O PAPEL DOS DIÁCONOS. Estudo de At 6,1-7.


Atos dos Apóstolos “traduz o grego praxeis apostolôn” (SAOÛT, 1991, p 12)[1]. É um dos livros do Novo Testamento que busca apresentar a vida da Igreja nascente principalmente representada em Pedro e Paulo. O Livro teve sua redação final provavelmente “entre os anos 80 e 90 do primeiro século” (MOSCONI, 2001, p. 67)[2]. Está destinado a certo Teófilo (At 1,1), nome que significa “amigo de Deus”. É um nome simbólico (MOSCONI, 2001, p. 64) conforme compreendem a maioria dos estudiosos[3]. Segundo Fabris (1991, p. 26) “os Atos se dirigem antes de tudo e diretamente aos leitores cristãos provenientes do mundo dos pagãos”, pois, as cidades citadas, por exemplo, pertencem ao Império.
O livro dos Atos também pode ser lido dentro da perspectiva do Evangelho de Lucas, pois ele dá continuidade ao Terceiro Evangelho, basta conferir os prólogos (Lc 1,1-4 e At 1,1) (Cf. COMBLIN, 2001, p.70). Busca mostrar “um projeto de Deus dentro da história” como num caminho. Apresenta o ideal que vai da Galiléia a Jerusalém, donde busca alcançar os confins do mundo (cf. FABRIS, 1991, p. 35). Também, entende a salvação como dom de Deus em Jesus Cristo onde a iniciativa soberana é “de Deus que comunica a salvação em Jesus e a centralidade ‘do Senhor Jesus glorificado que dá sentido novo à história” (FABRIS, 1991, p. 37). Quanto à salvação, compreende-a como um processo na “história” uma vez que a Igreja continua a missão salvífica de Cristo (cf. FABRIS, 1991, p. 38). A redação deixa evidente a proeminência do Espírito: “o livro é o evangelho do Espírito como Lc era o evangelho do Filho. A plenitude do Espírito e da missão da Igreja é vista na expansão da Igreja pelo mundo gentio” (MACKENZIE, 1984, p. 93).
 Sobre o autor assenta-se a indicação da Tradição de que seria Lucas antioqueno, médico e acompanhante de Paulo (cf. FABRIS, 1991, p. 23). Há os que objetam pelo fato de que o Paulo de Atos e das epístolas possuírem uma imagem contrastante tratando-se, portanto, de outro autor que não o Lucas da Tradição (cf. FABRIS, 1991, p. 23). E se for assim, “provavelmente o autor de Atos não tenha conhecido nem convivido com Paulo, porém era seu grande admirador, (...) era um apagão convertido, uma pessoa culta, estudada, um pesquisador e conhecedor do mundo da época” (MOSCONI, 2001, p. 69-70).
Atos é o primeiro retrato da Igreja assistida pelo Espírito, sob a liderança dos Apóstolos e sem a presença histórica de Jesus (At 2, 1-13). Uma Igreja com dinamismo polarizado, ao mesmo tempo modelo e modelando-se (At 2, 42-47). Conflitua-se internamente com os judeus e com o Império Romano (At 5,17; 17-18). A mesma missão de Jesus, as suas dificuldades e confiança em Deus são vividas pelos personagens e pelas comunidades. A tarefa é anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, mesmo que se possa ter o destino que Ele alcançou na cruz (At 7, 54-60; 28, 28; 2, 14-36), afinal, a cruz não é o fim (At 10, 39-40).

ANÁLISE DE ATOS 6,1-7

Há várias possíveis modos de ler e dividir o Livro dos Atos dos Apóstolos. Casalegno (2005, p. 82), por exemplo, apresenta uma divisão sintética do livro em cinco partes observando seus aspectos temáticos e literários e coloca At 6, 1-7 na segunda seção onde a figura central ainda é Pedro. Esta seção apresenta a difusão do Evangelho para além das fronteiras de Jerusalém que passa de ponto de chegada para ser ponto de partida do Evangelho. Eis a perícope:
1 Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, surgiram murmurações dos helenistas contra os hebreus. Isto porque, diziam aqueles, suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. 2  Os Doze convocaram então a multidão dos discípulos e disseram: "Não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus para servir às mesas.  3  Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos desta tarefa.   4  Quanto a nós, permaneceremos assíduos à oração e ao ministério da Palavra".  5  A proposta agradou a toda a multidão. E escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.   6  Apresentaram-nos aos apóstolos e, tendo orado, impuseram-lhes as mãos.  7  E a palavra do Senhor crescia. O número dos discípulos multiplicava- se enormemente em Jerusalém, e considerável grupo de sacerdotes obedecia à fé (At 6,1-7).
Vê-se a grande importância desta pelo fato dela “assinalar uma mudança importante no desenvolvimento histórico da primeira comunidade cristã” (FABRIS, 1991, p. 128), como acima dissemos. O próprio emprego da locução “naqueles dias” (v.1) leva a entender que se inicia uma nova parte da obra (cf. KÜRZINGER, 1984, p. 154). É aqui que aparece pela primeira vez o termo “discípulos” associados aos Doze; também é a primeira vez que é mencionado um grupo de judeu-cristãos de língua e cultura grega e a tensão que se originou destes com os cristãos de origem palestinense. Destarte, a instituição de uma missão de “sete” pessoas para resolver a questão (cf. FABRIS, 1991, p. 128).
Os helenistas citados eram os residentes em Jerusalém que “converteram-se ao cristianismo e constituíram um grupo bem distinto dos outros convertidos do judaísmo, que Lucas chama de ‘hebreus’” (FABRIS, 1991, p. 130). Estes últimos tendiam à Lei e ao culto judaico. Ambos os grupos se diferenciam quanto à língua e ao estilo de vida (cf. KÜRZINGER, 1984, p. 155). A questão das viúvas é um sinal de algo mais profundo (v.1). Helenistas e hebreus tinham outras querelas também fora da comunidade (cf. FABRIS, 1991, p. 130).
Os Doze aparecem com função mediadora nesta tensão. A proposta que surge mantém os Doze como testemunhas por excelência da ressurreição e propagadores desta Boa Notícia, enquanto aos sete fica a providencia dos bens e a assistência os pobres (FABRIS, 1991, p. 130). Distinção teórica, já que Estevão e Filipe farão o que os Doze fazem (cf 8, 14.40; 21,8). Fabris (1991, p. 131) apresenta a suspeita de que esta organização dos sete trata-se, na verdade de “uma descentralização e de uma autonomia organizacional para os grupos dos cristãos caracterizados por uma identidade étnico-cultural”, ou seja, é mais do que “uma comissão de assistência dependente dos doze”, mas sim, “o grupo dirigente presidindo os cristãos de língua grega, paralelo ao grupo dos ‘anciãos’ ou presbíteros, cujo chefe é Tiago, para os cristãos de língua aramaica” (FABRIS, 1991, p. 131).[4] Assim sendo, esta perícope assinala o processo da “passagem do cristianismo de cultura hebraica para a cultura grega (...), fator determinante para a ocidentalização da Igreja e o primeiro passo para a missão de Paulo” (GLAAB, 2014, p. 15).
Quanto à escolha dos sete “nada vimos a saber com referência ao processo usado. A situação agora já não é a mesma da escolha de Matias (1,15ss)” (KÜRZINGER, 1984, p. 159). Vale os critérios do versículo terceiro: “boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria”. Os sete têm nomes gregos, e se falará mais apenas de Estêvão e de Filipe, os primeiros da lista (v.5).
O versículo sexto fala que os Doze impuseram as mãos sobre os sete[5] e que esta foi acompanhada de uma oração, o que sublinha a dimensão espiritual. Então “a ordenação dos sete não é uma simples investidura jurídica, mas o reconhecimento de um novo serviço eclesial, que participa do serviço dos doze goza de dons carismáticos ou espirituais correspondentes” (FABRIS, 1991, p. 131).[6] Por isso ela tem importância capital e marca um novo modo de ser Igreja nos Atos.
Outra questão evidente é a da autoridade. Na perícope At 6,1-7 o significado dela parece ficar bem claro:
Trata-se de uma direção colegiada em vista de um serviço, diakonia, em favor da comunidade. É uma exigência da comunidade que faz surgir uma nova estrutura de serviço. As estruturas essenciais que se podem reconhecer na comunidade de Jerusalém são três: o serviço da palavra, o da oração e o serviço da assistência ou solidariedade com os pobres. (FABRIS, 1991, p. 132).
O título hierárquico que aparece na perícope é apenas o de Apóstolo. Fala-se da diaconia (v.2c), mas não de diáconos.  Kürzinger (1984, p. 162) explica que, “idiomaticamente os termos ‘bispo’ (episkopos) e ‘sacerdote’ (presbyteros) ainda não estão bem definidos” e que haverá referências a “diáconos” somente nas cartas aos Filipenses (Flp 1,1) e a Timóteo (ITm 3,8ss), sendo que, “na linguagem bíblica a palavra ‘diaconia’ compreende qualquer cargo, inclusive o apostólico”.[7]
          Quanto ao serviço das mesas (v.3) não se tem mais informações. Dos sete escolhidos
Lucas apenas fala da atividade de Estêvão e de Filipe; ou, mais exatamente, do discurso de Estêvão na sinagoga de Jerusalém e do seu martírio, bem como do apostolado na Samaria de Filipe o qual também batizou. E os outros? Uma observação de St. Irineu informa-nos que um deles, Nicolau, nomeado em At 6,5 e cujos sucessores são mencionados no Apocalipse (2,6 e 2,15), se tornou herético. (CTI, 2002).
No que diz respeito à assiduidade na oração e ao ministério da Palavra (v.4) Fabris (1991, p. 130) diz que isso queria dizer que eles deveriam permanecer “dedicados ao ‘serviço (diakonia) da palavra’, ao anúncio público e à catequese”, mas as páginas seguintes mostraram os sete e os Doze na mesma empresa.
O versículo sétimo fala que “a palavra do Senhor crescia” e “o número dos discípulos multiplicava- se enormemente em Jerusalém, e considerável grupo de sacerdotes obedecia à fé”. Estes sacerdotes não são membros “das grandes e ricas famílias sacerdotais, que contraiam o novo movimento messiânico, mas de sacerdotes do segundo escalão que vivem não raramente em condições de verdadeira miséria, sofrendo as injustiças do alto clero de Jerusalém” (FABRIS, 2001, p. 132). Isso justifica sua conversão e dá crédito ao relato, uma vez que o cristianismo surge como Igreja dos pobres e dos injustiçados (Lc 6, 20-26).

ATUALIZAÇÃO DE ATOS 6,1-7

 
O Catecismo da Igreja Católica (CIC, 1998) no número 1569 diz que “no grau inferior da hierarquia encontram-se os diáconos” e que lhes “são impostas as mãos ‘não para o sacerdócio, mas para o serviço’”. Já o número 1570 explicita que cabe aos diáconos, “entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir o funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade”. Rieff (2003, p.33) apresenta um estudo mostrando que nos primórdios da Igreja não era assim, bem como nós constatamos ao estudar At 6,1-7. Ele diz que numa primeira fase tanto bispo quanto o diácono tinham cargo de direção e que como os presbíteros nas comunidades judaico-cristãs, “os bispos e diáconos formavam um colégio e se revezavam nas tarefas locais (pregação, ensino, tarefas cultuais, cuidado com os pobres e presos da comunidade), bem como nas de representar a comunidade” (RIEFF, 2003, p.33).
Ele apresenta uma segunda e uma terceira fase. A segunda é caracterizada “pela distinção das tarefas que cabiam a cada qual” (RIEFF, 2003, p. 34). Salienta que “o epíscopo, gradativamente, assume o cargo de supervisor e vigia da comunidade”, que “além do bispo e do diácono, as comunidades gentílico-cristãs contavam ainda com um Presbitério” que exercia função semelhante a “um conselho comunitário de cooperação”, que o cargo de diácono continuava vinculado diretamente ao bispo e que o diácono exercia a tarefa episcopal da comunidade, e não apenas “atividades técnicocultuais” sendo “a mão direita do bispo, principalmente no serviço social, mas também assistente em certas funções cultuais” (p. 35). Segundo o autor, diáconos sucediam bispos no episcopado (p. 36). Cita Eleutério e Calisto como exemplos (p.36).
Na terceira fase, Rieff fala de um episcopado monárquico que “fixa a posição subordinada do diaconato masculino”:
Aquele alcance amplo da atividade diaconal, que abrangia inicialmente pregação, missão, liturgia e dimensão social, acaba gradativamente por restringir-se à responsabilidade sobre a ajuda social e o trabalho de socorro da igreja. Isso reflete o próprio estreitamento que sofreu o conceito de diaconia cristã. Nas celebrações eucarísticas, tanto dominicais (semanais) quanto batismais (anuais), o diácono assume tarefas litúrgicas, como a distribuição do pão e do cálice. É responsável por levar a eucaristia aos ausentes, dos elementos eucaristizados que sobraram na reunião da comunidade (RIEFF, 2003, p. 37).
A diaconia no cristianismo primitivo “era um dos caminhos para proclamar a verdade de Jesus de Nazaré. Quando os cristãos como comunidade, atuavam ajudando e socorrendo onde houvesse necessidade humana, isto representava um sermão sem palavras (ou em vez de palavras: 1Pd 3,1s)” (BROX, 1988, p.45). Não havia a preocupação imediata de ver o grau de poder ou de autoridade, pois “a diaconia era para os cristãos uma realidade na qual a salvação que pregavam já começava nesta terra, antes da morte, quando a pobreza, a necessidade, a tristeza e a morte eram banidas pelo amor” (BROX, 1988, p.45). Cristo foi o grande Diácono[8], os apóstolos o foram, bem como seus seguidores, uma vez que
o servir (diakonein) revelou-se assim como determinação radical da existência cristã, exprimindo-se no fundamento sacramental do ser cristão, da edificação carismática da Igreja, tal como do envio em missão dos Apóstolos e do ministério - a que o apostolado dá origem - da proclamação do Evangelho, da santificação e da direção das Igrejas (CTI, 2002).
 
Tal estudo de At 6,1-7 leva-nos a refletir que uma Igreja nos moldes dos sete é uma Igreja preocupada em servir antes do que estabelecer hierarquias e julgar dignidades. O próprio modo como Lucas redige o texto, embora desconfiemos que ele buscasse ocultar conflitos, mostra que a Igreja revigora-se na comunhão-missão-serviço. Não importa tanto o ministério e a vocação específica de cada cristão, mas o espírito com o qual a pessoa o realiza. O diacônico nos parece mais fiel à nossas origens e mais evangélico em todos os tempos.
O Papa Francisco tem conclamado a Igreja para isso. No Angelus apôs o primeiro consistório de seu ministério petrino, destacou que “aqueles que receberam um ministério de guia, de pregação, de administrar os Sacramentos não devem se considerar proprietários de poderes especiais, patrões, mas se colocar a serviço da comunidade, ajudando-a a percorrer com alegria o caminho da santidade” (FRANCISCO, 2014 - destaque nosso). E encerrando sua colocação, disse que os cardeais, bispos e o papa precisam de oração para poderem
servir o Povo de Deus, porque a vocação do bispo, do cardeal e do Papa é justamente essa: ser servidor, servir em nome de Cristo. Rezem por nós, para que sejamos bons servidores: bons servidores, não bons patrões! Todos juntos, bispos, presbíteros, pessoas consagradas e fiéis leigos devemos oferecer o testemunho de uma Igreja fiel a Cristo, animada pelo desejo de servir os irmãos e pronta a ir ao encontro com coragem profética às expectativas e exigências espirituais dos homens e mulheres do nosso tempo. Nossa Senhora nos acompanhe e nos proteja neste caminho (FRANCISCO, 2014 – destaque nosso).
­É esta a postura assumida pela Igreja na perícope por nós estudada. Francisco coloca como predicado de uma Igreja fiel a Cristo o ânimo em servir os irmãos. Trata-se da diakonia. E como a exemplo de At 6, 2 Francisco, representante máximo dos Doze na forma da Igreja atual, pede prontidão em “ir ao encontro com coragem profética às expectativas e exigências espirituais dos homens e mulheres do nosso tempo”. Por fim, ele ressalta Maria como aquela que acompanha e proteje, a diaconisa maior, o exemplo de servidora. Poderíamos iniciar outra expeculação a respeito do serviço feminino que, embora não apareça nesta perícope estudada, mostra-se oportuno na atualidade e possível na Igreja dos primórdios. E toda essa gama de chaves de leitura só existe porque a identidade da Igreja é o serviço aos mais necessitados, razão pela qual falar em diakonia é falar de Igreja e falar da Igreja é falar em diakonia.

CONCLUSÃO

Atos dos Apóstolos 6,1-7 não trata apenas do nascimento de um ministério na Igreja, mas evidencia o ministério fundamental que é o serviço. A sábia redação do texto mostra uma habilidade da autoria em demonstrar como a Igreja nos seus primórdios assume sua missão para além do judaísmo sem evidenciar os conflitos, mas o espírito como as divergências eram resolvidas.
Vemos dois modelos de Igreja: a dos Doze e a dos Sete. A dos Doze tem a autoridade colegiada e em vista de um serviço em favor da comunidade. Mas estruturas devem ser adaptadas às realidades e necessidades que surgem. A Igreja dos Sete nasce e recebe autoridade para sanar uma exigência da comunidade. O nome dado é serviço, diakonia. A comunidade de Jerusalém, com isso, passa a ter três estruturas essenciais: o serviço da palavra, o da oração e o serviço da assistência ou solidariedade com os pobres. Assim, permanece fiel à vocação cristã.
  Ser cristão é estar a serviço. Atos dos apóstolos 6,1-7 não narra historicamente o nascimento de um Sacramento na Igreja, como é compreendido quanto ao primeiro grau da Ordem, mas a própria identidade do cristão que é servir, a exemplo de Cristo que disse e demostrou: "Eu vim não para ser servido, mas para servir e dar a vida por resgate de muitos" (Mc 10,45). E isso serve também para quem vai assumir o ministério ordenado, seja no grau primeiro, segundo ou terceiro, pois sem o serviço, sem a diakonia, a Igreja perde sua identidade e se torna apóstata dentre de si mesma.
Isso nos ajuda a pensar a missão na atualidade. A Igreja que estiver a serviço da humanidade jamais perderá seu sentido em todos os âmbitos. É, pois, necessário repensar como organizar-se para bem servir. Nem sempre nossas estruturas, principalmente hierárquicas, têm ajudado. Sob o impulso do Espírito cabe a nós, cristãos do século XXI, propor e antecipar-se numa diaconia eclesial afim de que “o número dos discípulos cresça” e “ninguém seja deixado de lado no atendimento diário”, dentro e além da Igreja.

REFERÊNCIAS


BÍBLIA. Atos dos Apóstolos. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2003.
BROX, Norbert. Fazer da terra um céu. Diaconia na Igreja Primitiva. Concilium, Petrópolis, n. 218, 1988, p.45-52.
CASALEGNO, A. Ler os Atos dos Apóstolos: Estudo da Teologia Lucana da Missão. São Paulo: Edições Loyola, 2005, p. 82.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.             
COMBLIN, J. Atos dos Apóstolos. Vol I: 1-12. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 70-76.
COMBLIN, José. Ricos e pobres nos Atos dos Apóstolos. Vida pastoral. São Paulo: Paulus, Maio-Junho de 2001.
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL. Diaconado, evolução e perspectivas. 2002. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_ documents/rc_con_cfaith_pro_05072004_diaconate_po.htmlIV._O_MINISTÉRIO_DAS_DIACONISAS_> Acesso em: 13 de maio de 2014).
FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apóstolos. São Paulo: Loyola, 1991.
FRANCISCO, Papa. Angelus. Praça de São Pedro, Domingo, 23 de Fevereiro de 2014. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2014/documents/papa-francesco_angelus_20140223.html> Acesso em: 15 de maio de 2014.
GLAAB, Bruno. Atos dos Apóstolos. (Manuscrito), ESTEF, 2014.
KÜRZINGER, Josef. Atos dos Apóstolos. Petrópolis: Vozes, 1984.
MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Edições Paulinas, 1984.
MOSCONI, Luís. Atos dos Apóstolos. Como ser Igreja no início do terceiro milênio? São Paulo, Paulinas, 2001.
RIEFF, Sissi Georg. Diaconia e culto cristão: o resgate de uma unidade e suas consequências para a vida das comunidades cristãs. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2003.
SAOÛT, Yves.  Atos dos Apóstolos: ação libertadora. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.



[1] “O título grego é ‘Atos de Apóstolos’ e não ‘Atos dos Apóstolos’; o significado do termo, em certo sentido, é indefinido, mas não é limitado aos Doze” (MACKENZIE, 1984, p. 93).
[2] “Uma datação anterior, nos 60-63 foi sugerida por alguns autores por causa do final brusco dos Atos, no qual nada se diz sobre o êxito do processo em Roma” (FABRIS, 1991, p. 33).
[3] “O evangelho de Lucas, completado pelos Atos, é o único evangelho destinado a uma pessoa (ou grupo de pessoas). Os outros são destinados a uma comunidade ou a várias comunidades. Por que esse interesse particular de Lucas, que, de certo modo, cria um privilégio? É difícil imaginar que Lucas tenha escrito essa obra especialmente para um pobre. Trata-se de pessoa importante (ou de grupo de pessoas importantes) — humanamente falando. A obra de Lucas mostra que pessoas importantes humanamente falando, também podem ser importantes eclesialmente falando” (COMBLIN, 2001, p. 3).
[4]Diakonos pode significar o que serve à mesa (p. ex. Jo 2,5 e 9), o servo do Senhor (Mt 22,13; Jo 12,26; Mc 9,35; 10,43; Mt 20,26; 23,11), o servidor com um poder espiritual (2Co 11,14; Ef 3,6; Cl 1, 23; Gl 2,17; Rm 15,8; 2Co 3,6), o servidor do Evangelho, de Cristo, de Deus (2Co 11,23); as autoridades pagãs estão também ao serviço de Deus (Rm 13,4); os diáconos são os servidores da Igreja (Cl 1,25; 1Co 3,5). No caso em que o diácono pertence a uma das Igrejas, a Vulgata não utiliza a palavra minister, mas conserva o grego diaconus. O que mostra claramente que em At 6,1-6 não se trata da instituição do diaconato.” (CTI, 2002).
[5] “Os Doze lembram os patriarcas das 12 tribos de Israel. Os Sete lembram os dirigentes das sinagogas (conselho)” (GLAAB, 2014, p. 16).
[6] “Nas Igrejas confiadas ao cuidado apostólico de S. Paulo, os diáconos aparecem ao lado dos episkopoi exercendo um ministério que lhes é subordinado ou coordenado (Fl 1,1; 1Tm 3,1-13). Já nos escritos apostólicos se faz correntemente menção de diáconos juntamente com o bispo, ou então do bispo com os presbíteros. Mas são raras as fontes históricas que referem os três em conjunto: bispo, presbítero e diácono.” (CTI, 2002).
[7] "Diaconado" e "apostolado" são por vezes sinónimos, como em At 1,17-25, em que - quando da agregação de Matias aos onze apóstolos - Pedro designa o apostolado "parte do nosso serviço" (v. 17: ton kleron tes diakonias tautes) e fala de serviço e de apostolado (v. 25: ton topon tes diakonias kai apostoles, o que a TOB traduz: "le service de 1'apostolat"). Este texto dos Atos cita também o Sl 109,8: "Que um outro tome o seu cargo (ten episkopen)”. Põe-se a questão: diakonia, apostole, episkope são equivalentes ou não? Segundo a opinião de M. J. Schmitt e J. Colson "apostolado" é "uma cláusula redacional para corrigir 'diakonias'." (CTI, 2002).
[8] “O primeiro dado pertinente e fundamental do NT é que o verbo diakonein designa a própria missão de Cristo como servidor (Mt 10,45 par; cf. Mt 12,18; At 4,30; Fl 2,6-11). Esta palavra ou seus derivados designam também o exercício do serviço pelos seus discípulos (Mc 10,43ss; Mt 20,26ss; 23,11; Lc 8,3; Rm 15,25), os serviços de diferentes tipos na Igreja, nomeadamente o serviço apostólico de pregar o Evangelho, e outros dons carismáticos” (CTI, 2002).

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