O silêncio como amparo na morte de um ente querido
Palavras são como remédio: aliviam a dor, curam feridas,
estimulam a vida. Mas é preciso ser a palavra certa, na hora certa, do jeito
certo. Palavras e remédios também fazem mal, mesmo que a intenção seja boa.
É sábio não falar do que é desconhecido, não receitar o que
não é de nossa competência e ser consciente de que não é a quantidade, mas a
qualidade do remédio e da palavra que, de fato, socorre aquele que padece.
O silêncio oportuno nos momentos mais sofridos da vida é
uma das mais altas formas de empatia e solidariedade. É o amparo que vale, pois
a dor não se explica.
O silêncio que acolhe, que escuta, que respeita, que chora
junto, que transmite esperança e benquerer, é mais fecundo que muitas palavras.
Ele mesmo cria espaço para as palavras se encaixarem e cumprirem a missão que
lhes cabe.
O silêncio é amigo da palavra. No luto, por exemplo, a
postura humilde de quem oferece primeiro os ombros que as palavras – ombro é
metáfora do silêncio sábio e companheiro, jamais ausente e omisso – é remédio
para umas das mais profundas dores da humanidade.
Diante da morte o silêncio se faz necessário:
Para viver a dor, a dor que só existe porque é precedida
pelo amor. Feliz a dor quem vem do amor. Feliz amor que assume a dor, mas não
renuncia a graça de amar e viver em nome de quem ama;
Para organizar os sentimentos. A morte abre uma válvula com
vazão sem precedentes de todos os sentimentos que nos acompanham. O silêncio de
quem nos acompanha deixa os sentimentos mostrar sua face. É preciso conhecê-los
como eles se mostram para os organizar, para nos organizarmos interiormente;
Para entender, sem o filtro dos outros, o que aquela pessoa
significava. Pode ser que falem tanto da pessoa que morreu a ponto de torná-la
estranha para quem chora sua partida. Pode ser que a morte dela não ajude a
refletir a vida, porque as pessoas falam das relações deles com ela, mas é
importante que cada pessoa possa refletir sua relação pessoal com quem partiu;
Para entender que o caminho será sem ela daqui para frente.
Aceitar isso é muito complicado, mas o silêncio fecundo de quem nos acompanha
dá-nos a confiança para dizer o que de fato sentimos: “Basta que você esteja ao meu lado, esteja junto de mim, que me estenda
a sua mão, pois, caso eu não consiga, sei que poderei contar contigo. E isto é
tudo que agora necessito”;
Para que a virtude silenciosa da esperança, esperança na
vida eterna, inunde a vida e nos ajude a refazer os passos da nossa jornada;
Mesmo que a dor seja fruto de outras dores, o silêncio
respeita o processo que a morte fez instaurar-se na pessoa.
O silêncio como amparo na morte de um ente querido é
metáfora para o leque da fecundidade do silêncio. Em todos os momentos da vida,
o silêncio é importante, bem como as palavras. Mas há momentos, como o da
morte, em que o silêncio se faz mais necessário e frutuoso. Pense nisso!
Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS
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