam uma reforma do sistema e não no sistema, mas Pio XII revolucionou apenas com a abolição do jejum eucarístico e a introdução das missas vespertinas (p. 269). Enfim, perante as mudanças desta época a Igreja na Europa se vê cada vez menos influente. Na Europa oriental (e na China, no Vietnã...) a Igreja vive uma autêntica perseguição. Na Itália a Igreja tenta impor a restauração de um Estado cristão. Esforço em vão. Na Espanha se pensava ter conseguido um avanço com a concordata de 1953, mas isso foi ilusão, pois o laicismo se mostrou crescente. Ao homem do princípio da segunda parte do século XX a Igreja se mostra diacrônica.
Grande protagonismo ocupa na história contemporânea da Igreja o Concílio Vaticano II, convocado no dia 25 de Dezembro de 1961, através da bula papal "Humanae salutis", pelo Papa João XXIII, que o inaugurou, a ritmo extraordinário, no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio, realizado em quatro sessões, só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI. Na sessão inaugural, realizada no dia 11 de outubro de 1962, apresentaram-se para a sessão 2540 padres conciliares e um montante de 4000 mil bispos. A “maioria era sensível às realidades do mundo, aos problemas da atualização, do ecumenismo, de uma pastoral com mais possibilidade de atingir os fieis e de se fazer entender e aceitar, pouco preocupada com as declarações doutrinais e desconfiada da centralização” (p. 292). Se percebeu nos primeiros dias de Concílio que os padres assumiriam o protagonismo. Muitos rejeitaram os esquemas preparados e optaram por compor documentos que fossem do consenso da maioria. Viu-se que a abertura era grande e a atuação de João XXIII era a de fazer valer as decisões conciliares.  Os padres conciliares "se organizavam em torno de duas alas" (conservadora e progressista), sendo que os progressistas contam com cerca de 90% dos votos. A minoria conservadora era essencialmente constituída "pela velha-guarda italiana (Ottaviani, Ruffini, Siri…)", por Marcel Lefebvre, por um grupo de espanhóis (entre os quais o cardeal Larraona) e "por vários latino-americanos, representantes de escolas teológicas de certo prestígio, especialmente na Espanha". A maioria progressista era essencialmente "constituída por um grupo da Europa central e do Norte (a que pertenciam os cardeais Frings, Dopfner, Alfrink, König, Suenens, Liénart e Bea)", por Montini, por Léger, pelo Patriarca Melquita Máximos IV, pelos bispos africanos e asiáticos e por "uma grande maioria dos bispos latino-americanos e dos Estados Unidos". Mas, mesmo assim, os progressistas tiveram que, por diversas vezes, fazer várias concessões aos conservadores, tornando por isso os documentos conciliares menos radicais. Com a morte do “papa bom” em 03 de junho de 1963, o conclave elegeu o cardeal Montini que assumiu o nome de Paulo VI. No dia 29 de setembro do mesmo ano ele abria o segundo período do Concílio. Com características de um homem concreto e determinado, de espiritualidade viva, parece ter sido a escolha certa para concluir o concílio e guiar a Igreja neste período singular. O “segundo período foi caracterizado pela aprovação da constituição sobre a liturgia, Sacrosantum Concilium, e do decreto sobre os meios de comunicação social, Inter Mirifica, e pela demorada discussão sobre outros esquemas” (p. 302). O terceiro período caracterizou-se pelas reiteradas e fortes tentativas da minoria de “impedir a vitória da maioria, ou seja, de corrigir em pontos substanciais (relativos especialmente à colegialidade episcopal, ou seja, à corresponsabilidade do episcopado, unido ao papa, no governo da Igreja) as teses que iam se elucidando e afirmando” (p. 304). No quarto período assistiu-se a uma verdadeira corrida contra o tempo. Queria-se encerrar o concílio. Ao seu término foram apresentados os seguintes documentos: Constituições: Dei Verbum: Revelação divina e Tradição; Lumen Gentium: Igreja; Gaudium et Spes: Pastoral e a relação da Igreja com o mundo moderno; Sacrosanctum Concilium: Liturgia. Decretos: Ad Gentes: actividade missionária; Apostolicam Actuositatem: apostolado dos leigos; Christus Dominus: Bispos; Inter Mirifica: comunicação social; Optatam Totius: formação sacerdotal; Orientalium Ecclesiarum: Igrejas orientais católicas; Perfectae Caritatis: renovação da vida consagrada; Presbyterorum Ordinis: vida dos presbíteros; Unitatis Redintegratio: ecumenismo. Declarações: Dignitatis Humanae: liberdade religiosa; Gravissimum Educationis: educação cristã e digna; Nostra Aetate: relação com os não-cristãos.
O concílio trouxe renovação, mas também trouxe crise. A secularização crescia no mundo todo, em especial na Europa, surge uma onde avassaladora de migrantes. O mundo é outro. O Vaticano não continuará sendo o mesmo. O Concílio redefine congregações e setores administrativos, impõe idades limites aos bispos e cardeais e apela à colegialidade. Nasce o novo Código de Direito Canônico mais sensível às necessidades atuais da Igreja. A liturgia é reformada e, em níveis de opinião geral, é mais bem acolhida e comentada. Esta abre também caminhos de enrijecimento por quem não aceitava as mudanças, bem como de relaxamento por quem não entendeu o que estava acontecendo. A catequese, embora de forma mais lenta, também passou por renovação. Em relação aos institutos religiosos viu-se um decréscimo acentuado no número de membros e um número grande de desistências. Frentes carismáticas surgiram com força, bem como as comunidades de base na América Latina. Na Itália a Ação Católica se opõe ao movimento de Comunhão e Libertação. Os problemas religiosos alcançaram a mídia e, na Igreja, há um novo despertar para a teologia bíblica. A Igreja pós Vaticano segundo se viu ainda mais separada dos Estados. Concordatas forma reduzidas e até extinguidas. Quanto a Israel, da solicitação da internacionalização territorial de Jerusalém com Pio XII, “passou-se ao claro reconhecimento do direito dos judeus e dos palestinos de terem seu Estado separado e independente (Paulo VI) à exigência de garantias internacionais não somente para os lugares sagrados cristãos, mas para as três confissões interessadas” (p. 351). A Igreja teve que enfrentar a crise moral dos anos 1963-89. Questões como aborto, eutanásia, dissolubilidade do Matrimônio e recusa da Confissão vieram a xeque.  O caso Lefebvre, um conservador que recusou as reformas do Concílio, causou dor e divisão na Igreja. Ele foi excomungado e começou um pequeno cisma. Na América Latina as conferências episcopais ocorridas em Medellin (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992) deram novo impulso a Igreja e ajudaram a se posicionara contra os regimes militares e o capitalismo que avassala principalmente com os pobres. Enquanto isso, na velha Europa, a Igreja se via cada vez mais encolhida e quase que ignorada por alguns Estados. Tudo isso são características que acompanham a Igreja nos últimos trinta anos e as quais o Concílio Vaticano II tenta dará respostas até hoje.

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