O PAPEL DOS DIÁCONOS. Estudo de At 6,1-7.
Atos dos Apóstolos “traduz o grego praxeis apostolôn” (SAOÛT, 1991, p 12)[1].
É um dos livros do Novo Testamento que busca apresentar a vida da Igreja
nascente principalmente representada em Pedro e Paulo. O Livro teve sua redação
final provavelmente “entre os anos 80 e 90 do primeiro século” (MOSCONI, 2001,
p. 67)[2].
Está destinado a certo Teófilo (At 1,1), nome que significa “amigo de Deus”. É
um nome simbólico (MOSCONI, 2001, p. 64) conforme compreendem a maioria dos
estudiosos[3].
Segundo Fabris (1991, p. 26) “os Atos se dirigem antes de tudo e diretamente
aos leitores cristãos provenientes do mundo dos pagãos”, pois, as cidades
citadas, por exemplo, pertencem ao Império.
O livro dos Atos também pode ser lido dentro da perspectiva
do Evangelho de Lucas, pois ele dá continuidade ao Terceiro Evangelho, basta
conferir os prólogos (Lc 1,1-4 e At 1,1) (Cf. COMBLIN, 2001, p.70). Busca
mostrar “um projeto de Deus dentro da história” como num caminho. Apresenta o
ideal que vai da Galiléia a Jerusalém, donde busca alcançar os confins do mundo
(cf. FABRIS, 1991, p. 35). Também, entende a salvação como dom de Deus em Jesus
Cristo onde a iniciativa soberana é “de Deus que comunica a salvação em Jesus e
a centralidade ‘do Senhor Jesus glorificado que dá sentido novo à história” (FABRIS,
1991, p. 37). Quanto à salvação, compreende-a como um processo na “história”
uma vez que a Igreja continua a missão salvífica de Cristo (cf. FABRIS, 1991,
p. 38). A redação deixa evidente a proeminência do Espírito: “o livro é o
evangelho do Espírito como Lc era o evangelho do Filho. A plenitude do Espírito
e da missão da Igreja é vista na expansão da Igreja pelo mundo gentio” (MACKENZIE,
1984, p. 93).
Sobre o autor
assenta-se a indicação da Tradição de que seria Lucas antioqueno, médico e
acompanhante de Paulo (cf. FABRIS, 1991, p. 23). Há os que objetam pelo fato de
que o Paulo de Atos e das epístolas possuírem uma imagem contrastante
tratando-se, portanto, de outro autor que não o Lucas da Tradição (cf. FABRIS,
1991, p. 23). E se for assim, “provavelmente o autor de Atos não tenha
conhecido nem convivido com Paulo, porém era seu grande admirador, (...) era um
apagão convertido, uma pessoa culta, estudada, um pesquisador e conhecedor do
mundo da época” (MOSCONI, 2001, p. 69-70).
Atos é o primeiro retrato da Igreja assistida pelo Espírito,
sob a liderança dos Apóstolos e sem a presença histórica de Jesus (At 2, 1-13).
Uma Igreja com dinamismo polarizado, ao mesmo tempo modelo e modelando-se (At
2, 42-47). Conflitua-se internamente com os judeus e com o Império Romano (At
5,17; 17-18). A mesma missão de Jesus, as suas dificuldades e confiança em Deus
são vividas pelos personagens e pelas comunidades. A tarefa é anunciar o
Evangelho de Jesus Cristo, mesmo que se possa ter o destino que Ele alcançou na
cruz (At 7, 54-60; 28, 28; 2, 14-36), afinal, a cruz não é o fim (At 10,
39-40).
ANÁLISE DE ATOS 6,1-7
Há
várias possíveis modos de ler e dividir o Livro dos Atos dos Apóstolos.
Casalegno (2005, p. 82), por exemplo, apresenta uma divisão sintética do livro
em cinco partes observando seus aspectos temáticos e literários e coloca At 6,
1-7 na segunda seção onde a figura central ainda é Pedro. Esta seção apresenta
a difusão do Evangelho para além das fronteiras de Jerusalém que passa de ponto
de chegada para ser ponto de partida do Evangelho. Eis a perícope:
1 Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos,
surgiram murmurações dos helenistas contra os hebreus. Isto porque, diziam
aqueles, suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. 2 Os Doze convocaram então a multidão dos
discípulos e disseram: "Não é conveniente que abandonemos a Palavra de
Deus para servir às mesas. 3 Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete
homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os
encarregaremos desta tarefa. 4 Quanto a nós, permaneceremos assíduos à
oração e ao ministério da Palavra".
5 A proposta agradou a toda a
multidão. E escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe,
Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 6
Apresentaram-nos aos apóstolos e, tendo orado, impuseram-lhes as
mãos. 7
E a palavra do Senhor crescia. O número dos discípulos multiplicava- se
enormemente em Jerusalém, e considerável grupo de sacerdotes obedecia à fé (At
6,1-7).
Vê-se
a grande importância desta pelo fato dela “assinalar uma mudança importante no
desenvolvimento histórico da primeira comunidade cristã” (FABRIS, 1991, p. 128),
como acima dissemos. O próprio emprego da locução “naqueles dias” (v.1) leva a
entender que se inicia uma nova parte da obra (cf. KÜRZINGER, 1984, p. 154). É
aqui que aparece pela primeira vez o termo “discípulos” associados aos Doze;
também é a primeira vez que é mencionado um grupo de judeu-cristãos de língua e
cultura grega e a tensão que se originou destes com os cristãos de origem
palestinense. Destarte, a instituição de uma missão de “sete” pessoas para resolver
a questão (cf. FABRIS, 1991, p. 128).
Os
helenistas citados eram os residentes em Jerusalém que “converteram-se ao
cristianismo e constituíram um grupo bem distinto dos outros convertidos do
judaísmo, que Lucas chama de ‘hebreus’” (FABRIS, 1991, p. 130). Estes últimos tendiam
à Lei e ao culto judaico. Ambos os grupos se diferenciam quanto à língua e ao
estilo de vida (cf. KÜRZINGER, 1984, p. 155). A questão das viúvas é um sinal
de algo mais profundo (v.1). Helenistas e hebreus tinham outras querelas também
fora da comunidade (cf. FABRIS, 1991, p. 130).
Os
Doze aparecem com função mediadora nesta tensão. A proposta que surge mantém os
Doze como testemunhas por excelência da ressurreição e propagadores desta Boa
Notícia, enquanto aos sete fica a providencia dos bens e a assistência os
pobres (FABRIS, 1991, p. 130). Distinção teórica, já que Estevão e Filipe farão
o que os Doze fazem (cf 8, 14.40; 21,8). Fabris (1991, p. 131) apresenta a
suspeita de que esta organização dos sete trata-se, na verdade de “uma
descentralização e de uma autonomia organizacional para os grupos dos cristãos
caracterizados por uma identidade étnico-cultural”, ou seja, é mais do que “uma
comissão de assistência dependente dos doze”, mas sim, “o grupo dirigente
presidindo os cristãos de língua grega, paralelo ao grupo dos ‘anciãos’ ou
presbíteros, cujo chefe é Tiago, para os cristãos de língua aramaica” (FABRIS,
1991, p. 131).[4] Assim
sendo, esta perícope assinala o processo da “passagem do cristianismo de cultura
hebraica para a cultura grega (...), fator determinante para a
ocidentalização da Igreja e o primeiro passo para a missão de Paulo” (GLAAB,
2014, p. 15).
Quanto
à escolha dos sete “nada vimos a saber com referência ao processo usado. A
situação agora já não é a mesma da escolha de Matias (1,15ss)” (KÜRZINGER,
1984, p. 159). Vale os critérios do versículo terceiro: “boa reputação,
repletos do Espírito e de sabedoria”. Os sete têm nomes gregos, e se falará mais apenas de Estêvão e de Filipe, os
primeiros da lista (v.5).
O
versículo sexto fala que os Doze impuseram as mãos sobre os sete[5]
e que esta foi acompanhada de uma oração, o que sublinha a dimensão espiritual.
Então “a ordenação dos sete não é uma simples investidura jurídica, mas o
reconhecimento de um novo serviço eclesial, que participa do serviço dos doze
goza de dons carismáticos ou espirituais correspondentes” (FABRIS, 1991, p. 131).[6]
Por isso ela tem importância capital e marca um novo modo de ser Igreja nos
Atos.
Outra
questão evidente é a da autoridade. Na perícope At 6,1-7 o significado dela
parece ficar bem claro:
Trata-se de uma direção colegiada em vista de um serviço, diakonia, em favor da comunidade. É uma
exigência da comunidade que faz surgir uma nova estrutura de serviço. As
estruturas essenciais que se podem reconhecer na comunidade de Jerusalém são
três: o serviço da palavra, o da oração e o serviço da assistência ou
solidariedade com os pobres. (FABRIS, 1991, p. 132).
O
título hierárquico que aparece na perícope é apenas o de Apóstolo. Fala-se da
diaconia (v.2c), mas não de diáconos. Kürzinger
(1984, p. 162) explica que, “idiomaticamente os termos ‘bispo’ (episkopos) e
‘sacerdote’ (presbyteros) ainda não estão bem definidos” e que haverá
referências a “diáconos” somente nas cartas aos Filipenses (Flp 1,1) e a
Timóteo (ITm 3,8ss), sendo que, “na linguagem bíblica a palavra ‘diaconia’
compreende qualquer cargo, inclusive o apostólico”.[7]
Quanto
ao serviço das mesas (v.3) não se tem mais informações. Dos sete escolhidos
Lucas apenas fala da atividade de Estêvão e de Filipe;
ou, mais exatamente, do discurso de Estêvão na sinagoga de Jerusalém e do seu
martírio, bem como do apostolado na Samaria de Filipe o qual também batizou. E
os outros? Uma observação de St. Irineu informa-nos que um deles, Nicolau,
nomeado em At 6,5 e cujos sucessores são mencionados no Apocalipse (2,6 e
2,15), se tornou herético. (CTI, 2002).
No
que diz respeito à assiduidade na oração e ao ministério da Palavra (v.4)
Fabris (1991, p. 130) diz que isso queria dizer que eles deveriam permanecer
“dedicados ao ‘serviço (diakonia) da
palavra’, ao anúncio público e à catequese”, mas as páginas seguintes mostraram
os sete e os Doze na mesma empresa.
O versículo
sétimo fala que “a palavra do Senhor crescia” e “o número dos discípulos
multiplicava- se enormemente em Jerusalém, e considerável grupo de sacerdotes
obedecia à fé”. Estes sacerdotes não são membros “das grandes e ricas famílias
sacerdotais, que contraiam o novo movimento messiânico, mas de sacerdotes do
segundo escalão que vivem não raramente em condições de verdadeira miséria,
sofrendo as injustiças do alto clero de Jerusalém” (FABRIS, 2001, p. 132). Isso
justifica sua conversão e dá crédito ao relato, uma vez que o cristianismo
surge como Igreja dos pobres e dos injustiçados (Lc 6, 20-26).
ATUALIZAÇÃO
DE ATOS 6,1-7
O
Catecismo da Igreja Católica (CIC, 1998) no número 1569 diz que “no grau
inferior da hierarquia encontram-se os diáconos” e que lhes “são impostas as
mãos ‘não para o sacerdócio, mas para o serviço’”. Já o número 1570 explicita
que cabe aos diáconos, “entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na
celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia, distribuir a
Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar,
presidir o funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade”. Rieff
(2003, p.33) apresenta um estudo mostrando que nos primórdios da Igreja não era
assim, bem como nós constatamos ao estudar At 6,1-7. Ele diz que numa primeira
fase tanto bispo quanto o diácono tinham cargo de direção e que como os
presbíteros nas comunidades judaico-cristãs, “os bispos e diáconos formavam um
colégio e se revezavam nas tarefas locais (pregação, ensino, tarefas cultuais,
cuidado com os pobres e presos da comunidade), bem como nas de representar a
comunidade” (RIEFF, 2003, p.33).
Ele
apresenta uma segunda e uma terceira fase. A segunda é caracterizada “pela
distinção das tarefas que cabiam a cada qual” (RIEFF, 2003, p. 34). Salienta
que “o epíscopo, gradativamente, assume o cargo de supervisor e vigia da comunidade”,
que “além do bispo e do diácono, as comunidades gentílico-cristãs contavam
ainda com um Presbitério” que exercia função semelhante a “um conselho comunitário
de cooperação”, que o cargo de diácono continuava vinculado diretamente ao
bispo e que o diácono exercia a tarefa episcopal da comunidade, e não apenas
“atividades técnicocultuais” sendo “a mão direita do bispo, principalmente no
serviço social, mas também assistente em certas funções cultuais” (p. 35). Segundo
o autor, diáconos sucediam bispos no episcopado (p. 36). Cita Eleutério e
Calisto como exemplos (p.36).
Na
terceira fase, Rieff fala de um episcopado monárquico que “fixa a posição
subordinada do diaconato masculino”:
Aquele alcance amplo da atividade diaconal, que abrangia
inicialmente pregação, missão, liturgia e dimensão social, acaba gradativamente
por restringir-se à responsabilidade sobre a ajuda social e o trabalho de socorro
da igreja. Isso reflete o próprio estreitamento que sofreu o conceito de
diaconia cristã. Nas celebrações eucarísticas, tanto dominicais (semanais)
quanto batismais (anuais), o diácono assume tarefas litúrgicas, como a distribuição
do pão e do cálice. É responsável por levar a eucaristia aos ausentes, dos
elementos eucaristizados que sobraram na reunião da comunidade (RIEFF, 2003, p.
37).
A diaconia no cristianismo primitivo “era um dos caminhos
para proclamar a verdade de Jesus de Nazaré. Quando os cristãos como
comunidade, atuavam ajudando e socorrendo onde houvesse necessidade humana,
isto representava um sermão sem palavras (ou em vez de palavras: 1Pd 3,1s)”
(BROX, 1988, p.45). Não
havia a preocupação imediata de ver o grau de poder ou de autoridade, pois “a
diaconia era para os cristãos uma realidade na qual a salvação que pregavam já
começava nesta terra, antes da morte, quando a pobreza, a necessidade, a
tristeza e a morte eram banidas pelo amor” (BROX, 1988, p.45). Cristo foi o grande Diácono[8], os
apóstolos o foram, bem como seus seguidores, uma vez que
o servir (diakonein)
revelou-se assim como determinação radical da existência cristã,
exprimindo-se no fundamento sacramental do ser cristão, da edificação
carismática da Igreja, tal como do envio em missão dos Apóstolos e do ministério
- a que o apostolado dá origem - da proclamação do Evangelho, da
santificação e da direção das Igrejas (CTI, 2002).
Tal estudo de At 6,1-7 leva-nos a refletir que uma Igreja
nos moldes dos sete é uma Igreja preocupada em servir antes do que estabelecer
hierarquias e julgar dignidades. O próprio modo como Lucas redige o texto,
embora desconfiemos que ele buscasse ocultar conflitos, mostra que a Igreja
revigora-se na comunhão-missão-serviço. Não importa tanto o ministério e a
vocação específica de cada cristão, mas o espírito com o qual a pessoa o
realiza. O diacônico nos parece mais fiel à nossas origens e mais evangélico em
todos os tempos.
O Papa Francisco tem conclamado a Igreja para isso. No Angelus apôs o primeiro consistório de
seu ministério petrino, destacou que “aqueles que receberam um ministério de guia, de pregação, de administrar os
Sacramentos não devem se considerar proprietários de poderes especiais,
patrões, mas se colocar a serviço da
comunidade, ajudando-a a percorrer com alegria o caminho da santidade”
(FRANCISCO, 2014 - destaque nosso). E
encerrando sua colocação, disse que os cardeais, bispos e o papa precisam de
oração para poderem
servir o Povo de Deus, porque a vocação
do bispo, do cardeal e do Papa é justamente essa: ser servidor, servir em nome
de Cristo. Rezem por nós, para que sejamos bons servidores: bons servidores,
não bons patrões! Todos juntos, bispos, presbíteros, pessoas consagradas e
fiéis leigos devemos oferecer o testemunho de uma Igreja fiel a Cristo, animada
pelo desejo de servir os irmãos e
pronta a ir ao encontro com coragem profética às expectativas e exigências
espirituais dos homens e mulheres do nosso tempo. Nossa Senhora nos acompanhe e
nos proteja neste caminho (FRANCISCO, 2014 – destaque nosso).
É esta a postura assumida pela Igreja na perícope
por nós estudada. Francisco coloca como predicado de uma Igreja fiel a Cristo o
ânimo em servir os irmãos. Trata-se da
diakonia. E como a exemplo de At 6, 2 Francisco, representante máximo dos
Doze na forma da Igreja atual, pede prontidão em “ir ao encontro com coragem profética às expectativas e
exigências espirituais dos homens e mulheres do nosso tempo”. Por fim, ele
ressalta Maria como aquela que acompanha e proteje, a diaconisa maior, o
exemplo de servidora. Poderíamos iniciar outra expeculação a respeito do
serviço feminino que, embora não apareça nesta perícope estudada, mostra-se
oportuno na atualidade e possível na Igreja dos primórdios. E toda essa gama de
chaves de leitura só existe porque a identidade da Igreja é o serviço aos mais
necessitados, razão pela qual falar em diakonia
é falar de Igreja e falar da Igreja é falar em diakonia.
CONCLUSÃO
Atos dos Apóstolos 6,1-7 não trata apenas do nascimento de
um ministério na Igreja, mas evidencia o ministério fundamental que é o
serviço. A sábia redação do texto mostra uma habilidade da autoria em
demonstrar como a Igreja nos seus primórdios assume sua missão para além do
judaísmo sem evidenciar os conflitos, mas o espírito como as divergências eram
resolvidas.
Vemos dois modelos de Igreja: a dos Doze e a dos Sete. A dos
Doze tem a autoridade colegiada e em vista de um serviço em favor da
comunidade. Mas estruturas devem ser adaptadas às realidades e necessidades que
surgem. A Igreja dos Sete nasce e recebe autoridade para sanar uma exigência da
comunidade. O nome dado é serviço, diakonia.
A comunidade de Jerusalém, com isso, passa a ter três estruturas essenciais: o
serviço da palavra, o da oração e o serviço da assistência ou solidariedade com
os pobres. Assim, permanece fiel à vocação cristã.
Ser cristão é estar a serviço. Atos dos
apóstolos 6,1-7 não narra historicamente o nascimento de um Sacramento na
Igreja, como é compreendido quanto ao primeiro grau da Ordem, mas a própria
identidade do cristão que é servir, a exemplo de Cristo que disse e demostrou: "Eu
vim não para ser servido, mas para servir e dar a vida por resgate de
muitos" (Mc 10,45). E isso serve também para quem vai assumir o ministério
ordenado, seja no grau primeiro, segundo ou terceiro, pois sem o serviço, sem a
diakonia, a Igreja perde sua
identidade e se torna apóstata dentre de si mesma.
Isso
nos ajuda a pensar a missão na atualidade. A Igreja que estiver a serviço da
humanidade jamais perderá seu sentido em todos os âmbitos. É, pois, necessário
repensar como organizar-se para bem servir. Nem sempre nossas estruturas,
principalmente hierárquicas, têm ajudado. Sob o impulso do Espírito cabe a nós,
cristãos do século XXI, propor e antecipar-se numa diaconia eclesial afim de
que “o número dos discípulos cresça” e “ninguém seja deixado de lado no
atendimento diário”, dentro e além da Igreja.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Atos dos Apóstolos. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo:
Paulus, 2003.
BROX, Norbert. Fazer da terra um céu. Diaconia na Igreja
Primitiva. Concilium, Petrópolis, n.
218, 1988, p.45-52.CASALEGNO, A. Ler os Atos dos Apóstolos: Estudo da Teologia Lucana da Missão. São Paulo: Edições Loyola, 2005, p. 82.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
COMBLIN, J. Atos dos Apóstolos. Vol I: 1-12. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 70-76.
COMBLIN, José. Ricos e pobres nos Atos dos Apóstolos. Vida pastoral. São Paulo: Paulus, Maio-Junho de 2001.
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL. Diaconado, evolução e perspectivas. 2002. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_ documents/rc_con_cfaith_pro_05072004_diaconate_po.htmlIV._O_MINISTÉRIO_DAS_DIACONISAS_> Acesso em: 13 de maio de 2014).
FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apóstolos. São Paulo: Loyola, 1991.
FRANCISCO, Papa. Angelus. Praça de São Pedro, Domingo, 23 de Fevereiro de 2014. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2014/documents/papa-francesco_angelus_20140223.html> Acesso em: 15 de maio de 2014.
GLAAB, Bruno. Atos dos Apóstolos. (Manuscrito), ESTEF, 2014.
KÜRZINGER, Josef. Atos dos Apóstolos. Petrópolis: Vozes, 1984.
MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Edições Paulinas, 1984.
MOSCONI, Luís. Atos dos Apóstolos. Como ser Igreja no início do terceiro milênio? São Paulo, Paulinas, 2001.
RIEFF, Sissi Georg. Diaconia e culto cristão: o resgate de uma unidade e suas consequências para a vida das comunidades cristãs. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2003.
SAOÛT, Yves. Atos dos Apóstolos: ação libertadora. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.
[1]
“O título grego é ‘Atos de Apóstolos’
e não ‘Atos dos Apóstolos’; o
significado do termo, em certo sentido, é indefinido, mas não é limitado aos
Doze” (MACKENZIE, 1984, p.
93).
[2]
“Uma datação anterior, nos 60-63 foi sugerida por alguns autores por causa do
final brusco dos Atos, no qual nada se diz sobre o êxito do processo em Roma”
(FABRIS, 1991, p. 33).
[3]
“O evangelho de Lucas, completado pelos Atos, é o único evangelho destinado a
uma pessoa (ou grupo de pessoas). Os outros são destinados a uma comunidade ou
a várias comunidades. Por que esse interesse particular de Lucas, que, de certo
modo, cria um privilégio? É difícil imaginar que Lucas tenha escrito essa obra
especialmente para um pobre. Trata-se de pessoa importante (ou de grupo de
pessoas importantes) — humanamente falando. A obra de Lucas mostra que pessoas
importantes humanamente falando, também podem ser importantes eclesialmente
falando” (COMBLIN, 2001, p. 3).
[4]
“Diakonos pode significar o que serve à mesa (p. ex. Jo 2,5 e 9), o
servo do Senhor (Mt 22,13; Jo 12,26; Mc 9,35; 10,43; Mt 20,26; 23,11), o
servidor com um poder espiritual (2Co 11,14; Ef 3,6; Cl 1, 23; Gl 2,17; Rm
15,8; 2Co 3,6), o servidor do Evangelho, de Cristo, de Deus (2Co 11,23); as
autoridades pagãs estão também ao serviço de Deus (Rm 13,4); os diáconos são os
servidores da Igreja (Cl 1,25; 1Co 3,5). No caso em que o diácono pertence a
uma das Igrejas, a Vulgata não utiliza a palavra minister, mas conserva
o grego diaconus. O que mostra claramente que em At 6,1-6 não se trata
da instituição do diaconato.” (CTI, 2002).
[5]
“Os Doze lembram os patriarcas das 12 tribos de Israel. Os Sete
lembram os dirigentes das sinagogas (conselho)” (GLAAB, 2014, p. 16).
[6]
“Nas Igrejas confiadas ao cuidado apostólico de S. Paulo, os diáconos aparecem
ao lado dos episkopoi exercendo um ministério que lhes é subordinado ou
coordenado (Fl 1,1; 1Tm 3,1-13). Já nos escritos apostólicos se faz
correntemente menção de diáconos juntamente com o bispo, ou então do bispo com
os presbíteros. Mas são raras as fontes históricas que referem os três em
conjunto: bispo, presbítero e diácono.” (CTI, 2002).
[7]
"Diaconado" e "apostolado" são por vezes sinónimos, como em
At 1,17-25, em que - quando da agregação de Matias aos onze apóstolos - Pedro
designa o apostolado "parte do nosso serviço" (v. 17: ton kleron
tes diakonias tautes) e fala de serviço e de apostolado (v. 25: ton
topon tes diakonias kai apostoles, o que a TOB traduz: "le service de
1'apostolat"). Este texto dos Atos cita também o Sl 109,8: "Que um
outro tome o seu cargo (ten episkopen)”. Põe-se a questão: diakonia,
apostole, episkope são equivalentes ou não? Segundo a opinião de
M. J. Schmitt e J. Colson "apostolado" é "uma cláusula
redacional para corrigir 'diakonias'." (CTI, 2002).
[8]
“O primeiro dado pertinente e fundamental do NT é que o verbo diakonein designa a própria missão de
Cristo como servidor (Mt 10,45 par; cf. Mt 12,18; At 4,30; Fl 2,6-11). Esta
palavra ou seus derivados designam também o exercício do serviço pelos seus
discípulos (Mc 10,43ss; Mt 20,26ss; 23,11; Lc 8,3; Rm 15,25), os serviços de
diferentes tipos na Igreja, nomeadamente o serviço apostólico de pregar o
Evangelho, e outros dons carismáticos” (CTI, 2002).
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