O PROGRESSO DO CRISTÃO NO TRATADO DE SÃO FRANCISCO DE SALES - Espiritualidade Salesiana


O Tratado do Amor de Deus nasce como obra essencialmente pastoral, constituída por doze livros endereçados a Teótimo, o cristão adulto, espiritualmente maduro.  Seu objetivo é simples e grandioso: ensinar a Teótimo como colocar em prática o que se espera do primeiro mandamento, e, fazendo assim, levá-lo a uma união amorosa com Deus.
O amor de Deus para com a humanidade é uma convicção primordial e indubitável que perpassa o Tratado. Jesus é o maior exemplo do amor de Deus por nós, por isso se tornou “o nosso amor, e o nosso amor é a vida de nossa alma”. O amor é o centro da vida cristã porque sobre ele está assentado todo o ensinamento de Cristo e da Igreja e porque nos leva a realizar a vontade de Deus.  O nosso amor para com Ele é o efeito próprio e particular do seu amor para conosco.
O Tratado ensina que há dois movimentos neste amor que nasceu no coração: o de complacência (abertura e docilidade de coração) e o de benevolência (o bem que desejamos a alguém). Daí resulta que o amor tem exercícios afetivos e efetivos. Por meio dos afetivos amamos a Deus e o que ele ama. Por meio dos efetivos servimos a Deus e fazemos o que ele ordena. Também é possível perder o amor e isso se dá quando preferimos dar nosso amor em primeiro lugar a outro que não Deus.
O processo do cristão no propósito de amar a Deus descrito no Tratado mostra o amor como a vida da alma e o ato de amar uma faculdade da vontade. Amar a Deus é dar-se a ele e deixar-se guiar por ele.  O cristão começa a progredir no propósito de amar a Deus quando se dá conta e deixa-se envolver pelo amor divino. Esse é o primeiro passo. Tal amor se mostrou e se mostra real por muitos modos e meios. No entanto, em Jesus se dá a maior demonstração do amor de Deus por nós. Sua encarnação, morte e ressurreição é a forma extrema com a qual Deus nos amou. Por isso o amamos e temos vida neste amor.
Francisco de Sales crê que temos uma inclinação natural para amar a Deus sobre todas as coisas e que há uma conveniência entre o homem e Deus, Deus e o homem, mas precisamos da graça celeste e da santa caridade para amar a Deus como convém. Por isso propõe que, amando a Deus, o cristão siga pelo caminho das virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A virtude da fé nos faz crer neste amor, a esperança a ser beneficiado por este amor e, a caridade, a amar a Deus por amor dele mesmo, em consideração da sua bondade sumamente amável. A Caridade ou amor de Deus é a mais excelente virtude. Ela possui dois movimentos: o de complacência e o de benevolência[1]; e dois tipos de exercícios: afetivos e efetivos. Por meio dos afetivos amamos a Deus e o que ele ama. Por meio dos efetivos servimos a Deus e fazemos o que ele ordena. Se preferimos dar nosso amor em primeiro lugar a outro que não Deus, o podemos perder.
A progressão e aperfeiçoamento na Caridade ou amor de Deus se dá por meio dos exercícios, que são as boas obras e a participação nos Sacramentos. Avançamos por distintas formas, num aperfeiçoamento da sensibilidade e postura da alma: primeiro amamos a Deus nas consolações; depois, amamos a vontade divina nos seus mandamentos, nos conselhos e inspirações; por fim, amamos os sofrimentos e tribulações por amor de Deus. Este é o mais elevado grau de Caridade. 
Outra forma de progredir é conhecendo a Deus. Tal conhecimento se dá pela oração, meditação e contemplação. Enfim, Francisco de Sales insiste que o amor divino cresce na vida do cristão à medida que esse corresponde à graça de Deus. Mas a busca do aperfeiçoamento do amor a Deus se dá pela prática de amá-lo em tudo, principalmente no próximo. Amar a Deus e amar o próximo são a mesma coisa, pois o ser humano é a imagem de Deus.
Resumindo: o progresso do cristão no propósito de amar a Deus segue este caminho: 1° Dar-se conta e deixar-se envolver pelo amor divino; 2º Pedir e acolher a graça de Deus para amá-lo como convém; 3º Seguir no caminho das virtudes teologais: fé, esperança e caridade (amor de Deus). Ela possui dois movimentos: o de complacência e o de benevolência; e dois tipos de exercícios: afetivos e efetivos; Exercitar-se por meio de boas obras e pela vida Sacramental;Aperfeiçoar a sensibilidade e postura da alma: amar a Deus nas consolações; passar para os mandamentos, conselhos e inspirações; e amá-lo nos sofrimentos e tribulações por amor dele mesmo; 6º Conhecer a Deus pela oração, meditação e contemplação; 7º Amá-lo em tudo, principalmente no próximo.
Alguns conselhos para o progresso do cristão no santo amor (Cf. livro 12): 1) Ter o contínuo desejo de amar; 2) Suprimir (orientar) outros desejos; 3) As ocupações legítimas não atrapalham; 4) Empregar todas as ocasiões na prática do amor; 5) Praticar as ações com muita perfeição; 6) Sacrificar a Deus o nosso livre arbítrio; 7) Considerar os motivos que temos para o santo amor (Calvário).
O amor não tem limites, só se limita a amar. Que possamos PROGREDIR no amor, na caridade! E isto só será realmente cristão se considerarmos o amor de Deus como a grande vocação de cada coração.

Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS




[1] O amor de complacência atrai Deus para o íntimo de nosso coração, enquanto que o amor de benevolência lança para Deus o nosso coração, e com ela todos os nossos atos e afetos, consagrando-lhes com profundo amor” (TAD, p. 346).

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