O leão e o beija-flor - a razão e o coração

Certa vez, o rei da selva andava intrigado com uma questão: "o que devo guardar no coração?". É que ele estava vivendo situações difíceis: terminara um relacionamento, enfrentara falatório das gralhas e desavenças com os chimpanzés. Tudo isto estava no seu coração e ele sentia-se roubado de si mesmo por essas coisas. Elas lhe distraiam, tiravam-lhe o ânimo e a alegria.

Foi, então, que decidiu perguntar a coruja, a mais sábia dentro os seres da selva, com quem deveria conversar sobre os assuntos do coração. Ele precisava falar com alguém que lhe ajudasse. Depois de ouvi-lo, a coruja respondeu que “não sabia direito”. - Quem sabe, fale com o beija-flor. Ele é o animal que tem o menor coração de toda natureza", disse ela.  Mas saiba que ele também tem o coração que bate mais rápido, chegando até mil vezes por minuto.

- Não, dona Coruja. Meu coração já anda acelerado demais, disse o Leão. Diga-me quem é que tem o maior coração, talvez seja mais proveitoso.

A coruja lhe explicou:

- Quem tem o maior coração é a Baleia (tem o tamanho de um barco). Entretanto, ele bate apenas 25 vezes por minuto.

O Leão viu que dialogar com a baleia seria quase impossível, por isso resolveu falar com o beija-flor.

- Beija-flor, ajude-me. Quero saber o que é preciso fazer para deixar o coração livre dessas coisas que só machucam?

- Leão, isto é impossível, respondeu o beija-flor.

- Mas, tu tens tudo isso no seu coração tão pequenino e tão veloz?

- Sim, Leão, tenho. Mas procuro mantê-los na medida certa.

- E o que é preciso para mantê-los na medida certa?

Calmamente lhe respondeu o pequenino pássaro:

- Se puder, aprenda a submeter tudo ao filtro da razão antes de deixar atingir o coração.

E o beija-flor bateu as asas sem se despedir do Leão que, impactado com a resposta, apercebeu-se da ausência do pequenino só depois de longos minutos.

Permitimos que muitas coisas insignificantes nos atinjam plenamente. Não deve ser assim. Há coisas que devem ficar fora do sacrário de nossa interioridade. Grande parte de tudo o que nos rodeia entra ou sai de nós por causa das oportunidades que lhes damos. “Submeter tudo ao filtro da razão antes de deixar atingir o coração” é filtrar o precioso daquilo que é lixo. Pense na razão das pessoas agirem equivocadamente contigo, depois considere o que deve ou não ser levado a sério. Reflita sobre a verdadeira importância e o peso que você dá às respostas e acontecimentos do cotidiano.

Passar pelo filtro da razão é usar de sabedoria. Se percebemos que alguma coisa nos seduz, mas não cabe dentro de nossos objetivos e valores, deixemo-la. Se uma palavra feriu, não a carregue, pois ela é sobrepeso. Não deixe a euforia sufocar os seus mais nobres sentimentos. A razão é o lugar do discernimento. Mesmo que o seu coração seja tão pequenino como o do beija-flor e bata aceleradamente diante de certas pessoas e situações, dê a medida certa, não guarde lixo.

Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS

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