Nem sempre preferimos a Deus - Espiritualidade Salesiana (Tratado do Amor de Deus)

No caminho do amor a Deus ocorre muitas vezes de cairmos. Na linguagem da fé dizemos “pecar”. Quem cai no caminho geralmente é porque distraiu-se. Prestou atenção demais em outra coisa deixando o caminho e o objetivo. E isso pode acontecer com todos. Essa distração maior leva ao pecado, um rompimento com a Caridade.
O pecado venial “priva-nos da intimidade espiritual que a caridade incita” (TAD IV,II), porque nos leva a fazer coisas fora de Deus e da sua vontade (TAD IV,II). Já o pecado mortal é um desprezo de Deus (TAD IV,IV), é preferir a criatura ao Criador. E este é grave porque, “entre todo os amores, o de Deus deve ser de tal modo preferido e extremado que não havemos de pôr dúvida e abandoná-los a todos por este” (TAD X,VII).
E, se pecamos, não é por culpa de Deus, bem como, nossos acertos não só unicamente méritos nossos. A santidade é uma relação com Deus, uma amizade fecunda em que os amados dão e recebem. Deus sempre tem muito mais a nos oferecer, mesmo assim, deseja e espera nossa parte, nosso dom. Sua grandeza em nós se manifesta quando retornamos ao caminho. Ele se alegra no amor, regozija-se com o que podemos fazer e o fazemos por amor a Ele.
Dizendo de outra forma, com uma historinha do Tratado.
Num dia de verão, cerca do meio-dia, muitos viajantes adormeceram à sombra duma árvore. Enquanto a fadiga e a frescura agradável da sombra lhes prolonga o sono, o sol segue seu curso, dardejando sobre eles diretamente os raios. E esta suave violência do sol obrigou-os a despertar. Uns, depois de acordados, levantaram-se e, continuando seu caminho, chegaram felizmente a casa; mas, outros, além de se não levantarem, voltaram as costas ao sol, enterraram os chapéus até aos olhos, e passaram o resto do dia dormindo. Mais tarde, surpreendidos pela noite, querendo ainda assim chegar a suas casas, puseram-se a caminho, mas perderam-se numa floresta.
Teótimo, os que chegaram ao seu destino não deviam agradecer a sua boa fortuna ao sol, ou, para mais cristãmente falar, ao Criador do sol? Sim, foi o sol que os despertou. E os que ficaram dormindo, poderão culpar o sol? Não, pois todos receberam igualmente os favores do sol. A diferença é que alguns preferiram ficar dormindo.
Teótimo, todos somos viajantes nesta vida mortal. Quase todos nós deixamos adormecer voluntariamente na iniquidade, e Deus, Sol de Justiça, dardeja sobre todos nós suficientíssimos, senão abundantes, raios de suas inspirações, abrasa os nossos corações com suas bênçãos e move-nos pelos encantos do seu amor. Aqueles que, tendo sido atraídos, se deixam cativar e seguem a inspiração, têm grande motivo de se regozijarem, mas não de se glorificarem, porque o devem à pura bondade de Deus, que lhes concedeu a fruição dum benefício, reservando-se, porém, toda a glória dele. Quanto aos que permanecem no sono do pecado têm bem razão de se lamentar e afligir porque se encontram na mais funesta desgraça, mas não podem queixar-se senão de si mesmos, por terem sido rebeldes à luz e esquivos aos atrativos da graça, teimando contra a inspiração divina (TAD IV,I).
Reflitamos mirando o Coração Misericordioso de Jesus, vamos reconhecer nossos pecados, nossas preferências fora de Deus e a grande preferência que Ele tem por nós. Mesmo quando não o preferimos, Ele sempre nos prefere. Peçamos a graça de acordar na Fé, na Esperança e na Caridade e de seguirmos o caminho da Misericórdia, nas sendas da reconciliação, com a força do perdão.

(TAD - Tratado do Amor de Deus)

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