Um sinal de Deus


Isso aconteceu a mais ou menos dois anos atrás. Era uma noite fria de inverno. Eu tinha acabado de presidir uma celebração da Palavra na comunidade. Meu dia tinha sido difícil e isto pesou na hora de dirigir aquela celebração. Alguns problemas me roubavam a paz. Eu a buscava em Deus, mas Deus parecia distante. “Ele poderia me dar um sinal!”, era o que balbuciava meu coração. “Mas, tudo bem, isto deve fazer parte da vida!”

Despedi o povo da celebração e me dirigi à entrada da igreja para o cumprimento final aos irmãos. Quando quase todos já tinham saído, detive-me numa conversa com um senhor. Subtraído pelo assunto, senti uma mão tocar-me o ombro. Virei-me. Era uma mãe que trazia no colo um menino de mais ou menos dois anos. A mãe me disse: “Irmão, ele quer lhe dar um beijo”, e eu, sem saber o que dizer, respondi “claro!” e recebi aquele doce e angelical beijo. Eu lhe agradeci o gesto e lhe dei a benção. A mãe se despediu e saiu da igreja. Encerrei o diálogo com a pessoa que falava comigo, despi-me da túnica, apaguei as luzes, fechei a igreja e fui para casa. 

Amigos, por que conto este incidente em minha vida? Para segredar-lhes que Deus me enviou um beijo quando lhe pedi um sinal. Deus me beijou naquele dia, e o fez da forma mais bela que poderia fazer. Digo isto pelo fato de que aquela criança não me conhecia, não ligou muito para o que eu falei no percurso daquela celebração, mesmo assim quis me beijar, e somente isto. Ela não sabia o que aquilo significaria para mim, nem dos sinais que eu pedi a Deus, mas foi o anjo portador da mensagem que eu precisava receber. E, pela graça de Deus, eu compreendi isto.

Sabe gente, muitas vezes, pedimos sinais e sinais a Deus. Contrariamente, à mesma medida, enrijecemos e tornamos insensível o nosso coração focando as amarguras da vida. Deus fala, Deus mostra, Deus envia seus sinais, mas a gente precisa estar atento para perceber. Mais do que isto: devemos estar corajosamente dispostos a aceitar o que Deus enviar, pois nem sempre será o que a gente espera. Deus é sábio, envia o que precisamos e não o que queremos. Deus conhece nossa força mais do que nós mesmos. Seu silêncio, muitas vezes, é apenas a assistência para que descubramos o homem novo e a mulher nova possível à nossa identidade. Deus é forte quando nós descobrimos nossa força. Sua força não depende disso, mas se torna mais comunicável, mais evidente. Deus quer que você eu alcancemos o máximo de nós mesmo. Jesus certa vez disse que o máximo da semente acontece quando ela se torna planta, mas para ser isso já não é mais semente (Jo 12, 24). Uma metáfora tão rica, mas insignificante para muita gente que só foca as amarguras da vida. Atinjamos o máximo de nós mesmos, ainda que Deus silencie. Atinjamos o máximo de nós mesmos acolhendo os beijos de Deus vindos da boca de uma criança ou de um ancião, de um jovem de nossas igrejas ou da prisão, do doente ou do viciado, do crente ou do não-crente, do feliz e do desanimado, do sábio e do menos formado.

Quem espera um sinal de Deus sempre será surpreendido. A esperança não decepciona (Rm 5, 5). O segredo está em, cada vez que batermos à porta de Deus, à mesma medida, abrirmos também a porta do nosso próprio coração. E abrir o coração quer dizer torná-lo mais sensível, torná-lo mais atento a Deus, que é atento (como ninguém) à nossa oração, à nossa vida. Mais do que as dificuldades, o que, de fato ,faz parte da nossa vida é a atenção que Deus dispensa para conosco. E o beijo daquela criança selou isto em meu coração.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Dinâmica sobre Vocações

Dinâmica da Flor de Papel (recolhida pelo autor)

Dinâmica de Semana Santa para Grupos de Jovens