Deus desengavetado


O título lhe pareceu curioso? Você entenderá logo porque o utilizei. Bem, em nossa vida precisamos equilibrar o valor que damos as coisas. Isto é consenso da maioria. Entretanto, saber em que momento evidenciar algo ou deixá-lo em baixo relevo não é uma tarefa fácil. É preciso sabedoria. É nesta arte que tenho percebido como a grande parte das pessoas, diante do vai vem da vida, faz dela um móvel com muitas gavetas, feito uma cômoda, um armário ou um arquivo. Dentro dessas gavetas guarda tudo o que precisa. Ali estão as coisas que aprendeu e tudo que considera importante. Em cada circunstância abre a gaveta correspondente e trás a público o que estava engavetado. Infelizmente, Deus não escapa deste engavetamento. Estranha maneira de harmonia. Pseudocrença de equilíbrio.

Então me veio à mente São Francisco de Sales. Este homem dizia que a cada momento devemos pensar em Deus, recordar da sua presença e manifestar-lhe nosso amor. Achei esta ideia muito bela e me perguntei pela razão do santo insistir nela. Sim, por que devemos pensar sempre em Deus? A resposta veio da minha prática ou tentativa dela: é para não engavetá-Lo. Eis, o que creio ser, uma boa analogia. Grande parte da humanidade leva Deus a sério. Mas, às vezes, o engaveta. Deus é lembrado em algumas horas. Geralmente, estas horas lhe são convenientes: momentos de dificuldade em que só Deus poder ajudar; quando se tem a companhia de religiosos; quando falar de Deus gera ganho pessoais aquém da fé. Percebi também que, às vezes, eu faço isso. Que vergonha! Puxo a gaveta da categoria Deus apenas quando me convém. Em outras horas a fecho e deixo que o conteúdo de outras gavetas me seja o suficiente.

Pensar constantemente em Deus! Francisco de Sales não queria que engavetássemos Deus, por isso nos pedia para dirigirmos o pensamento ao Senhor. Se assim o fizermos, Deus estará presente a nossa consciência a todo momento. Consequentemente, se consideramos nosso modo de pensar como critério para definir nossas obras, Deus será a lente para tudo, assim erraremos menos e aprenderemos a amar mais.

Pensar sempre em Deus é uma forma de irmos purificando a imagem que dele temos. Deus não é só aquilo que pensamos. Ao nele pensar, vamos descobrindo sua verdadeira face. Ele se mostra a quem o busca. Não há um momento específico para pensar em Deus, muito menos para amá-lo. Aqui quero lembrar, novamente, nosso santo: "o grande bem de uma alma não consiste em pensar muito em Deus, mas em amá-lo muito".  Dito de outra forma: “melhor do que pensar em Deus, é amá-lo”, porém, não se ama sem pensar. E quando pensamos em que amamos descobrimos que não se consegue esquecer quem se ama.

Procure sempre pensar em Deus e que este seu pensamento seja encaminhado por causa do amor que você tem a Ele. Não deixe Deus engavetado! Não ponha numa gaveta aquele que é o “móvel que comporta todas as gavetas”. Que o pensamento em Deus seja a luz que envolve tudo o que você fizer. Deus não pode ser lembrado apenas quando já não há outra saída. Deus não pode ser uma alternativa porque, então, ele já não será o seu Deus. Exercite-se em tê-Lo sempre plenamente em sua vida. Procure, durante o seu dia, lembrar-se Dele. E assim, Ele será tudo em ti e você se fará tudo para todos, conforme são Francisco de Sales.

Talvez, dos exercícios espirituais, este seja o mais simples e o mais forte. O mais fácil, mas também, o mais exigente. No futebol e no passeio, no trabalho e no tobogã, no tricotar e na faxina, na lavoura ou na cozinha, dirigindo ou dançando, estudando ou vendo televisão, diante do computador ou de uma cirurgia, na Igreja e na avenida, a noite e ao meio-dia, brincando ou decidindo, pense em Deus, pois Deus não deixa de pensar em você. Deus engavetado, não! Deus pleno em nossas vidas para realizar o que Ele quiser, sim! E o pequeno grande passo que daremos para que isso se efetive em nossa vida é pensar em Deus o máximo que pudermos. Simples assim. Árduo assim. Tarefa para você! Tarefa para mim!

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