Para a mágoa o perdão.

Existem sentimentos que não contribuem para a nossa felicidade. A mágoa é um deles. Num primeiro momento ela é sinal de que algo em nós foi tocado agressivamente. Depois disso, só envenena.

A mágoa tem companheiro, o rancor. Eles surgem de um mal que o outro nos fez. Aconteceu em hora, dia e lugar que bem sabemos. Ficou a mágoa. Ela cumpre a missão de produzi-lo e reproduzi-lo devastando nossa paz interior - "Alguém falou mal de mim, me prejudicou, mas eu o faço falar a mim toda vez que me recordo deste ato infeliz, sou ferido embora o fato já passou". 
Sim, é um mal que outro nos fez e que nos fazemos todo dia, pois quem sofre é quem alimenta esse ressentimento. A mágoa é morta em si. E como todo alimento estragado, envenena, prende e arma para o mal. Se paramos para pensar não duvidaremos muito: mágoa e rancor são males que, num segundo momento, nós deixamos crescer em nós.

Em contra partida à mágoa existe o perdão. Se colocarmos o perdão e a mágoa lado a lado, veremos que o perdão nada mais é do que o verdadeiro domínio de si que leva a ser livre de todo e qualquer mal. Com os passos que damos, tornamo-nos donos de nós mesmos e delimitamos o que aceitar, fazendo com que a pessoa maldosa seja improdutiva e sejam vãs todas as suas atitudes contrárias ao amor e à pessoa que somos.

Com o perdão fazemos do nosso coração um solo árido e infértil para a mágoa e o rancor, e produtivo para as boas virtudes, inclusive para a habitação do Espírito Santo, que é sopro de vida e água restauradora que nos sacia, pão que nos alimenta e fortifica.

         A mágoa nos magoa, porque quem nos fere se vai, mas nós ficamos com ela. Não pode ser partilhada porque só gera dor – a mágoa só pode ser partilhada se tiver em busca de reconciliação, de perdão, caso contrário ela é uma engrenagem que gira, gira e move todo dia conduzindo a um profundo abismo onde nada tem sentido, pois afasta do amor.

Com mágoa procuramos ver somente o mal. Ela acaba dando valor à uma dignidade ferida. A mágoa, o ressentimento, o rancor e os sentimentos a eles ligados, nos desumanizam.

Assim como para as feridas se receita o remédio, para a fome o alimento, para a mágoa há o perdão. Sim, precisamos perdoar. Não é fácil, porém, com ele podemos perceber muito melhor as belezas da vida, já que ele nos liberta permitindo vivenciar todos os outros bons lados da vida.