A incógnita do antes e do depois


Nós chegamos e sairemos deste mundo abraçados à incógnita do antes e do depois: estou a intuir isto. Antes que existíssemos, que sabedoria plasmou nossas vidas? E quando morrermos, qual o destino daquilo que encontramos em nós e identificamos como a coisa “mais nossa” em nós mesmos? Por mais que esmiúce os detalhes do mundo vou repousar mesmo é nos braços da fé. Ela me indica os rastros Daquele que não pude ver, e neles encontro o sentido das atitudes para cada momento.
Atitudes: é disto que se constitui a história. Atitudes não são o antes nem o depois, mas o agora, o durante, o acontecendo. Motivadas por milhares de sentimentos e de convicções, elas tendem à felicidade ou, no mínimo, à fosca imagem que dela se tenha. Felicidade talvez seja a palavra que a humanidade mais desejaria pronunciar simultaneamente com Deus. Entendo o falar de Deus como um eficiente fiat (faça-se)!
Não há felicidade sem o amor. Por mais que queiramos não poderemos fugir a esta regra. Deus, que é amor e se fez amor humano na humanidade amorosa de Jesus, deu-nos como sua mais genuína herança esta marca, afim de que nos humanizássemos em comunhão e chegássemos ao céu não por escadas aquém, mas por nossa natureza marcada pela saudade da paz e do bem. “Ama e faz o que quiseres” dizia Santo Agostinho aludindo à capacidade do amor verdadeiro filtrar o bem do mal e ter uma retidão implícita e veemente. O amor é a regra de vida mais citada em toda humanidade e de sua eficiência não se duvida. Peremptoriamente, ele torna o ser humano mais gente e o faz altaneiro sem deixá-lo altivo, ou seja, convida-o para o mais alto que possa chegar, mas não o permite sentir-se mais elevado que os demais.
O amor é serviço, oblação, júbilo, simplicidade, gratuidade, paz, bem, luz e aconchego. É a escola dos descontentes. Quem não se contenta com o mundo que se mostra aí, entra na escola do amor para aprender o construir um mundo novo. Nele não há processo seletivo: basta agir feito um imã, deixando-se atrair pelas situações em que só o amor pode fazer a diferença. Sejamos como sejamos e estejamos da forma que estejamos: amar é necessário. E para ele não há desculpas. Olhe os testemunhos da história e isto lhe saltará à compreensão. O amor é para todos e em todos pode fazer o que parece antagônico. Não lhe é próprio excluir. Mesmo sentindo-se fraco, pequeno, incapaz, avulso, não atraído ou até repugnado, pode-se configurar nele.
De fato, o amor não foi feito só para gente grande, mas para nos ajudar a crescer; não é coisa de fracos, embora sempre nos fortaleça; não é só para os perfeitos, mesmo que não haja perfeição sem ele. O amor não é exclusividade de alguém, nem propriedade de outro, é acontecimento; não é só paixão ou só heroicidade; não é loucura, mas casou-se com ela; não é mistério, entretanto ninguém o conhece por inteiro. O amor é a nossa vida. E a nossa vida é o que procuramos definir a cada momento.
A incógnita do antes e do depois se ofusca quando a vida está envolvida pelo amor. Aqui entendemos porque São Paulo descreve a fé e a esperança como grandes virtudes, mas sobre elas evidencia o amor, a caridade. Quem ama se preocupa com os amados. Assim, o início e o fim passam a ser secundário e o mistério se reveste de uma companhia para além de nossa compreensão e de nossas descrições. Se encontro sentido em Deus para cada atitude cotidiana, é o amor quem me concede este sentido. Ninguém ou nada mais.
Olho para o que existiu antes e não o vejo. Então concluo que houve amor. Miro o destino de minha vida fora daqui e, mais uma vez, nada vejo. Poderia me desesperar, mas não, creio que há amor de novo. Não quero ser mal agradecido com o “antes de mim”, nem chegar de mãos vazias no “depois daqui”. Prestarei minha gratidão através do amor que me é possível dedicar aos que encontro e preencherei meu coração com este mesmo amor, a fim de entregá-lo adornado por esta coroa ao Amor Eterno que me acolherá. Direi-lhe: “sei que é pequena e frágil, mas nela está o esforço de um homem que não se contentou com o ódio do mundo e acreditou na força do dom sublime. Aqui está minha gratidão e minha esperança”.  E será sublime se ele me der um sorriso e de pois um abraço...

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