Uma moral baseada no amor. Francisco de Sales e a Filotéia - Espiritualidade Salesiana
Estamos vivendo um tempo único na existência da
humanidade. Nossos antepassados nem sonharam com os avanços em tecnologia,
conhecimento e progresso que temos. De alguma forma, os homens do novo milênio
estão testemunhando um novo modo de existir e se relacionar com tudo o que
existe e que é possível existir. Esta contemporaneidade com a época mais
globalizada da história, onde se chegou ao auge da ciência e da tecnologia, traz benefícios irrenunciáveis
e, ao mesmo tempo, questões de grande peso para serem refletidas.
A maioria de tais questões toca o campo da ética e
da moral. É assim pelo fato de o próprio ser humano ser agente e destinatário
de tudo o que alcançou. Em nome do progresso correm-se riscos muito grandes. Cada
vez mais a sociedade mostra-se sensível as mudanças da época e busca uma
resposta que seja adequada ao valor da vida, às vantagens do progresso em todas
as áreas e ao presente e futuro da humanidade e do planeta.
No campo da Teologia, pensa-se a Moral recorrendo a
Sagrada Escritura, a tradição cristã e a interpretação atual do magistério da
Igreja. A Teologia Moral pensa o aspecto sagrado da vida e das relações humanas
entre si e com a criação. Mais do que nunca, tem-se mostrado uma ciência atual.
É convocada a participar das discussões da sociedade em questões como: aborto,
eutanásia, utilização de células tronco embrionárias, relações homossexuais,
intervenções no meio ambiente, atitudes religiosas extremas e até mesmo,
conduta política dos líderes das nações.
Conforme L. Boff (2003, p. 31). “A moral é
parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por
costumes, hábitos e valores aceitos”. É esta uma das mais acertadas definições
contemporâneas de moral, mas não é a única. Nossa história nos legou muitas outras definições. Não podemos negar, também, que a posição de cada pessoa ajuda-a, quando não a condiciona, no pensamento moral. Agora, pois, queremos reportar-nos ao século XVII. Em 1609, um bispo da França, Francisco de Sales, surpreendeu o mundo com uma obra simples de espiritualidade e com aspecto moral prático e sensível á realidade das pessoas. Nem sempre de acordo com o pensamento moral da época, Francisco iluminou o pensamento moral da Igreja, com certeza, uma inspiração para nossos dias. São Francisco de Sales
escreve um guia espiritual para a vida prática de cda cristão ou cristã. E
nesta obra a moral está apresentada com suavidade e firmeza. Francisco com a Filotéia se torna um plasmador de
consciências. Dirige o pensar e o agir das pessoas dentro de uma conduta
cristã.
A
novidade de sua moral é o fato de estar fundamentada no amor. No amor de Deus
que quer o bem de seus filhos e no amor da pessoa que é chamada a corresponder
com boas obras ao grande amor de Deus. A Filotéia
é um livro para a vida concreta, para o homem concreto. Visa suas práticas e as
intenções de cada prática. Revê e resignifica os hábitos e valores que a fé
católica apresentava, bem como a sociedade em que vivia.
Distância-sai
se dos manuais comuns de moral para apresentar, com imagens da natureza, um
caminho de equilíbrio e sensatez em todas as práticas da vida cristã. Não
condena o mundo, mas recorda aos cristão que em primeiro lugar está Deus, que
primeiro nos amou e a quem em primeiro e acima de tudo devemos amar.
O
amor é como a nota inicial que dá o tom par toda a orquestra do agir moral e
religiosa da vida da filotéia, a alma que é amiga de Deus. Sim, Deus não é
inimigo das pessoas. Pelo contrário, aceita amizade de cada qual e, antes, a
deseja. Então todas as transgressões que o homem realiza, encontra na
misericórdia de Deus, o conforto e o ânimo para o caminho da perfeição, da
devoção. “As nossas misérias são o trono da misericórdia de Deus”, afirmará
ele. Assim, a pessoa não se distância de Deus, mas aproxima-se dele para tornar
afinada a execução da sinfonia de sua vida.
Francisco
de Sales fica na história como o santo da vida concreta. No campo da moral,
como o guia que antes de tudo, reconhece o ser humano em processo de santificação; depois, a graça de Deus que vem ao
encontro deste ser humano; e, por fim, um otimismo para com o ser humano, uma
confiança de que este está inclinado ao bem, por isso precisa apenas de
orientações.
O
amor é o fundamento da moral salesiana expressa na Filotéia ou Introdução à Vida Devota. Nada mais atraente para os
nossos dias poderia ser afirmado! A moral do santo doutor do amor não é uma
moral que afirma só o dever, mas o dever por e no amor. O amor de Deus e o
amor humano. O amor para com Deus e para com as outras pessoas. O amor por Deus
e pelos outros. O amor. Discutir a moral tendo como ponto de partida o amor
pode ser o caminho certo para os nossos dias. Sabemos que este amor não é apenas
um sentimento, mas uma atitude de caridade e serviço à vida.
Por fim, o santo
sutilmente nos questiona: por que somos seres morais e pregamos a moral?; qual
mesmo, o sentido da moral? E responde: conduzir o ser humano a perfeição do
amor. A definição teológica mais bonita de Deus e também a mais verdadeira, com
certeza é aquela que afirma Deus é amor. Se
Deus é amor, a humanidade amiga de Deus
(Filotéia) tem um caminho próprio para ordenar seus costumes, hábitos e
valores: o amor. Eis a razão pela qual a moral de São Francisco de Sales se
fundamenta no amor.
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