O meu amado é meu - Espiritualidade Salesiana (Tratado do Amor de Deus)

“O amor que dedicamos a Deus tem a sua origem na primeira complacência que o nosso coração sente quando, ao aperceber-se da divina Bondade, começa a tender para ela. Quando aumentamos e reforçamos esta primeira complacência pelo exercício do amor, atraímos ao nosso coração as perfeições divinas e gozamos da divina bondade pela satisfação que nela encontramos. Sentimos então o contentamento amoroso que a Esposa sagrada exprime assim: ‘O meu amado é meu’” (TAD V,III).
Amar é pertencer ao amado. A mãe é mais dos filhos do que de si mesma. Um grande amigo acaba sendo mais do outro do que de si mesmo (principalmente quando este precisa dele). A esposa e o esposo se pertencem tanto que já não são dois, mas um só. E nossa relação com Deus conhece o mais alto nível de pertença que é aquele descrito por São Paulo: “Tal era também a paixão amorosa de S. Paulo, o grande apóstolo e amigo de Jesus, que dizia:  Eu vivo, ou para melhor dizer, não sou eu já quem vive; mas Cristo é que vive em mim; e a nossa vida está escondida com Jesus Cristo em Deus. Se uma gota de água natural, lançada num oceano de água aromática, pudesse falar, não clamaria com grande alegria: Ó mortais, eu vivo, na verdade, mas não sou eu mesma que vivo, é este oceano que vive em mim, e a minha vida está oculta neste abismo!” (TAD VI, XII).
Estas descrições dizem respeito ao amor de Complacência e ao amor de Benevolência. A Complacência é a abertura e docilidade de coração que brota do prazer em amar e ser amado. Nos faz dar o nosso coração a Deus. A Benevolência é o bem que desejamos a alguém, é querer bem, querer fazer o bem (TAD I,XIII). Por este amor procuramos agradar a Deus em tudo. Assim, “o amor de complacência atrai Deus para o íntimo de nosso coração, enquanto que o amor de benevolência lança para Deus o nosso coração, e com ela todos os nossos atos e afetos, consagrando-lhes com profundo amor” (TAD VIII,II).
Sim, “o nosso amor para com Deus começa (...) pela complacência que temos na suma bondade e infinita perfeição que sabemos existirem na Divindade; em seguida, passamos ao exercício da benevolência” (TAD V,VI). “O amor de complacência atrai Deus para o íntimo de nosso coração, enquanto que o amor de benevolência lança para Deus o nosso coração, e com ela todos os nossos atos e afetos, consagrando-lhes com profundo amor” (TAD VIII,II).
Mas a Deus não podemos fazer nenhum bem porque ele é o Bem em si. “Verdadeiramente nenhum bem podemos desejar a Deus, porque a sua bondade é infinitamente mais perfeita que tudo quanto pudéssemos desejar ou imaginar. (...) Não podendo, pois, em absoluto, desejar coisa alguma para Deus, formamos desejos imaginários e condicionais, por este modo: Eu disse ao Senhor: Vós sois o meu Deus, porque possuindo a plenitude da vossa infinita bondade não tendes necessidade dos meus bens nem de coisa alguma, mas se, por impossível, eu pudesse pensar que precisáveis de algum bem, nunca cessaria de vo-lo desejar à custa da minha vida, do meu ser e de tudo quanto existe no mundo. (...) Há ainda uma espécie de benevolência para com Deus quando, ao considerar que não podemos engrandecê-lO n'Ele mesmo, desejamos engrandecê-lO em nós, fazendo crescer mais e mais e sempre a complacência que temos em sua divina bondade” (TAD V,VI).

Com estes dois modos do amor compreendemos como ser de Deus e ter Deus como sendo da gente. Vamos rezar imaginando-nos aquela gota de água que nosso Pai Francisco mencionou, aquela gota de água natural lançada num oceano de água aromática clamando com grande alegria: “eu vivo, mas não sou eu mesma que vivo, é este oceano que vive em mim, e a minha vida está oculta neste abismo!” (TAD VI, XIII). Sintamos a alegria desta gota, a complacência dela. E nos doemos ao mar, sejamos benevolentes, façamos o que for possível para alegrar este mar do Amor Divino. Valendo-nos de um pensamento da mais recente santa da Igreja, Teresa de Calcutá, Tenhamos presente que “somos só mais uma gota no mar, mas sem esta gota o mar seria menor”.  Deus nos quis, somos sua Sulamita, somos a gota que Ele quer ver diluindo-se em seu amor para que Ele viva em nós e nós Nele.

(TAD -  Tratado do Amor de Deus)

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