Renúncia do Papa


Queridos amigos e amigas, estou partilhando um texto que jamais imaginara compor, sobre um assunto que não cogitara vir à tona neste momento. Vou trazer presente minha opinião quanto ao anúncio da renúncia do Sumo Pontífice Bento XVI, o Papa Ratzinger. E vou começar com um suspiro da alma que a muitos parecerá óbvio e estranho: como é bom saber que o Papa é um homem como todos os seres humanos da terra!

Seu pronunciamento deixou evidente isto, principalmente quando na sua mensagem, o Pontífice diz: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino” e, “para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado”. Quantas vezes cobramos dele atitudes divinas enquanto ele podia fazer só aquilo que um homem podia fazer? Sim, assistido pelo Espírito Santo, mas não super-homem, por isto. O Papa carrega o mundo nos ombros. É um homem que aceitou conduzir a Igreja, segundo Jesus conduziu seus seguidores. Como pastor universal, traz nas palavras o conforto a força para todos os filhos da Igreja, em todos os cantos do mundo. Mas também precisa daquilo que anuncia. É alguém que, mesmo fortalecendo o mundo inteiro com a mensagem de fé, esperança e amor que ultrapassa os séculos, cansa-se como se cansa todo mortal. Sobre Bento XVI, o bispo Joseph Ratzinger, pesa os assuntos da Igreja e o passar dos anos, principalmente a cruz da infidelidade e hipocrisia de alguns dos membros de seu rebanho. Nós, nem sempre fomos solidários com sua missão, uma vez que não hesitávamos em criticá-lo, ou não nos esforçávamos para defendê-lo. Estou a pensar nisto.

Quando Jesus buscou Pedro na beira do lago para conceder novamente a ele a missão de seu sucessor, lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo. Quando tu eras mais novo, cingias-te e ias onde desejavas; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres” (Jo 21, 17-18). Jesus contava a Pedro os desafios de sua missão e recordava a humanidade de um sucessor de Cristo, o Deus-homem. Assim, o Papa não tinha que ser diferente, pois Cristo mostrou-se Deus justamente pela capacidade de ser humano, tão humano quanto só Deus poderia ser. Portanto, o papa, fiel imitador de Cristo, quando mais homem fosse, mais resplandeceria a dignidade de seu ministério.

O Papa é diferente, sim. E tem se mostrado grande: grande por causa do seu ministério, da sua missão como sucessor de Pedro e representante de Cristo; grande por ter conduzido a Igreja com fidelidade, coragem e disciplina; grande por causa de sua sabedoria, prudência, bom senso e confiança em Deus ao manifestar seu desejo de renúncia. Sua força está na fé e na amizade que cultiva com Cristo. Não num possível monopólio do poder. Estamos sendo recordados por ele com este seu sublime ato: na Igreja poder é serviço e quando não se pode mais servir como convém, se compartilha e, até mesmo, cede o poder, pois o que importa é que Cristo seja anunciado e o povo de Deus, servido.

Em meu modo de ver, a renúncia do Papa Bento XVI é um dos atos mais proféticos de nosso tempo. Por quê? Por causa do que descrevi acima.  Nós devemos nos agarrar somente a Deus. O resto, pois mais digno que seja, é secundário. Pontífice significa ponte, aquilo que leva a outro ou outrem. Ponte não existe para ficarmos nela, mas para passarmos por ela, para irmos além. O Papa entendeu que é somente uma ponte e que é Cristo e o seu Reino o ponto imutável de referência aos cristãos. Se ele não fosse renunciar e permanecesse na cátedra de Pedro até o fim de sua passagem terrestre, eu o admiraria mesmo assim. No entanto sua atitude surpreendeu e me fez olhá-lo por uma esfera que não imaginava. Grandes homens surpreendem. E Ratzinger me surpreendeu positivamente. Santo Padre, vossa atitude confirmou todas as vossas palavras contra o egoísmo e o relativismo vigentes em nossos tempos! Ninguém mais, na Igreja Católica Romana de nosso tempo, terá desculpas para sustentar seu desejo mesquinho de monopolizar o poder, nem manter-se nele se ele não for efetivamente um serviço à humanidade.

Não quero dizer que tudo o que ele fez e falou é incontestável. Ele, inclusive, pediu perdão em seu pronunciamento. Mas sei que tenho critérios testemunhados nele, para identificar um grande líder, um grande homem: fé, coragem, caridade e humildade. O Papa nos ama. Quem ama não prende, nem domina, mas serve e deixa seguir. Com a renúncia de Bento XVI, a Igreja não perde um Papa. Ela ganha um exemplo vivo de serviço, fé e desapego. Certa vez, ele disse: "os mistérios de Deus estão sempre para além de nossos conceitos e da nossa razão!” Aceitar sua renúncia é um ato de fé. Lembremo-nos que ele mesmo, abriu em outubro, o ano da fé.

O Papa anunciou sua renúncia ao ministério petrino! Em mim doeu esta notícia. Eu realmente gosto do Papa. Mais sei que é porque ele nos quer bem que tomou esta decisão. Eu também não devo ser egoísta a ponto de preferir que ele sobrecarregue-se com uma missão que já discerniu ser melhor sob conduta de outro. Estou rezando por ele e pela Igreja. Que tenhamos um Papa segundo o coração de Deus. Convido vocês a também estarem unidos em prece. Amados, Deus nos ama! Termino com este pensamento que foi o tema da primeira encíclica de Sua Santidade Bento XVI, o Papa que iniciou seu pontificado com fama de durão e está terminando-o tendo o bem-querer de toda Igreja e de boa parte da humanidade. Obrigado Santidade, por tudo! Foste exímio pastor da Igreja e sois querido irmão da humanidade.

 

 

 

 

 

 

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