Pequena carta a quem sofre a dor da morte


“Não consigo aceitar a morte de quem eu tanto amava. Queria apenas um minuto para lhe dar um beijo demorado e lhe dizer que a amo mais do que tudo nesta vida. Se pudesse, faria tudo diferente só para tê-la comigo novamente.”

A morte é o maior paradoxo da existência humana, é a intrusa mais indesejável e inevitável que conhecemos. Não conversa, não avisa, não pede licença, não se desculpa. Simplesmente leva. E nos deixa um grande vazio. Instaura escuridão e dor onde havia alegria e amor.
A força para ser feliz depois da morte de alguém não vem de nós mesmos. Vem de Deus e de quem nos estende a mão. O Espírito Santo é Consolador. O amor das pessoas também. Por isso, é preciso acolhê-los. Na dor da morte, acolher o amor que é vivo.
Se você sofre a falta de quem foi, procure a presença de quem ficou. Em cada abraço, em cada palavra pode habitar a força que se precisa.
A morte já é cruel demais ao levar pessoas que amamos. Não podemos deixá-la levar as coisas boas que nos deixaram.
Sim, não permita que a alegria, os feitos e os sonhos sejam roubados pela dor da saudade, mas que sejam fortalecidos pela fé na presença de Deus, que torna presente quem se foi.
Como a pessoa pela qual você chora gostava de lhe ver? Sorrindo, lutando por seus sonhos, cuidando dos seus, não é?
Então, por que você não está agindo assim? 
Porque não tenho forças.
A força se descobre na batalha. Ela não vem pronta. Creia-me: o amor é poderoso. Ame quem morreu mesmo que não esteja diante de ti. Ame-o com suas atitudes. E ele receberá este amor em muito maior proporção do que pode imaginar.
Deus não ignora seu amor e não o deixa se perder no acaso.
A morte pode romper com tudo, mas não pode romper com o amor.
Em Deus quem partiu recebe nosso amor e ama-nos ainda mais perfeitamente. 
Não! Não peço para você se conformar com a morte. Só peço para não perder a forma da vida.
Não insisto para que pare de chorar, mas peço que seu choro não lhe faça parar.
Não ignoro sua dor, mas suplico que a sua dor não te leve a ignorar estes conselhos.
Sabe aquele beijo, aquele abraço, aquele “eu te amo” que não foi possível concretizar ou que desejaria pelo menos mais uma vez? Não o esqueça. Guarde-o para a eternidade. Mas não o guarde mesquinhamente. Guarde-o solidariamente.
Como?
Abrace quem não é abraçado, beije quem não é beijado, diga “eu te amo” a quem já duvida do amor. A morte já fechou os olhos de quem você amava, não a deixe fechar os seus.
Sabe aquele idoso que mora sozinho? Sabe aquela pessoa que mora com você e que você não tem valorizado como ela merece? Sabe aquele doente no hospital? Todos eles teriam a vida transformada se você transformasse a sua dor em missão. Abra seus olhos. Pense com carinho nisso tudo.
Você não está vivendo para sofrer. Faça sorrir quem está no céu ao sorrir na terra e fazer sorrir quem teria motivos para chorar. Entra para valer na escola do amor e aprenda as lições que ele ensina. Quem sabe, poderemos ouvir de sua boca: 

“Eu não consigo me conformar com a morte de quem eu tanto amo, mas me conforto no amor do qual sou capaz de cultivar. Sim, me faz muita falta, mas não deixo faltar a alegria que ele amava ver em mim. Se eu pudesse, faria tudo diferente só para tê-lo comigo novamente. Como não posso, vou até ele através de Deus. Também gostaria de ter, pelo menos, um minuto com ele, a fim de poder lhe dar um beijo demorado e lhe dizer que a amo mais do que tudo nessa vida. Sei que isto não é possível. Mas, olho para frente e espero o dia em que o será. Não, não quero chegar lá despreparado. Assim vou manifestando este carinho a toda pessoa. O amor aqui é a preparação para a festa do nosso reencontro. Não substitui você, meu amado, mas alimenta o verdadeiro amor, o amor gratuito, o amor que aprendi ao seu lado”.

Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS

Comentários

  1. Obrigada por esta carta, sábias palavras, vou tentar por em prática o que você nos fala. Eu perdi o meu esposo, o meu amor e companheiro ha 39 dias, uns dias não choro, mais em outros toda a tristeza do mundo cai em meus ombros e em meus olhos, sinto muita falta dele, tentarei fazer com que ele fique feliz procurando ser feliz para que Deus no dia que Ele me chamar eu fique junto com o meu amado esposo.

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