O bem não precisa de máscaras


Você já pensou na origem das máscaras? Um amigo me fez pensar e arrancou uma frase há muito tempo adormecida em mim: “O bem não precisa de máscaras!”. Máscara é um objeto tipicamente humano. Surgiu, provavelmente, a partir da observação de animais que se camuflavam mudando de aspecto frente a um predador ou um possível acasalamento. Nasceu com a função de representar entidades nos ritos religiosos primitivos e aplacar a ira dos espíritos. Depois foi transferida para o teatro e, ali, por obra das conveniências, vinculou-se ao cunhamento da palavra “pessoa”, uma vez que trazia presente alguém que não estava, personificava. Então a palavra pessoa nasceu desta realidade, do uso de máscaras para a interpretação de quem estava ausente, mas representado ali. Com a caracterização da máscara, o ator trazia presente alguém ausente.

Tendo dito isto, preciso recordar um detalhe: a máscara trás alguém presente, mas esconde outra. O ator ou ritualista se esconde para que o personagem tenha vida, voz e vez. Nos ritos e teatros isto é saudável e plausível. Mas no cotidiano é uma catástrofe. Não existe coisa mais desconfortável, para não dizer irritante, ouvir alguém que diz coisas em nome da verdade, no entanto a sufoca. A falsidade distância, agride, magoa, mata. É casada com a mentira e alheia à existência da verdade. Em grego verdade é A-LETEIA, que significa “o que não se esconde”, “aquilo que não passa”. A verdade, metaforicamente, é o ato de tirar as máscaras, mostrar o humano. Sim, a verdade é humanizante. Mesmo quando amarga, é a dose necessária para nossa liberdade, o tom certo para o respeito à dignidade de cada pessoa.

Estou pensando no bem! Faz bem pensar no bem, assim como faz bem pensar bem. E concluo: o bem não precisa de máscaras! Quantas coisas mascaradas temos visto ultimamente! O slogan fala do bem, mas o bem não se mostra completamente. Há interesses usurpadores que fascinam e enganam. Não, o bem não é assim. O bem não usa máscara. O bem é nu. A sua nudez é o mistério que não enfadonha, sua simplicidade encanta.

São Francisco de Sales dizia que “é um grande mal não fazer o bem”. Nós temos um compromisso com o bem. Ele só tem vida em nós, por isso ele é nossa criança gigante: frágil e imensamente potente. Agredir uma criança é uma atitude condenável. Não cuidar do bem é algo semelhante. Já percebeu como rapidamente o bem pode se quebrar? Já se deu conta de que parece muito mais fácil seguir com a corrente do mal, do que com a do bem? Alguém fala mal de mim, eu falo mal dela, nós brigamos, outras pessoas entram na briga, ficam magoadas, magoam e assim segue. Alguém usa um meio de comunicação para manipular o povo, quem percebe fica quieto, quem não entende reproduz, o tempo passa, vem outra falsidade alienante, já se acostumamos e não reagimos, omitimos, não fazemos o mal, mas também não fazemos o bem, “laissez fair” e o mundo piora. Não deveria ser assim. Não deveria, mesmo!

Duvide de quem se apresenta como sendo a perfeição. Reflita mais sobre propostas molduradas demais. Lembre-se do ontem, imagine o amanhã e escute o momento presente. O bem não usa máscaras. Ele te respeita, ele te espera, te compromete, te desafia, encoraja, acredita em ti e te perdoa sempre. E o faz através de pessoas, pois o bem não é uma entidade corporal, mas um dom intrínseco ao ser humano que ganha vida na medida em que cada pessoa faz a opção por viver com ele. O bem não usa máscaras porque quer que vejamos seu sorriso, que o olhemos nos olhos, que beijemos sua face, que vejamos seus lábios pedindo ajuda ou dizendo: “basta!”; não usa máscaras para que não seja confundido nas horas mais determinantes da nossa vida. Não confunda o bem. O mal pode usar máscaras e querer se parecer com o bem. Mas se você tem familiaridade com o bem não confundirá os traços desta criança gigante. Gigante porque tem uma força imensurável, criança porque, como dizia, é frágil, tão frágil que precisa de mim e de você.



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