Deixe perfume, não deixe espinhos

A vida é como um jardim e nós somos os jardineiros. O jardim não é nosso, mas Aquele que o constituiu, confiou-nos a nós. O bom jardineiro ama seu ofício. Sua alegria é semear beleza, espalhar perfume, cultivar histórias. Ele harmoniza contrastes, pareia similares, equilibra forças, purifica solos, enxerta fragilidades e sacia sedes.

Bem sabe o jardineiro das múltiplas espécies de seu jardim. E sabe o tempo, o dom e as dificuldades de cada uma. Não teme sujar-se por elas, afinal, interessa-lhe a beleza delas mais que a sua. Seus mais belos cantos e os pensamentos mais profundos são compartilhados com elas. É como se fossem amigas do peito, de uma confidencialidade ímpar e de uma empatia inigualável. Entre elas o jardineiro é livre e inteiro, é aquilo que é, sem querer ser diferente.

É missão do jardineiro não só cultivar as flores, como também, dar-lhes um final para além da ordem natural. É como se ele tivesse sido escolhido para fazer das flores mensageiras de algo bem maior que o ciclo normal de sua existência: fazê-las arautos de alegria, de conforto, de encanto e de amor.

O jardineiro é sempre cuidadoso, porque, dentre tantas coisas, sabe que pode ser o portador de uma bênção ou de uma praga. Mas há também o jardineiro descuidado que já levou coisas que prejudicam seu jardim. Há o jardineiro que aprendeu a deixar o perfume de suas flores por onde passa. E há aquele outro que, desapercebido ou ferido, deixou espinhos.

Você, jardineiro de canteiros ainda a serem desvendados, deixe perfume e não espinhos por onde passar. Não importa quando passar, nem o tempo que permanecer: deixe perfume e não espinhos. Seja portador de bênção.

Há quem não goste de algumas flores por causa de seus espinhos. Há quem não goste da vida por causa do que fizeram em sua história. O contrário também existe: muitos só insistem em sua vida porque alguém lhes deixou perfume. Foi um jardineiro que passou com suas flores. Passou... mas deixou perfume. E este perfume recordou esperança. E a esperança foi tudo o que era preciso para continuar.

Você, jardineiro de canteiros ainda a serem desvendados, deixe perfume por onde passar. Os espinhos, enterre. Também eles, sob a força do chão da humildade (húmus: terra), férteis hãde se tornar. Deixe perfume, não deixe espinhos por onde passar.

Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS.

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