Olhai as abelhas do campo - Espiritualidade Salesiana (Tratado do Amor de Deus)

No Tratado do Amor de Deus, São Francisco de Sales ensina todos os cristãos àquilo que exercitava em sua vida e na vida de suas amadas Filhas da Visitação. Como um dia Jesus disse, “olhai os lírios do campo” (Mt 6,28), Francisco de Sales nos ensina, dizendo: “olhai as abelhas do campo”.
“A abelha na primavera vai voando de flor em flor não ao acaso, mas de propósito; não somente para se recrear com o aprazível matiz da paisagem, mas para procurar o mel, e, tendo-o achado, suga-o e dele se carrega. Em seguida leva-o à colmeia, dispõe-no artisticamente, separando dele a cera e fazendo com esta o favo no qual conserva o mel para o inverno seguinte. Tal é a alma devota na meditação: vai de mistério em mistério, não de passagem, nem mesmo só para se consolar com a admirável beleza dessas divinas verdades, mas com o intuito de encontrar motivos de amor e afetos, e, tendo-os encontrado, os atraí a si, os saboreia, e deles se carrega e, resumindo-os e dispondo-os dentro do coração, põe de parte o que vê ser mais apropriado ao seu adiantamento, fazendo resoluções convenientes para o tempo da tentação” (TAD VI,II).
“ A contemplação não é outra coisa mais que uma amorosa, simples e permanente atenção do espírito às coisas divinas. Para melhor a compreendermos vamos compará-la com a meditação. Como as abelhas percorrem os campos sugando aqui e ali o mel, e, tendo-o recolhido, trabalham-no pelo prazer que sentem na sua doçura: do mesmo modo meditamos para recolher o amor de Deus, e, tendo-o alcançado, contemplamos a Deus e atentamos na sua bondade pela suavidade que o amor nos faz encontrar nela. O desejo de obter o amor divino faz-nos meditar, e o amor obtido faz-nos contemplar; porque o amor faz-nos achar uma suavidade tão agradável no objeto amado, que os nossos espíritos não se saciam de o ver e de o considerar” (TAD VI,III).
Com outra comparação, diz-nos no Tratado:
“A meditação é semelhante ao que cheira o cravo, a rosa, o alecrim, o tomilho, o jasmim, a flor de laranjeira, umas após outras distintamente; enquanto que a contemplação se assemelha ao que cheira a água aromática composta de todas estas flores, porque este recebe numa só impressão todos os aromas juntos; e não há dúvida de que o perfume composto da mistura de diversos aromas é mais suave e precioso do que o de cada um em separado” (TAD VI,V).
            O nosso mundo de hoje está caracterizado pela correria, pelo excesso de atividades, pelo cansaço e pela falta de tempo. Não se consegue mais prestar atenção a quem se ama. É como se amar fosse um peso, porque não dá tempo de amar direito, de prestar atenção no outro, de deter-se numa conversa com ele, de dar e receber carinho sem ser interrompido pela vibração do celular ou por mais um compromisso que acaba esgotando em si mesmo. Meditação e Contemplação são esses modos de amar a Deus em primeiro lugar, deixando todo o resto por amor Dele, para estar com Ele, para deixar-se amar, para prestar atenção nos detalhes das coisas, do seu rosto, ouvir seu coração, sentir sua respiração, atender ao seu clamor ou, simplesmente estar ali, como uma companhia amorosa de um muito amoroso amigo. Isso é profético, é revolucionário. É dar atenção Àquele que fica despercebido neste mundo agitado pelas necessidades criadas e postas em substituição Dele.

Convido a escolherem uma destas imagens descritas no início do texto e aplicá-la à sua reflexão. Meditação e Contemplação estão sempre presentes em nossa oração e, até mesmo, em nossa ação. É a atenção especial para com o Amado de nossa alma. É um modo de lembrar a mundo que Deus está em primeiro lugar e que ninguém nem nada o pode substituir. O Tratado quer nos ajudar naquilo que é essencial. 

(TAD - Tratado do Amor de Deus)

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