O Tratado do amor de Deus de São Francisco de Sales - Espiritualidade Salesiana


O Tratado do amor de Deus é a obra-prima de São Francisco de Sales publicada em 1616 em Lyon na França. Trata-se se de uma obra sistemática de teologia espiritual, de cunho pastoral, com doze livros endereçados a Teótimo “o cristão adulto, espiritualmente maduro”[1]. Francisco diz que Teótimo “é o próprio espírito humano, que deseja fazer progressos no amor de Deus” (TAD[2], p. 15). Inicialmente era para ser a vida de uma santa camponesa chamada Caridade. Mas depois tornou-se a obra que hoje temos.
Francisco de Sales não empreende a explicação do mistério de Deus, mas vai, com exemplos da Bíblia e de Jesus Cristo, colocando cada pessoa sob a luz do amor divino, exemplificando a relação de amor para com Deus com experiências humanas familiares como o amor esponsal, o amor de uma mãe para com o seu bebê, etc. É desta forma que expõe sua doutrina prática e espiritual, levando-nos a entender como é possível amar o bom Deus e como viver numa união amorosa com Ele. Quando o escreveu, nosso santo “queria ajudar cada membro de sua diocese na prática fundamental do primeiro mandamento” (RAVIER, 2000, p. 2)[3], tendo como projeto mais dois tratados: um que seria sobre o amor ao próximo e ao terceiro sobre o amor de cada pessoa a si mesmo. Porque faleceu repentinamente com apenas 55 anos de idade, não pode concluir seu projeto.
O primeiro capítulo do TAD traz uma preparação para todo o livro; o segundo capítulo trata da história, da gênesis e do nascimento celeste do divino Amor; no terceiro se fala do progresso e da perfeição do amor; no quarto, da decadência e ruína da Caridade; no quinto, dos primeiros exercícios do amor sagrado que se fazem por complacência e benevolência; no sexto, dos exercícios do santo Amor na oração; no sétimo, da união da alma com seu Deus que se aperfeiçoa na oração; no oitavo, do Amor de conformidade;  no nono, do Amor de submissão; no décimo, do mandamento do Amor; no penúltimo, da soberana autoridade que o Amor sagrado possui sobre todas as virtudes...; por fim, no último, de alguns conselhos para o progresso da alma no santo Amor.
O Tratado mostra o amor como a vida da alma e o ato de amar uma faculdade da vontade. Amar a Deus é dar-se a ele e deixar-se guiar por ele. Tal amor tem origem no amor que Deus devota à humanidade. Sobre este amor está assentado todo o ensinamento de Cristo e da Igreja e ele nos leva a realizar a vontade de Deus. O cristão progride no propósito de amar a Deus quando se deixa envolver pelo amor do Salvador. Jesus é o maior exemplo do amor de Deus por nós, por isso o amamos e temos vida neste amor. Francisco crê que temos uma inclinação natural para amar a Deus sobre todas as coisas e que há uma conveniência entre o homem e Deus, Deus e o homem, mas precisamos da graça celeste e da santa caridade para amar a Deus como convém.
Uma vez tendo o amor, o cristão progride pelo caminho das virtudes teologais, Fé Esperança e Caridade. O amor de Deus possui dois movimentos: o de complacência (um prazer em amar) e o de benevolência (o bem que se quer fazer à pessoa amada); e dois tipos de exercícios: afetivos e efetivos. Por meio dos afetivos amamos a Deus e o que ele ama. Por meio dos efetivos servimos a Deus e fazemos o que ele ordena. Se preferimos dar nosso amor em primeiro lugar a outro que não Deus, o podemos perder.
O cristão é chamado a progredir e se aperfeiçoar no amor de Deus por meio dos exercícios espirituais como a oração, a meditação e contemplação; por meio de obras como ajudar os necessitados, praticar a paciência, fazer todas as coisas com amor, etc.; e pelo recebimento dos Sacramentos, principalmente da Confissão e Eucaristia. Seu aperfeiçoamento se percebe de distintas formas: primeiro amamos a Deus nas consolações; depois, amamos a vontade divina nos seus mandamentos, nos conselhos e inspirações; por fim, amamos os sofrimentos e tribulações por amor de Deus. Este é o mais elevado grau de caridade.  Outra forma de progredir é conhecer a Deus. Tal conhecimento se dá pelos exercícios da oração, meditação e contemplação. Enfim, o amor divino cresce na vida do cristão à medida que esse corresponde à graça de Deus. Mas a busca do aperfeiçoamento do amor a Deus se dá pela prática de amá-lo em tudo, principalmente no próximo. Amar a Deus e amar o próximo são a mesma coisa, pois o ser humano é a imagem de Deus.
Padre Nildo Moura de Melo, OSFS




[1] BENTO XVI. Catequese sobre São Francisco de Sales, 2011.
[2] TAD – Abreviatura de Tratado do Amor de Deus.
[3] RAVIER, André. Uma iniciação à leitura do Tratado do Amor de Deus de São Francisco de Sales. São Paulo: [s.n.], 2000.

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